O conceito de (boa) saúde é constituído por muitas variáveis, e pode ser influenciado por inúmeros fatores externos, mas, sem dúvida, que a alimentação tem um papel de grande importância na caminhada para termos uma vida saudável e também para a manter.

Mesmo antes de nascer, ainda dentro da barriga, os embriões (e mais tarde fetos) recebem os nutrientes necessários através da mãe, para que ao nascer já sejam bebés capazes de sobreviver e continuar o seu processo de crescimento.

A partir desse dia, começam a receber a alimentação de outra forma, através da boca. Começa então a grande aventura que se prolonga por toda a vida: experimentar alimentos, diferenciá-los, selecioná-los, saboreá-los, e tirar deles o que têm de melhor para nos dar, e consequentemente, ajudar na manutenção do nosso bem-estar e saúde.

Reconhece-se, hoje, que uma alimentação saudável durante a infância é duplamente benéfica, pois se por um lado facilita o desenvolvimento intelectual e crescimento adequado para a idade, por outro, previne uma série de patologias relacionadas com uma alimentação incorreta e desequilibrada, como a anemia, obesidade, desnutrição, cárie dentária, atraso de crescimento, entre outras (Rego et al., 2004).

Compreende-se, portanto, a importância do papel da família como modelador de comportamento e construtor de boas práticas alimentares nas crianças, principalmente na idade da primeira infância (0-6 anos), idade em que as escolhas dos pequeninos podem e devem ser reguladas pelos pais/cuidadores/educadores.

De acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), não existe no Mundo melhor alimento que o leite materno, pelo que a amamentação em exclusivo tem de ser incentivada e apoiada, até aos 6 meses de vida do bebé e daí em diante, até aos 2 anos, deve ser mantida, acompanhada/complementada por outros alimentos, sem a adição de sal ou açúcar, sem ser os naturalmente presentes nos alimentos.

Quando chega então a altura de o bebé iniciar a diversificação alimentar, existe uma grande preocupação com a introdução dos alimentos (legumes, frutas, proteínas), procurando que as quantidades oferecidas sejam as adequadas, que a diversidade seja a maior possível e a qualidade do alimento a melhor que podemos dar.

Nessa altura da vida dos bebés, a família pode contar com a ajuda e orientação dos profissionais de saúde, que nas consultas do bebé vão dando informação sobre as próximas etapas do desenvolvimento e sobre a forma como a alimentação deve acompanhar esse mesmo desenvolvimento.

Quando a criança inicia a creche/ jardim de infância, o papel da família continua a ser preponderante, mas a escola tem igualmente de se posicionar como bom exemplo e ser promotora de boas práticas, adotando medidas simples como redução de açúcares nas refeições (optando por papas feitas na creche e não de compra, aumentando a oferta de fruta e legumes nas refeições principais e fora delas, privilegiando os alimentos da época, etc.).

Com o crescimento da criança não devem diminuir as preocupações, pelo contrário, no entanto, é fundamental que a família se coloque ao lado da criança nas boas escolhas e seja o modelo, e não apenas o adulto que quer que a criança coma o melhor possível, mas não segue a mesma linha. Os pais serão sempre os primeiros e principais educadores das crianças, nunca se podendo destituir desse papel nem o passar a terceiros.

Alguns estudos têm-se debruçado sobre as implicações do estilo alimentar familiar no comportamento alimentar dos filhos, no entanto a identificação das bases que suportam as decisões dos pais para a prática da alimentação diária têm sido pouco estudadas. Os determinantes ambientais são complexos e incluem desde a disponibilidade dos próprios alimentos, a fatores culturais e económicos. Contudo, em relação a estes, alguns estudos têm mostrado que o acesso a maiores recursos financeiros, podendo aumentar o poder de escolha, não se revela sinónimo de uma alimentação de melhor qualidade (EUFIC, 2005).

Este resultado parece indicar que o que precisamos ter em maior abundância é mesmo o tempo para refletir e fazer boas escolhas para nós e para os nossos filhos.

