Há 25 anos, o mundo parou. A princesa Diana morreu após um trágico acidente de carro na Ponte de L’Alma, em Paris. Lady Di fugia à perseguição dos fotógrafos. No mesmo carro seguiam o motorista Henri Paul e o namorado, Dodi al-Fayed, que também perderam a vida.

Hoje, 31 de agosto, no aniversário da morte da eterna 'princesa do povo', recordamos a memória da figura icónica, uma das mais marcantes do século XX, com uma entrevista ao jornalista Alberto Miranda, especialista em família reais e autor do livro 'As 10 Monarquias da Europa'.

O príncipe Carlos e a princesa Diana protagonizaram "um dos maiores contos de fadas do século XX", como refere no seu livro. Mas conto de fadas era a imagem transmitida para o público, porque bem se sabe que a relação não era um mar de rosas... ou seria no início?

Diana casou apaixonada! Diana acreditava que Carlos, mais do que o príncipe de Gales, era o homem da sua vida. Sabia que ao casar com o filho da rainha Isabel II e futuro rei de Inglaterra a sua vida não seria fácil, mas nunca pensou (na altura) que o seu casamento acabasse em divórcio. A princesa viveu um conto de fadas, o seu, e o mundo também. Era uma jovem desconhecida, bonita, 'bien née' ['bem nascida'], oriunda da antiga aristocracia britânica, cuja família era próxima dos Windsor. A sua timidez e beleza contribuíram para aumentar o seu magnetismo junto da imprensa.

Nunca saberemos se Carlos algum dia esteve apaixonado por Diana, mas deu-o a entender, sim. Daí que todos tenham dito e escrito que viveram um conto de fadas.

Lady Diana Spencer não era princesa, mas soube atrair todas as atenções à sua volta. Todos queriam saber quem era e como era a futura rainha do Reino Unido. Carlos mostrou-se sempre gentil, sorridente e um cavalheiro 'in love', numa postura que não era comum no seio da realeza. Respondendo à sua pergunta, no fundo nunca saberemos se Carlos algum dia esteve apaixonado por Diana, mas deu-o a entender, sim. Daí que todos tenham dito e escrito que viveram um conto de fadas. Tendo nós, agora, outros dados para analisar o noivado e o casamento do século XX, visto nos quatro cantos do planeta, a resposta torna-se mais complexa.

Estaria, de facto, Carlos mesmo apaixonado por Camilla? Se sim, porque não casou com Camilla? Sentiu-se pressionado para casar com uma mulher mais jovem e com um passado imaculado? Falou mais alto a razão de Estado do que a razão do coração? Estas dúvidas (que só o próprio poderia esclarecer com rigor) têm ainda hoje mais pertinência...

A 24 de fevereiro de 1981 o príncipe Carlos e a princesa Diana anunciam ao mundo que estão noivos © Getty Images

Considera que este casamento aconteceria hoje ou Carlos poderia ter escolhido casar-se logo com Camilla?

Não sabemos com rigor se Camilla foi sempre o grande amor de Carlos. O que sabemos, pela voz da própria Diana, é que Camilla foi a causadora do fim do casamento dos príncipes de Gales. Diana, na célebre entrevista que deu à BBC (sabemos hoje, que o fez coagida) afirmou: "Éramos três e três, num casamento, são pessoas de mais".

Esta afirmação teve um peso brutal. Era o assumir na primeira pessoa que o casamento tinha fracassado e que o fracasso se deveu ao adultério. Diana afirma ao mundo que o marido tinha uma outra mulher. Esta afirmação foi dura para Carlos, mas não o foi menos para Camilla. O povo, que idolatrava a princesa, partilhou a sua dor e tomou o seu partido. Sem nunca se pronunciar sobre o assunto, Camilla viveu os piores momentos da sua vida.

Princesa Diana em entrevista a Martin Bashir, para o programa 'Panorama', da BBC, a 20 de novembro de 1995 © Getty Images
Há mesmo quem garanta que a última noite de solteiro de Carlos foi passada nos braços de Camilla, que no dia seguinte assistia ao casamento

Algo curioso é o facto de que terá sido Camilla quem ajudou Carlos a escolher Diana como noiva. Porque é que a duquesa da Cornualha assumiu este papel?

