Pedro Crispim é uma presença regular na televisão portuguesa, sobretudo como comentador, estando atualmente na TVI para falar do 'Big Brother - Desafio Final'.
Hoje é o convidado da rubrica 'Quando Era Pequenino', do Fama ao Minuto, onde partilha várias memórias da sua infância.
O prato favorito na infância (e quem o preparava) e a comida que não gostava e que agora gosta?
Aquele que gostava mais e que continuo a gostar é um prato preparado pela minha mãe, que é arroz de pato. Felizmente, continuo a poder usufruir deste prato feito pelas mãos da minha mãe e não há nenhum que se compare, nem nos melhores restaurantes. Nunca provei um arroz de pato assim. Agregado aos sabores também estão as lembranças, e acho que os temperos mais importantes são as lembranças e o amor.
Em relação àquilo que não gostava e que hoje em dia gosto são favas ou ervilhas com ovos escalfados. Pratos mais tradicionais da cozinha alentejana e que hoje em dia valorizo, delicio-me e para mim são 'manjar dos deuses'. Isto é transversal a todos os pratos alentejanos, não há nenhum que coloque de fora, inclusive iscas. Lembro-me perfeitamente que detestava iscas e hoje em dia, se forem muito bem feitas, são um petisco fantástico.
Quem era a pessoa que mais admirava?
Não existe uma só, são duas que continuam a ser uma bússola de orientação para tudo na minha vida pessoal, profissional e também social, que são os meus pais. Por motivos diferentes, os dois continuam a ser o motor para todas as minhas escolhas e decisões. Ajudam-me - mesmo não estando presente no meu dia a dia - a fazer as escolhas que considero que são aquelas que vão ao encontro da estrutura que me deram. E falo em estrutura porque os considero os meus maiores arquitetos. Eles fazem parte da minha base, do meu ponto de partida, e muitas vezes é a esse ponto de partida a que volto para me encontrar e seguir em frente.
Quais as melhores férias quando era pequenino?
Graças a Deus, tenho viajado para sítios maravilhosos, paradisíacos, lindos, e tenho memórias que guardo num sítio muito especial da minha memória. Vivenciei experiências fantásticas, tanto dentro como fora do país. Mas não há nenhum sítio que realmente me abrace, onde me sinta tão em casa e confortável como na costa alentejana.
Os meus pais têm casa na costa alentejana desde que eu era bebé de colo e as melhores memórias são nas praias da costa alentejana. E é o sítio a que volto sempre que me quero encontrar, onde recarrego as minhas baterias por inteiro. É onde basicamente também levo as pessoas que gosto, é um sítio muito especial.
A que dia voltava na infância? E porquê?
Na minha pré-adolescência - ainda muito miúdo, ingénuo -, quando fui para a escola e comecei a lidar com pessoas fora da estrutura familiar, daquela rede de segurança que é única e incomparável, senti na pele ao perceber que o mundo não era assim tão perfeito e bonito. Basicamente, tão colorido como era aquele que eu imaginava antes de sair de casa.
A minha avó era cozinheira numa escola. Não tinha aprendido a ler, sabia fazer a sua assinatura e pouco mais do que isso, mas tinha uma visão, uma formação de vida que conseguia perceber tudo muito além do óbvio. E tinha uma coisa que considero tão importante nos dias de hoje, que é um coeficiente emocional muito acima da média. Lembro-me de um dia em que cheguei a casa depois de, provavelmente, ter tido alguma fricção com alguns coleguinhas que me chamavam nomes ou que me faziam sentir menos incluído - que sublinhavam aquilo que eles consideravam ser diferente -, e a minha avó Carolina sentou-me e disse-me que eu não tinha nada de errado e que o erro estava neles. 'Tu não sentes isso, por isso o problema não é teu, é deles. Se eles têm um problema, eles é que vão ter que ir resolvendo conforme a vida vai acontecendo e aprendendo que têm que aceitar. Têm que se aceitar, têm que se amar e têm que dar a mão uns aos outros em vez de perder e gastar energia a apontar o dedo'.
Ainda hoje, muita das vezes, quando as pessoas me apontam o dedo ou quando ouço comentários em relação a qualquer tema da minha vida, lembro-me do que a minha avó Carolina me disse. O problema não é meu, é vosso. Se vocês têm qualquer problema comigo, resolvam-no, porque eu não tenho [nenhum problema] e vou seguir o meu caminho.
Complete a frase: Se voltasse à minha infância, nunca… teria acreditado que era só aquilo que os outros queriam que eu acreditasse que era. Não me tinha deixado ser colocado - a determinada altura da minha vida - dentro de uma caixa que tinha a ver com os limites e os horizontes dos outros, e que nada tinha a ver com a minha pessoa. Tinha tido a consciência de que a visão dos outros corresponde à sua vivência e aos seus horizontes, às suas limitações, às suas frustrações, e isso nada tinha a ver comigo.
E ao dizer isto falo, por exemplo, de quando evitava passar naquela rua para não passar por aqueles meninos que me ofendiam. Quando evitava fazer a minha vida a ir ao intervalo ou ao bar da escola porque tinha receio de confrontos, de ser ofendido. Não queria ser maltratado pelos outros e acabei por ficar nessa caixa que funcionava um bocadinho como redoma onde, de alguma forma, me estava a tentar só proteger.
Tinha-me libertado disso e seguido o meu caminho. Mas [essa fase] durou pouco tempo porque depressa percebi - e tive uma rede de segurança em casa, começando pela minha avó e terminando nos meus pais - que o problema era dos outros.
Hoje em dia não permito que ninguém me coloque numa caixa de acordo com os seus horizontes, os seus limites e medos. Não permito que ninguém tente baixar o volume à minha existência, à minha individualidade e liberdade.
Pedro Crispim© Disponibilizada por Pedro Crispim - Instagram_pedro.crispim
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