Natural da aldeia da Cumeira, concelho de Alcobaça, João Paulo Sousa apaixonou-se logo pela televisão na primeira vez que esteve em contacto com este mundo.

Nunca sonhou com esta carreira, mas encontrou na indústria depois da atual mulher, Adriana Gomes, tê-lo inscrito num casting.

O primeiro trabalho foi em ‘Morangos com Açúcar’. Depois disso, pequenas participações em outras novelas, mas acabou por seguir um caminho diferente, como apresentador.

Foi no Disney Kids que se estreou, passando por outros formatos completamente diferentes, como o ‘Curto Circuito’ e ‘Não Há Crise!’.

Com um rasgado sorriso no rosto, o apresentador falou abertamente sobre toda a sua carreira em conversa com o Fama ao Minuto, mostrando-se com os "pés bem assentes na terra" e a vontade e ambição de fazer coisas novas na sua profissão.

Começou a trabalhar quando ainda era um jovem, tendo passado pelas obras, pela funerária do tio, além de ajudar os pais… Sente que todas essas experiências contribuíram para a pessoa que é hoje?

Sim. É daquelas coisas que ouvi o meu pai a dizer o tempo todo: ‘Um dia vais agradecer...’. Mas depois era fixe porque já tinha dinheiro na altura para fazer as coisas que queria, que contribuíram para, pelo menos, crescer um bocadinho mais depressa.

O facto de ter estado em contacto com o trabalho desde tão cedo fez com que olhasse para a vida de outra maneira? Em que aspetos?

Sim, em relação a coisas muito concretas. Continuo a valorizar as pequenas coisas. Há pessoas que por várias razões da vida delas começam a desvalorizar isso porque é mais banal na vida delas, eu tenho 29 anos, tive 17 antes de vir trabalhar em televisão, o que quer dizer que a maioria da minha vida foi daquele lado. Portanto, continuo a achar que tudo aqui é fascinante. Ainda olho para muitas coisas como se fosse a primeira vez.

Um menino do campo que se mudou para a cidade… Do que sentiu mais falta na altura da mudança?

No meu primeiro trabalho, que foram os ‘Morangos com Açúcar’, o maior choque não foi começar a trabalhar em televisão e as pessoas reconhecerem-me na rua ou estar a trabalhar numa coisa em que não tinha experiência nenhuma. [O maior choque] foi estar a viver em Lisboa. Sinto falta do silêncio, de coisas muito simples como acordar de manhã e fazer um sumo de laranja com as laranjas que apanhei da árvore. Acho que sinto mais falta da terra e dessas coisas assim. Mas por outro lado, agora quando vou a casa dos meus pais e penso que lá vou passar uma semana, estou lá dois dias, aquilo tem Internet má, e começo logo a pensar em voltar.

Sou super competitivo comigo próprio e percebi imediatamente que tinha de me esforçar a sério

Uma vez que nunca sonhou com esta carreira, quando é que houve o clique de que queria fazer da televisão a sua segunda casa?

Quando comecei. Antes de começar a fazer os ‘Morangos com Açúcar’ fiz um workshop durante um mês e estava 100% tranquilo. A minha namorada inscreveu-me num casting e achei engraçado. Mas, de repente, vi pessoas que estavam super empenhadas naquilo e que era o sonho da vida delas. Comecei a ficar um bocadinho para trás no sentido de elas terem ferramentas para trabalhar que eu não tinha.

Sou super competitivo comigo próprio e percebi imediatamente que tinha de fazer alguma coisa, que tinha de me esforçar a sério. Foram acontecendo algumas coisas durante essa experiência, como ver pessoas a ir embora porque não foram o mais corretas para com os seus colegas, horários… Percebi rapidamente que era uma máquina grande e que uma pessoa chegava para atrapalhar o funcionamento da máquina e que ia dar problemas se fosse essa pessoa, então o melhor era passar despercebido e fazer o melhor possível. Despercebido no sentido de não levantar ondas. Fazer um bom trabalho para quem não era ator nem tinha formação era chegar a horas, saber os textos, ser educado e cordial com os colegas…

Quando terminei os ‘Morangos com Açúcar’ a primeira coisa que fiz foi inscrever-me na escola de atores. Na verdade não voltei a trabalhar tanto tempo como ator depois disso, mas claro que vieram daí ferramentas que também foram importantes para o meu trabalho hoje em dia.