Essa é uma história contada muitas vezes e, ao que tudo indica, foi assim que aconteceu. Camilla, uma mulher mais velha que Diana, terá aconselhado Carlos a escolher Diana para casar. Ela era mais nova, recatada, sem passado sentimental, filha de condes, neta da dama de companhia da rainha-mãe e era conhecedora, pelo meio onde nasceu, de códigos sociais que seriam uma vantagem para a sua futura vida de representação oficial.

Quando Carlos e Diana dão o nó, Camilla era uma mulher casada, mas, ao que tudo indica, a relação entre os dois já existia. Daí a necessidade do casamento do herdeiro do trono. Há quem diga que a relação do príncipe com a senhora Parker Bowles já existia e era firme e há mesmo quem garanta que a última noite de solteiro de Carlos foi passada nos braços de Camilla, que no dia seguinte assistia ao casamento dos príncipes da Catedral de São Paulo...

O príncipe Carlos e Camilla em 1979, antes do noivado do herdeiro do trono com Diana de Gales © Getty Images

Do que sabe da história pensa que a rainha acreditou mesmo que a relação iria funcionar ou deixou-se levar pelo peso da tradição?

Uma rainha nunca esquece as tradições. Isabel II desejava o casamento do seu herdeiro que, com mais de 30 anos, continuava solteiro. O casamento de Carlos era um assunto de Estado, porque a monarquia, sendo hereditária, sobrevive da descendência legal. Era preciso que Carlos cassasse e tivesse herdeiros. A rainha conhecia bem os Spencer, era madrinha do irmão de Diana, e sabia que ficava bem a futura princesa ser aristocrata e ter uma casa de família como a Althorp.

Diana não era princesa, mas, à semelhança da mãe de Isabel II, que também era da nobreza, prestigiava os Windsor com a sua estirpe. A rainha gostava do ar dócil e do temperamento da futura nora. Mesmo sabendo que a sua introdução no seio da família real era sinónimo de ventos de mudança, Isabel II acreditou no casamento e nunca desejou o divórcio dos príncipes de Gales, até este se tornar inevitável…

O fracasso do casamento, a separação e o divórcio mostram que Diana está frágil.

Diana estava preparada para o papel que teria de assumir após a separação, que aconteceu em 1992, ou teve de aprender à força com os próprios erros?

No fundo, Diana mostrou que não estava preparada para o pior. Ela confessou o adultério do marido, assumiu que também o traiu, contou os seus distúrbios alimentares e, assim sendo, mostrou alguma instabilidade psicológica. O fracasso do casamento, a separação e o divórcio mostram que Diana está frágil.

Daí ter cedido à chantagem do jornalista da BBC e ter dado a tal entrevista, alegadamente porque se não o fizesse veria exposta a sua intimidade a uma escala inimaginável. Conceder uma entrevista sem o consentimento e, pior, sem o conhecimento da rainha, foi um erro! Depois disso, libertada do peso de já não ser membro da família real, Diana quis viver a sua vida à sua maneira, mas foi-lhe impossível fazê-lo no anonimato. O que não foi um erro na sua vida foi, mesmo após a separação e o divórcio, não esquecer nem abandonar as obras filantrópicas e as causas sociais que lhe eram queridas.

Se pudesse destacar os três momentos mais marcantes de Diana de Gales, quais seriam?

Destaco quatro: o casamento e o nascimento dos filhos, a entrevista à BBC, onde se vingou do marido e que deu origem ao divórcio, as férias românticas ao lado de Dodi Al-Fayed e a sua morte.

O príncipe Carlos e a princesa Diana no dia do seu casamento © Getty Imagens
A morte de Diana fez tremer a monarquia, porque o povo não compreendeu a postura da sua soberana e este caso foi o mais grave golpe na imagem de Isabel II.

A morte inesperada da princesa Diana apanhou o mundo e sobretudo a família real desprevenida. Terá sido por isso que a rainha demorou tanto tempo a expressar-se publicamente?

