Aos 22 anos, Tiago Bandeira decidiu vencer o medo e a timidez e concretizar o grande sonho da sua vida: começar uma carreira no mundo da música.
Consciente do peso do nome que traz na bagagem, por ser filho do conceituado Rui Bandeira e irmão da talentosa Bárbara Bandeira, o jovem cantor diz-se preparado para críticas e comparações e pronto a provar que é o talento (e não o nome) a sua maior arma.
Dias depois de lançar o seu primeiro single, Tiago Bandeira conta em entrevista ao Fama Ao Minuto o que poucos sabem sobre a sua história.
Acabas de lançar o teu primeiro single e desta forma entras no mundo da música. Começo por te perguntar, porquê agora?
A música já me acompanhava há muito tempo, sempre foi um desejo. Durante muito tempo coloquei barreiras e limites dentro de mim que não existiam, existiam só na minha cabeça, acabei por adiar bastante. Esses nós que se atavam em mim vieram a ser desfeitos quando decidi escrever esta música. Foi o primeiro tema que escrevi, e não tinha intenção de o lançar. Foi algo muito natural, simplesmente fui para o piano e escrevi, e quando comecei a mostrar, com muita timidez, percebi que as pessoas estavam a gostar e que todos aqueles nós que tinha na minha cabeça eram apenas meus. Pensei: talvez seja a hora de arriscar e viver aquilo que quero sem medos.
Dizes que, usando palavras tuas, durante muito tempo tiveste "receio de abraçar os teus sonhos", que receios eram esses?
Vejo muito a minha vida em duas fases. Vivi no Brasil durante seis/sete anos com a minha mãe e quando fui para lá, tinha uns 12 anos, era uma criança muito extrovertida mas sinto que, a partir do momento em que fui, houve um choque de realidade. Sempre quis muito ir para o Brasil, porque conhecia e adorava, tinha familiares lá, mas quando fui criei uma barreira e uma timidez grande. Foi a partir daí que esses 'bichinhos' começaram a aparecer na minha cabeça e acabei por ter medo de desenvolver algo que amava fazer.
Muitas pessoas acham que isso devido à pressão da família, do peso do nome, mas não tem absolutamente nada a ver com isso. Isso é algo com o qual sei que tenho de lidar, e lido muito bem. Graças a Deus tenho uma família que me dá muito suporte psicológico em relação a isso.
Tenho consciência do peso que o nome tem e de tudo o que isso carrega, da pressão que podem vir a fazer em cima de mim
Sentiste que no Brasil estavas fora da tua zona de conforto?
É um país que amo, que adoro. Adorei viver no Brasil, só que, de alguma maneira, sinto que em Portugal o meu dia a dia, a minha maneira de me conectar com as pessoas é muito mais fluida.
Já me falaste no peso do nome da família, por teres o teu pai, Rui Bandeira, e a tua irmã, Bárbara Bandeira, no mundo da música. Não sentes mesmo esse peso?
Não. Tenho consciência do peso que o nome tem e de tudo o que isso carrega, da pressão que podem vir a fazer em cima de mim para que desenvolva um bom trabalho por ter duas pessoas que já estão no patamar onde estão. O meu pai com mais de 20 anos de carreira e a minha irmã com a carreira brilhante que está a ter. Sei que há um peso em relação a isso e uma certa cobrança da parte do público, mas também sei que o meu caminho é individual e estou a fazer tudo por mim. Fui eu que escrevi a música, fui eu que fiz tudo... e estou a tentar ser o mais fiel a mim e ao que sou. Se as pessoas gostarem fico muito feliz por isso, se não gostarem há muitos cantores que se vão identificar. O essencial para mim é ser verdadeiro comigo e tudo o que vier a mais que isso é um acréscimo.
A minha família achava que eu não ia seguir a música
Lembro-me que ainda muito pequenina a tua irmã participou no programa 'Uma Canção Para Ti', na altura o teu pai não queria muito que ela seguisse uma carreira ligada à música.
É uma carreira muito difícil, sobretudo para uma mulher.
Contigo o teu pai teve o mesmo sentimento?