Sente que a série ‘Morangos com Açúcar’ foi uma ‘boa escola’ e a rampa de lançamento para a carreira?

Sim e não. Sim, foi o primeiro sítio onde apareci, se fosse noutro qualquer também iria ter esse sentimento. E sim, aprendi muito, mas não sinto que tenha sido aquilo que me lançou. Depois disso fiz três, quatro novelas, mas sempre em pequenas participações e até segui por outros caminhos.

Mas uma escola foi, isso sem dúvida. Aprendi mais coisas quase básicas no sentido de o que é que é isto e como é que isto funciona… Ou seja, no final daquelas duas temporadas não me sentia completamente pronto para fazer outra novela e nem sabia se isso ia acontecer a ponto de ter na altura achado que ia voltar para casa dos meus pais e de ter mandado o currículo para supermercados e coisas do género perto da casa deles. Completamente resignado quanto ao facto de ter sido uma experiência que tinha acabado por ali. Depois, passado uns anos, é que percebi que o trabalho de ator e apresentador é assim, podes acabar um trabalho sem saberes o que é que vais fazer a seguir e logo se vê o que vai acontecer. Por isso é que tens de ser tu a ter essa iniciativa de preparar o que é que aí vem.

Agora, como trabalho como apresentador há dez anos, não sinto que tenha sido a minha maior escola para me preparar. Que tenha vindo daí os maiores frutos que utilizo no meu trabalho. Aí, de longe, tenho de destacar o ‘Curto Circuito’.

Profissionalmente, quais as principais dificuldades que sentiu quando teve o primeiro contacto com o mundo televisivo?

Não me vem logo à cabeça porque nunca me lembro muito das coisas más. Ou seja, vejo sempre o lado bom das coisas, pelo menos é aquilo que guardo. Em vez das dificuldades, penso logo o que é que fiz para dar a volta àquilo que estava a acontecer. Lembro-me que passava na minha primeira temporada [de ‘Morangos com Açúcar’], estava lá a Maria João Abreu, o João Didelet, o Ricardo Carriço, Nuno Távora, José Boavida, alguns atores já muito conhecidos, e como no início não tinha assim tantas cenas por dia, ficava lá até às oito da noite a vê-los fazer e aperceber como é que eles faziam e o que é que eles faziam… Isso fez-me aprender muito sobre o que é que devia fazer e o que era aquilo. Mas assim dificuldades não sei… Custava-me muito dar entrevistas, por exemplo. Tinha medo de dizer alguma coisa que não fosse bem compreendida. Aquele medo de inexperiência.

É uma coisa que demora a construir, tal como a nossa personalidade demora a construir, tal como nós não nascemos a andar e a falar

E hoje, quais são os maiores desafios em televisão?

O desafio continua a ser sempre o mesmo. A primeira vez que fiz a passadeira vermelha dos Globos de Ouro foi há quatro anos para a SIC Caras. Nunca tinha feito aquele registo e nunca tinha estado naquela cerimónia a trabalhar e a primeira coisa de que me lembro quando estava a preparar aquilo era: ‘Mas eu vou perguntar sobre os vestidos?’. Porque toda a gente fazia essa pergunta, mas eu não sou o tipo de pessoa que se interesse sobre essas coisas. Falei na altura com o Daniel, que é o coordenador da SIC Caras, e ele disse-me o que toda a gente diz o tempo todo: ‘Tens que ser tu próprio’. Só que descobrires quando és tu próprio demora um bocado.

O meu primeiro trabalho de apresentação foi no Disney Kids e tive durante duas semanas fechado numa sala a ver cassetes antigas do Disney Kids. No primeiro dia de estúdio, cheguei lá e a produtora parou as gravações, chegou ao pé de mim e disse-me: ‘Nós contratamos o João, não foi o Francisco Garcia. Se tu pudesses ser o João era fixe’. Como eu queria tanto uma referência daquilo, passei a fazer igual a ele e a comportar-me de forma igual. A coisa mais difícil que podem pedir a alguém é: sê tu próprio. Mas há uma altura em que começa a fazer sentido, que é quando as pessoas já sabem quem tu és, quando já sabem esta história do campo, por exemplo, quando tu próprio assumes que és assim e a partir daí avanças com isso. É uma coisa que demora a construir, tal como a nossa personalidade demora a construir, tal como nós não nascemos a andar e a falar.

