A conversa com Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz começou com as recordações do filho, que morreu no passado mês de maio. Florbela Queiroz destacou que falava muito com Manuel e que "eram iguais".

"Por serem tão iguais de feitio, por isso é que chocavam muito", acrescentou Cláudio Ramos, com a atriz a concordar e a explicar uma zanga que teve com o filho. "E o que aconteceu não teve a ver com ele propriamente, teve a ver com outra pessoa. Ficou tudo sanado. Ele foi ter comigo ao teatro em 2019 e pediu-me desculpa. Foi muito bonito", lembrou.

Florbela contou que falavam todos os dias e que continua a mandar-lhe mensagens para o Facebook a relatar o seu dia. "Já ontem à noite escrevi a dizer que vinha cá", disse. E fá-lo porque "acredita que isto é uma passagem". "Acredito que ele lê, só que não me responde assim, responde de outras maneiras. E responde", confidenciou.

Agora, é o teatro que lhe dá vida. "Se nós não nos agarrarmos a alguma coisa, o que é que estamos aqui a fazer?", destacou. "Não tenho ninguém. Se não tiver o teatro, quero mais é ir-me embora", confessou, continuando a afirmar que "nunca foi uma pessoa feliz".

Ao recordar o dia em que recebeu a notícia da morte do filho, a atriz, que vai completar 80 anos em janeiro, relatou: "Quem me telefonou foi a minha enteada, era muito amiga do irmão. O pai tinha sido operado no Canadá, e ela telefonou-me e disse que tinha uma notícia chata para me dar. Perguntei-lhe se o pai estava pior e ela disse: 'Não, o Manel morreu'. Fiquei [sem reação]. Não chorei, não fiz nada. [Contactei] os meus colegas do teatro e em dez minutos não sei como é que aquela gente toda apareceu em minha casa. E o meu irmão [que vive em Inglaterra] que estava na casa de férias que tem cá em Torres Vedras, apareceu passado uma hora e meia, que foi o tempo de chegar aqui [a Lisboa]. Dormiu cá as duas noites e foi comigo ao funeral".

"Já fiz tudo o que tinha para fazer nesta vida, a única coisa que tenho neste momento é o teatro e se me tiraram isto, então mandem-me embora", frisou, revelando ainda: "E tenho o testamento vital. Se me der alguma coisa, ninguém me pode acordar. Não quero. Não quero cá ficar. Já que não há eutanásia para as pessoas que sofrem, que é um grande disparate, ninguém tem o direito a sofrer. Não me assusta minimamente a morte, assusta-me é estar numa cama dependente ou numa cadeira dependente. E isso é que eu não quero".

Manuel completaria 45 anos esta terça-feira, 13 de setembro, e Florbela Queiroz partilhou: "Tenho de mandar beijinhos para o céu. Mas tem lá os meus pais que lhe dão beijinhos, e o Nicolau [Breyner], que o adorava".

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