Teve, sim. Um pai, particularmente um pai que sabe como é que funciona este meio e o quão difícil é em todos os aspetos, muito também na parte psicológica, porque às vezes há muito trabalho, outras não há tanto assim, essa insegurança... ele sabe de todas as coisas boas e más que esta profissão traz e obviamente que teve essa preocupação comigo também. Eu já tinha dito que queria ser muita coisa, médico, e outras coisas. Já disse que queria ser tudo e acho que a minha família achava que eu não ia seguir a música, mesmo sabendo da minha paixão. Talvez tenha sido uma surpresa para eles verem que realmente quis mostrar-me e cantar as minhas músicas, a minha verdade, e apresentar-me como artista.
E enquanto não tiveste coragem para abraçares este teu sonho, o que é que andaste a fazer?
Sempre fui uma pessoa que adora artes, desde a música à representação. Tirei cursos de representação e hoje sinto que essa paixão veio toda pela minha vontade de me querer expressar e muitas vezes não o fazer. Sinto que todos os cursos que fiz de representação, mesmo não sendo o que estou a fazer como plano A, são um benefício para mim. Consegui desamarrar muito a minha timidez através de tudo o que aprendi na representação.
Antes de apostar na música a 100% o meu trabalho estava mais voltado para as redes sociais, era a minha fonte de rendimento. E a minha paixão era fazer música dentro de quatro paredes [risos].
Sem dúvida que as redes sociais foram uma escola para mim, hoje consigo ter uma maior facilidade em lidar com a crítica
A tua passagem pelas redes sociais e o teu canal de YouTube prepararam-te para agora conseguires lidar melhor com as críticas?
Sem dúvida. As redes sociais têm coisas muito boas, mas por vezes não são assim tão boas. Todas as pessoas que já estão há algum tempo nas redes sociais, seja que pessoa for, já foram mal interpretadas, já receberam críticas. É algo natural. Desde muito novo que estou nas redes sociais e desde muito novo que tenho de levar com essas críticas de pessoas que, às vezes, nem sequer te querem compreender. Há muitas pessoas nas redes sociais que não têm noção da força que as palavras têm e acabam por dizer coisas que só se as dissessem cara-a-cara conseguiriam ver o efeito das palavras em quem as está a ler. Sem dúvida que as redes sociais foram uma escola para mim, hoje consigo ter uma maior facilidade em lidar com a crítica.
Apesar de estares mais bem preparado para as críticas, não te assusta ver algumas das polémicas e 'ataques' pelos quais a tua irmã já passou? Tens medo de passar pelo mesmo?
Não, não me assusta. Quando sabes o que és e tens pessoas que te conseguem dar um suporte psicológico em relação a isso, porque já passaram por críticas também, acabas por não ter medo. Tenho amigos que me dão um suporto gigantesco e muitos deles passam pelos mesmos problemas, porque também estão expostos. É uma coisa que já vejo com naturalidade, não é algo que goste e que me agrade mas sinto-me preparado para levar com as críticas. Neste momento o meu foco é em desenvolver-me, encontrar-me como artista, focar-me na minha música, os comentários menos bons vão aparecer mas em comparação com o amor que já estou a receber acho que vale a pena. Não é algo que me limite.
Foi um dos meus primeiros desamores
Dizes que queres ainda encontrar o teu caminho no mundo da música, mas se tivesses de te definir neste momento enquanto artista achas que conseguias?
Acho que consigo. Posso começar pelas minhas inspirações e por aquilo que gosto de ouvir, gosto muito de baladas. Tenho noção que a minha voz é frágil, num bom sentido, e consigo encontrar-me bem nas baladas. Quero fazer coisas diferentes também, mas aí já é o ponto em que me vou encontrado em outras áreas. Aquilo que me é natural, tanto na escrita como na composição, são as baladas. A minha definição seria um artista pop, com gosto por músicas mais calminhas, românticas, que falam sobre a minha vida.
Este teu primeiro single, 'Digo Não', fala sobre a tua vida?
Esta música fala completamente sobre a minha vida.
E foi inspirada num desamor, é isso?
Sim, foi um dos meus primeiros desamores. É uma coisa que quero levar para o futuro, é algo que estou a sentir que me faz muito bem, mesmo sem lançar uma música, escrever sobre a minha vida é quase como um porto de abrigo.
Esta música foi feita no fim de um relacionamento. Não é que me tenha sentido enganado... quer dizer, é. Até digo: 'fui cego, iludido, enganado'. É aquela sensação do ponto final definitivo. Foi isso que aconteceu e foi isso que eu quis transmitir.