A dificuldade é sempre esta: O que é que eu posso levar para uma coisa que já existe, como por exemplo os Globos de Ouro, que sou eu. Este ano voltei a deparar-me com a mesma situação e o que fiz foi inventar uns prémios para as pessoas discursarem sobre esses prémios e meti os HMB a cantar o ‘Atirei o Pau ao Gato’… Também tenho a sorte e o respeito de quem trabalha comigo que me dá essa liberdade.

Moldo-me muito aquilo que está à minha frente. Não gosto nada de ser rotulado, de ser o apresentador que só faz não sei o quê

Que tipo de programa gostava de fazer no futuro?

Eu moldo-me muito aquilo que está à minha frente. Há programas que eu acho incríveis. Gostava de fazer um programa de quizz de rua, por exemplo… Qualquer coisa que meta eu estar no meio de pessoas. É uma das razões pelas quais adoro festivais de verão. Mas nunca ponho isto para mim próprio como o meu objetivo é fazer isto. Não, o meu objetivo é fazer o próximo programa que a estação para que trabalho me der. Não gosto de fazer só uma coisa. Houve uma altura em que estava no ‘Curto Circuito’ e fiz ao mesmo tempo as férias do João Baião nas tardes, fazia imensas participações na SIC Caras a apresentar eventos. Três registos completamente diferentes e para mim não há nada melhor do que isto. Não gosto nada de ser rotulado, de ser o apresentador que só faz não sei o quê.

Abraçou recentemente um novo desafio, sendo agora uma das vozes das manhãs da Cidade. Como surgiu o convite e como é que está a ser esta nova aventura?

O convite foi tratado aqui com a minha agência, mas curiosamente foi uma coisa que já queria fazer há algum tempo. Já tinha feito durante um ano rádio, há uns quatro ou cinco anos, numa local, e no ano de 2017 lembro-me de ter posto nas minha resoluções de ano novo voltar a fazer rádio. Não aconteceu, mas aconteceu no ano 2018. Estou muito contente.

A rádio reinventou-se de uma maneira que passou a ser cool novamente fazer rádio. Tinha saudades de fazer um programa diário. Sou uma pessoa que precisa de rotinas, se calhar não desta de acordar às 5h da manhã, não era propriamente desta que estava a pensar, mas preciso de chegar ao fim do dia e dizer: ‘Eu cumpri esta missão hoje’. Ainda estou a perceber algumas coisas. A maneira como aquilo funciona e como executar rádio não é a mesma coisa que executar televisão. Tenho a certeza de que daqui a alguns anos, coisas que aprender ao longo desta experiência na rádio também vou poder usar em televisão. Tenho a certeza que no final disto o resultado vai ser positivo para mim e vai-me tornar um melhor apresentador de ambas.

Também tem apostado nas redes sociais e no canal que tem no YouTube… sente que é importante para um apresentador apostar noutras alternativas para não estar somente dependente da televisão?

Sim. Nem sinto como alternativas. Sinto mesmo que é um meio principal, um meio básico. Não sei como é que é possível ainda hoje algumas pessoas desvalorizarem isso, estou a falar de figuras, porque as marcas valorizam muito, os sítios onde trabalhas vai valorizar isso. É uma maneira de o teu trabalho chegar a mais pessoas. Isso é super importante para mim no sentido de ter uma noção de quem são as pessoas que me seguem, de que maneira é que aquilo que digo tem ou não impacto…

E eu sou como o Toy, estupidamente apaixonado por uma coisa que é criar conteúdos. Há uma coisa que não gosto como apresentador que é se me disserem toma lá um texto vai para cima do palco e diz. Não, eu gosto de fazer parte do processo criativo… Nas redes sociais eu posso fazer isso. Penso nelas como se fosse uma montra em que meto lá aquilo que quero. É um trabalho duro ter de pensar todos os dias numa coisa diferente, mas por outro lado estimula-me.

Quais são os nomes que mais o inspiram no mundo artístico?

Houve uma altura em que consumia televisão à parva, mesmo. Honestamente, não tenho uma pessoa que diga: ‘É esta que eu quero ser’. Mas há mesmo muitas pessoas em Portugal que tenho a certeza que aquilo que elas fazem, ou fizeram, me ajudou a chegar até aqui e a construir a minha personalidade enquanto apresentador. Acho que é importante nós vermos tudo. Lembro-me de uma altura em que ainda morava com os meus pais, quando eles iam dormir eu ia ver televisão às escondidas. Via a ‘A Revolta dos Pastéis de Nata’ com o Luís Filipe Borges, o ‘5 Para a Meia-Noite’. Passei horas e horas a ver os programas da Júlia [Pinheiro], o ‘Preço Certo’.

