Todos sabemos que os japoneses são viciados em jogos de vídeo. Muitos professores nipónicos, à semelhança de muitos europeus, têm vindo a aproveitar esse hábito para pôr os alunos a estudar. São já várias as escolas que usam consolas portáteis como um instrumento de estudo de inglês e de matemática. Este é apenas o primeiro passo para uma renovação do sistema educativo nipónico que pretende tornar o ensino mais envolvente.

Uma renovação que muitos encaram com uma revolução educativa. No Reino Unido, em abril de 2017, a King Solomon Academy tornou pública a intenção de proibir os alunos de levar consolas e jogos de vídeo para a escola por considerar que os alunos se distraem e ficam cansados depois de passar muitas horas a jogar. «Passar muitas horas em frente a um ecrã tem consequências a prazo», defende a psicóloga Gaëlle Salakenos.

«A internet e os jogos podem dar-lhes um alívio emocional, servindo de escapatória mental», justifica. «Os jogos com recurso a ecrã - offline e online - vieram colocar as crianças e os jovens mais dentro de casa, na sala ou isolados no seu quarto», sublinha também a psicóloga e terapeuta familiar Ivone Patrão, que aborda o tema no livro «#GeraçãoCordão - A geração que nunca desliga!», publicado pela editora Pactor.

O verdadeiro problema

Embora o assunto tenha vindo a ser alvo de discussão ao longo dos anos, não existem estudos científicos que comprovem que um mau aproveitamento escolar é consequência direta do uso de consolas nas escolas. «A utilização da internet e dos jogos não é um problema. O que é problemático é o uso excessivo [que as crianças fazem e que as isola] e os problemas subjacentes [que o mesmo pode gerar]», adverte Gaëlle Salakenos.

Em Portugal, a questão também tem sido debatida, ainda que em muitos casos muito timidamente, mais centrada na generalidade das tecnologias de informação e comunicação (TIC) do que apenas nas consolas. «O cenário mais comum será o da diversidade de utilização das TIC nas escolas. Há relatos de alunos, pais e professores sobre o uso deste instrumento de forma regular», afirma Ivone Patrão.

O exemplo que vem da Austrália

A especialista realça «a sua importância enquanto ferramenta essencial» mas aponta falhas. «Não há, nas escolas, uma coerência quanto ao uso das TIC. Existem diferenças dentro da mesma escola e até nas aulas de um mesmo professor consoante a turma e o ano letivo», critica a psicóloga e terapeuta familiar. Em muitos países, essa integração tem sido (bem) feita e as consolas e os jogos são usados regularmente.

Segundo o relatório «2018 Digital Australia», metade das crianças australianas em idade escolar usa jogos de vídeo nas salas de aula para potenciar a aprendizagem e a própria interação social. Em 2015, esse número não ia além de um terço. Muitos professores consideram que títulos como «Clash of the clans» e «Ingress» ajudam a reforçar laços comunicacionais e a melhorar as aptidões para trabalhar em equipa.

De acordo com o jornal The Sidney Morning Herald, alguns chegaram a tirar partido do jogo «Pokémon Go» para ir com as crianças para a rua ensinar-lhes botânica e geografia ao vivo. «Cerca de 70% dos pais acredita que os jogos de vídeo podem ser eficazes para ajudar os estudantes a ter [mais] atenção e 62% estão convencidos que podem contribuir para que as escolas se mantenham relevantes», refere ainda a publicação.

Texto: Luis Batista Gonçalves