Como é que está a correr junto do público este teu primeiro single?
Nada como esperava. Aqueles 'bichinhos' na cabeça da timidez ainda ficam e muitas vezes não se espera o melhor feedback por culpa dos medos. O feedback que estou a ter está a ser incrível, só tenho gratidão por todas as pessoas que estão a ouvir a música, a partilhá-la, por todas as mensagens que estou a receber de pessoas que se identificam, que gostam, que até metem a música como despertador de telemóvel, já me disseram isso e achei tão engraçado. Está a ser uma receção incrível, estou a receber muito carinho e, sem dúvida, superou as minhas expetativas.
A Bárbara, o Kasha, o meu pai e a minha mãe têm sido um porto de abrigo, principalmente na parte psicológicaE como é que foi veres a tua irmã lavada em lágrimas a ver o teu videoclipe?
[Risos] Olha, foi muito, muito emotivo. Assim que vi os stories, nem consegui acabar de os ver, liguei-lhe logo. Já estava com os olhos também em lágrimas, estivemos a conversar e foi muito bonito. Já nos tínhamos emocionado antes em conversas que tivemos, toca-me muito no coração ver que ela tem orgulho em mim, tal como tenho orgulho nela.
A Bárbara e o Kasha [namorado de Bárbara Bandeira] têm sido muito importantes para ti nesta fase?
Sem dúvida. A Bárbara, o Kasha, o meu pai e a minha mãe têm sido um porto de abrigo, principalmente na parte psicológica de me preparar para tudo o que vem por aí. É o que digo, eles sabem das dificuldades disto e sempre quiseram deixar claro que se é isto que quero vou ter de lutar por isto, e o apoio que me dão é gigantesco a nível psicológico. E isso até é bom frisar, porque muitas pessoas pensam que tudo é muito facilitado. Eles estão ajudar-me a trilhar o meu caminho da melhor maneira e por mim. E o que me deixa mais feliz é ver o orgulho deles ao verem-me trilhar esse caminho.
Fui criado num ambiente de igrejas
Qual o melhor conselho que o teu pai te deu?
Ele deu-me muitos [risos]. O meu pai sempre me deu um conselho que é muito importante: valorizar as pessoas que trabalham comigo. Isso é algo que ele leva para a carreira dele e tenho a certeza que se ele está aqui há tanto tempo é porque valoriza muito os músicos com quem trabalha, as pessoas que estão envolvidas no projeto e é isso que desde o início quero fazer... e já estou a fazer: valorizar quem está ao meu lado, produtores, músicos que me acompanham, o público que já me está a abraçar de uma forma que não esperava. É preciso saber dar esse valor, por isso o meu muito obrigada a todas as pessoas que estão a caminha juntamente comigo.
Teres dividido o palco com o teu pai quando ele celebrou 20 anos de carreira foi aquele empurrãozinho que faltava para perceberes que era mesmo isto que querias fazer?
Sim, sem dúvida. Estava muito nervoso quando cantei com o meu pai. Estava mesmo muito nervoso e acho que ali foi realmente a primeira vez que tive contacto com o público num palco sem ser num ambiente de igrejas, que foi onde fui criado, onde costumava cantar quando era criança e onde tinha desenvolvido a minha ligação com a música. Mexeu comigo estar diante de todo aquele público, mas partilhar o palco com ele deu-me uma segurança muito grande, deu-me um prazer muito grande e foi sem dúvida um dos momentos que nunca vai sair da minha memória. Foi como se o meu pai me tivesse dado a mão e me tivesse dito: Tiago, tu consegues... tu consegues. Dividir palco com o meu pai foi algo que fez despertar ainda mais a minha vontade.
Conta-nos um bocadinho sobre essa tua ligação à música através da igreja.
Fui criado num ambiente de igrejas. A minha mãe também é músico, toca contrabaixo, e toca em igrejas. Quando a minha mãe vivia cá em Portugal, eu estava constantemente num ambiente de música... Gospel, mas é música. Desde criança sempre desenvolvi muito essa área, na igreja até cheguei a gravar um disco com várias crianças. A música sempre foi algo que esteve presente na minha vida, tanto da parte do meu pai como da minha mãe. Tive o privilégio de crescer com música, quem passa por isso sabe o quão mágico é para o nosso desenvolvimento.
