Eu sempre estudei em escolas públicas e, modéstia à parte, acho que ganhei muito com isso. Os meus filhos tiveram uma curta passagem pelo ensino privado, naquelas idades em que conseguir vaga num jardim-de-infância oficial parece tão difícil quanto acertar na lotaria, mas, mal pude, coloquei-os em escolas públicas.
Talvez tenha sido uma questão de sorte, mas, em oito anos, só tive um problema com os professores e as escolas dos miúdos. Tirando essa ocorrência, tem sido no entanto regra, todos os anos, a mesma aparente inevitabilidade: a falta de professores.
Ontem estive com um diretor de um agrupamento escolar que me disse que, em quase duas décadas de profissão, nunca acompanhou um ano letivo que iniciasse com todos os professores colocados nas suas escolas. Ora, sabendo-se que, em Agosto, foram 17.862 os professores do ensino secundário e superior que se inscreveram num centro de emprego do país, eu pergunto-me como é que esta situação é possível. A simples lei da oferta e da procura seria suficiente para, em curtas linhas, questionarmos esta falha logística que compromete a vida de milhões de portugueses.
Há dois anos letivos, uma das minhas filhas esteve praticamente um trimestre inteiro sem uma disciplina que, sendo a de matemática, é uma daquelas que tanto se reforça como essencial no ensino e, consequentemente, no desempenho de toda a nossa vida profissional. Este ano, os meus filhos mais novos não têm ainda professor, nem existe previsão da sua colocação.
E isto levanta-me uma questão: para além da ineficiência da contratação de professores; para além dos atrasos que isto pode representar no ritmo de aprendizagem do programa que é suposto lecionar-se, o que é que os pais fazem com os filhos que, durante semanas, podem ficar impedidos de ir à escola? Porque há estabelecimentos de ensino que não têm em atividade o ATL ou a componente de apoio à família e outros que têm as vagas totalmente preenchidas. E então? Pagamos uma baby-sitter ou um ATL privado? Pomos baixa no emprego? Despedimo-nos?
Surpreendo-me ainda com as declarações oficiais que justificam esta situação. Há dias, a Secretaria de Estado do Ensino e Administração Escolar comunicou que “são “residuais” as turmas com falta de professores e que, no primeiro dia de aulas, seriam cerca de 1000 os horários por preencher. Ora, eu não entendo como é que 1000 horários por preencher pode ser tão displicentemente designado de “residual”.
(Mas também é verdade que, como comecei por dizer, sempre estudei no ensino público. Se calhar, também me faltou algum professor de matemática que me deixou este défice de raciocínio.)
Até que este país à beira-mar plantado consiga instituir nas entidades públicas o rigor que nos impõe no cumprimento das nossas obrigações fiscais, continuaremos assim: com supostos problemas residuais e com soluções duvidosas que, lá está, vão dando cada vez mais motivos para que os pais “que podem” procurem a segurança e efetividade do ensino privado.
Alda Benamor
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