O que fazer quando a criança recusa o alimento

Não gostamos de tudo. Não temos de gostar de tudo. Mas é normal a criança recusar o que não conhece, ou mesmo rejeitar um alimento que já tinha introduzido e gostado. Nestas fases normais do desenvolvimento devemos continuar a oferecer o alimento, mesmo que a criança o rejeite. Podemos encontrar novas formas de o cozinhar, de o apresentar à criança, para que se sinta mais impelida a experimentar, podemos incluir a criança na tarefa de cozinhar, para que mexa nos alimentos crus, e colocar os alimentos na mesa para toda a família partilhar a refeição.

A fase de recusa alimentar pode acontecer em algumas crianças, noutras pode nem se revelar. No entanto, é mais frequente depois da fase da introdução dos alimentos, ou seja, quando já tem mais de 2 anos, já come alimentos sólidos e começa a ser autónoma na alimentação. Nesta fase a criança já definiu o que “gosta” e o que “não gosta” e afirma-o perentoriamente. O adulto pode tentar contornar com as estratégias acima e sobretudo acrescentar sabor e vivacidade ao prato.

Uma pizza com base de brócolos parece ser uma boa opção para quem afirma que não gosta deles, ou uns muffins de vegetais cheios de sabor e bons ingredientes. Há que ser criativo para fugir às recusas. A paciência é outra qualidade importantíssima quando se tem uma criança que passa por uma fase assim, mas o tempo é o melhor ajudante nestas situações. Manter o foco no positivo, encorajar a criança e valorizar os seus esforços vai contribuir para o sucesso de toda a família neste processo.

Lutar contra o Marketing

As campanhas de marketing não são grandes aliadas das famílias. Alguns alimentos sem grande interesse nutricional e por vezes até prejudiciais à saúde, direcionados ao público mais pequenino, têm campanhas de venda fortíssimas, que fazem com que as crianças os peçam, muitas vezes não apenas para os consumir, mas para receber o “brinde/brinquedo” que trazem em anexo. É necessária uma grande ginástica argumental do adulto e mais uma vez paciência para resistir aos avanços da criança.

Na falta de legislação que regule este tipo de campanhas direcionadas a crianças (que pela sua imaturidade natural da idade, não sabem fazer escolhas tendo em conta a qualidade/ingredientes do que consomem), tem se ser mais uma vez o adulto a exercer o seu papel de pai/mãe/cuidador/educador e dizer não.

Nem sempre nem nunca, mas por regra, consumir alimentos pobres, que podem vir a causar problemas de saúde no futuro, NÃO.

Dicas saudáveis (Associação Portuguesa de Nutricionistas)

- Iniciar o almoço e o jantar da família com sopa;
- Comer fruta e vegetais frescos todos os dias, são ricos em vitaminas e minerais;
- Variar entre carne e peixe;
- Consumir regularmente leguminosas;
- Incluir alguns laticínios na alimentação diária (iogurtes e leites não açucarados);
- Reduzir o consumo de alimentos açucarados, ricos em gordura e de baixo valor nutricional, pois têm um valor energético elevado e são pobres em micronutrientes, contribuindo em grande escala para o aumento da ingestão das calorias diárias e, consequentemente, do peso corporal.
- Privilegiar sempre o consumo de água ao longo do dia, evitando sumos, mesmo naturais;
- Iniciar a ingestão de sal e açúcar o mais tarde possível no crescimento da criança.

Um pequeno-almoço diferente

Quem não gosta de panquecas? Fica uma sugestão para uma refeição diferente, sem deixar de ser saudável.
Pode ser o pequeno almoço da família toda para amanhã!

PANQUECAS 2-2-2
- 2 ovos
- 2 colheres de sopa de iogurte natural
- 2 colheres de sopa de polvilho doce ou fécula de batata

PREPARAÇÃO
Misturar os ingredientes com a varinha mágica, aquecer uma frigideira untada com azeite/manteiga/óleo de coco e colocar pequenas porções da massa. Deixar cozinhar em lume baixo, de preferência com a tampa. Virar e deixar cozinhar mais uns segundos.
Servir regada com um fio de mel e fruta a gosto.
Por Andreia Ferreira, Coordenadora da Creche Geração na Fundação AFID Diferença

Receita Panquecas (fonte: https://temperosdaargaspaleo.wordpress.com)