Quando se vem de uma família com relevância no meio da música é inevitável que sejas comparado
No meio do teu crescimento e com essas várias experiências que foste tendo, qual o momento em que sentes que te é reconhecido talento?
Não sei bem quando é que isso foi. Como eu disse, desde criança que canto em igrejas e foi algo muito natural. Era completamente o oposto de hoje, sou um pouco introvertido mas antes era uma criança super extrovertida e cantava em todo o lado. Provavelmente foi a primeira vez que me disseram para ir cantar para o palquinho da igreja, devia ter uns seis anos.
Esta altura de pandemia, um novo confinamento, não te fez pensar que talvez não fosse o momento certo para o teu lançamento?
Quando esperei pelo momento certo não foi a nível estratégico, foi o momento em que realmente me senti preparado para estar no mundo da música, para lançar músicas, para fazer todo o trabalho necessário. Por exemplo, este momento que estamos a ter agora, esta entrevista, se fosse antes não me sentiria tão à vontade. Por mais que estejamos a viver uma pandemia, sinto que pessoalmente foi o momento certo para começar a cantar.
Em relação ao futuro, o que estás a preparar?
Neste momento estou sempre em estúdio, quero fazer muitas cosias novas. Quero trazer músicas novas, que muito brevemente também já vão estar aí fora. Abri uma porta dentro de mim que não quero fechar tão cedo. Com certeza podem esperar muita coisa, porque isto é realmente o que eu amo fazer e estou a encontrar-me a cada dia que passa.
Nesse caminho que estás a trilhar, onde é que queres chegar?
Quero fazer da música a minha vida. Quero ter o meu público, que me acompanhe, conseguir chegar ao coração das pessoas através da minha música, conseguir fazer com que a minha história seja revivida. Estou a ter um pequeno gostinho disso agora, através das pessoas que me enviam mensagens a dizer o quanto se revêm no meu tema, e está a ser provavelmente das sensações mais bonitas que já tive.
E para quem ainda te vê como o filho do Rui Bandeira ou irmão da Bárbara, como é que esperas conseguir mostrar que é mais do que isso: que és o Tiago Bandeira?
Quando se vem de uma família com relevância no meio da música é inevitável que sejas comparado. Não vou negar, há a parte boa de começar com uma exposição que outras pessoas não têm, mas ao mesmo tempo essa exposição vem com o preço de teres de apresentar algo que seja realmente bom, algo que as pessoas gostem, porque a crítica aparece com uma intensidade muito maior. Os olhos estão postos em ti de uma forma muito maior. Acho que isso de ser filho e irmão pode realmente ter-me dado visibilidade, mas o que realmente me vai marcar como Tiago Bandeira vai ser o trabalho que vou desenvolver.
Acho que vai ser um processo e não me atrapalha nem me sinto de qualquer maneira chateado com quem me associa à minha família, porque tenho um orgulho gigante nela. Se tenho de trilhar um caminho para ser conhecido como Tiago Bandeira é exatamente isso que vou fazer, vou dar o meu melhor para as pessoas me reconhecerem pelo meu nome e obviamente podem continuar a associar-me à minha família, porque me enche de orgulho. O meu nome, Tiago Bandeira, vai ser um nome quando tiver de ser e quando as pessoas perceberem que assim o é.
E para quem não te conhece, quem é o Tiago Bandeira?
Sou um rapaz muito sonhador, que adora música, que está a conseguir desprender-se de muitas coisinhas que o faziam acreditar que não era capaz. Um rapaz que está em processo de aprendizagem, de crescimento, que está muito, muito feliz com este primeiro passo que deu e que está cada vez mais ansioso e animado para fazer mais.
Sendo tu um rapaz sonhador, onde esperas que os teus sonhos te levem?
Vou ser sincero, nos meu sonhos não tinha imaginado que o meu primeiro single ia ser recebido com tanto amor, tanto carinho e um feedback tão positivo, por isso não vou dizer onde espero que os meu sonhos me levem mas digo que dentro dos sonhos que já tenho espero surpreender-me. Gosto de ser surpreendido pela vida e estou a ser, está a ser um momento incrível.
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