Estava no café ao pé da minha escola, porque não tinha televisão por cabo em casa, a ver o ‘Curto Circuito’ com o Rui Unas e o João Manzarra e lembro-me de pensar: ‘Isto é mesmo giro. Quem me dera um dia’. Mas na brincadeira, não era literalmente o meu sonho. Hoje trabalho com todas essas pessoas ou estou com elas algumas vezes e continua a ser embaraçoso. Mas foram inspirações para mim. Mas não é só na apresentação. Se pensar em atores, o Nuno Lopes e o Ivo Canelas. Na música o David Fonseca…

Vivi o tempo todo com o não ter tudo o que queria e hoje quando consigo ter uma coisa que quero é algo que valorizo

Cresceu com os pais e com os avós por perto, com quem tem uma grande e forte ligação… Quais os melhores conselhos que recebeu de ambos?

Os meus pais têm uma maneira engraçada de ver a coisa. Para a minha mãe tudo o que faço é muito lindo e o meu pai ainda hoje quando chego lá a casa e lhe dou um aperto de mão ele diz: ‘Se não tens calos nas mãos é porque não andas a trabalhar’. E essa cena que digo na brincadeira acaba por ter muito efeito na minha vida profissional, mas principalmente na pessoal. Esta história de um dia estás a apresentar um evento para dez mil pessoas e no dia a seguir chegas a casa dos teus pais e: ‘Olha, pega aí na enxada e ajuda-me aqui’. Mete-te os pés no chão. Sinto muito isso com coisas pequenas. Há coisas que não mudam e que é bom não mudarem.

Os meus avós e pais dão-me muitos conselhos sobre isso e só o facto de eles serem como são e nada ter mudado para eles é quase um conselho só por si. A minha mãe diz-me muito isso, que as pessoas vão ter com ela lá e que dizem que nem acreditam que ela é mãe do rapaz que trabalha na televisão. Acho que isso é um ótimo conselho: Mantém-te como és e os pés bem assentes no chão. E ir à luta. Isso também vem muito da experiência vivida. Vivi o tempo todo com o não ter tudo o que queria e hoje quando consigo ter uma coisa que quero é algo que valorizo.

Já perdeu algumas pessoas muito próximas, inclusive o avô materno que considera ser o segundo pai. Ele não esteve presente no seu casamento mas quis homenageá-lo nesse grande dia. Como foi o momento em que contou à família este gesto?

Foi uma choradeira pegada. Guardei essa surpresa para o dia do casamento. Estavam mesmo poucas pessoas, umas 50. Não vou ter filhos já, mas decidi com a minha mulher que gostávamos que eles tivessem os apelidos dos avós que foram mais importantes ao longo da nossa vida para nós. Por isso decidimos trocar esses nomes, eu ficar com o do avô dela e ela ficar com o do meu avô. Contar isso no dia do meu casamento… Fartei-me de chorar.

Um dos meus grandes objetivos é continuar a reinventar-me no sentido de me atualizar

Em que ponto gostaria que estivesse a sua vida daqui a dez anos?

Não faço muito essas previsões, acho que no meio em que trabalho é um bocado difícil de se fazer. Já estou a assumir que quero trabalhar neste meio, nem sequer me vejo a fazer outra coisa. Não sei o que é que vai haver daqui a dez anos, honestamente. Não faço a mínima ideia com a velocidade com que as coisas mudam. Mas o que espero que aconteça é que eu me consiga continuar a reinventar que é uma coisa que não gosto nada de sentir que acontece e nem sequer de ver nas outras pessoas. Quando vês uma pessoa com muito talento e continuas a vê-la a fazer exatamente as mesmas coisas passados não sei quantos anos, sinto sempre que isso é um desperdício de talento e de outras coisas.

Um dos meus grandes objetivos é continuar a reinventar-me no sentido de me atualizar. Como aquelas pessoas que chegam a uma idade e dizem que já estão velhos para fazer não sei o quê ou já não percebem disto porque isto é para os mais novos… Não, não quero nada isso. Acho que a Internet nos veio trazer isso. Não trouxe só a globalização mas também a generalização para todas as idades. Daqui a dez anos quero estar certamente a fazer coisas novas.