Não! Não foi o facto da morte de Diana ser inesperada que fez com que a rainha demorasse tanto tempo a falar à nação. Para todos os efeitos, Diana já não pertencia à família real e, na visão da rainha, o enterro da nora era um assunto privado, que seria gerido pela família Spencer. Isabel II estava com os netos de férias da Escócia e quis proteger os netos a todo o custo.

No entanto, enquanto ela não se mostrava em público, o povo saiu para as ruas e começou a encher de flores o portão do Palácio de Kensington, a residência de Diana e depois o Palácio de Buckingham. Nunca antes Londres vira nada assim. O mundo estava chocado com a perda da princesa e a rainha não aparecia. A morte de Diana fez tremer a monarquia, porque o povo não compreendeu a postura da sua soberana e este caso foi o mais grave golpe na imagem de Isabel II.

Compreende-se a postura dos súbditos, mas os súbditos não compreenderam que a rainha foi educada e preparada para não mostrar os sentimentos, a não se queixar. Este silêncio foi entendido como a afirmação de que a relação entre as duas não era a melhor e que a rainha tinha ficado magoada com Diana. Só dias depois de ter cedido à exigência de pôr a meia haste a sua bandeira pessoal, não a do Estado, é que falou ao público e referiu-se à mãe dos seus netos como um “ser adorável”.

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Lembra-se desse dia? Como recebeu a notícia da morte?

Lembro-me muito bem. Soube da notícia na discoteca Estação da Luz, em Aveiro, onde estava com os meus amigos. Fiquei surpreendido pelo inesperado. Como se tratou de um acidente de carro, pensei que era preciso ter cuidado com os perigos da condução. No dia seguinte, lembro-me de acordar e não se falar de outra coisa. Recordo-me de pensar que ao morrer tão nova, seria essa a imagem que o mundo recordaria dela: uma mulher nova que morria de forma abrupta e inesperada.

Ela foi mesmo o rosto mais fotografado do século XX.

A princesa Diana contribuiu para o fascínio das pessoas pela realeza. Afinal, o que a ‘princesa do povo’ tinha de tão especial?

Desde logo, a beleza. Diana chegou à corte inglesa, conhecida por ser rígida na postura e 'old fashion' nos costumes, como uma lufada de ar fresco. Depois, o seu gosto pela moda fez com que fosse fotografada diariamente e sem cessar todo o resto da sua vida. Todas as suas roupas, chapéus, penteados e joias eram analisados até à exaustão.

Quando veio a Portugal, isso também aconteceu. Onde estava Diana havia sempre paparazzi. Ela foi mesmo o rosto mais fotografado do século XX.

A princesa Diana na sua visita a Portugal a 14 de fevereiro de 1987 © Getty Images

Lady Di deixou igualmente um legado importante que hoje é seguido por ambos os filhos. Contudo, o que não esperaria é que William e Harry estariam de costas voltadas...

Se Diana fosse viva, certamente não estaria feliz com esta reviravolta entre os filhos. William e Harry sempre foram muito próximos e a morte da mãe contribuiu para que os laços entre os manos Gales fossem muito fortes, até que surgiu Meghan Markle…

O príncipe William e o príncipe Harry na inauguração de uma estátua em homenagem à mãe, a princesa Diana © Getty Images

Considera que ainda assim estaria orgulhosa do percurso dos seus rapazes?

Seria, certamente, uma aliada de Kate e de Meghan e seria uma avó babada. Ainda hoje, as redes sociais fazem montagens de Diana ao lado dos filhos, das noras e dos netos…

O príncipe Harry prepara-se para lançar uma biografia onde pretende contar a sua história. Estará a querer seguir os passos da mãe em se mostrar contra a rigidez da realeza?

Apesar de Diana ter feito na tal entrevista críticas à família real, ela educou sempre os filhos de acordo com a tradição real. Ela respeitava a instituição e sabia que William iria ser rei, por isso é que quis sempre que os filhos tivessem vidas o mais normais possíveis. Por exemplo, depois da separação, William e Harry tinham férias com os pais em separado. Com Carlos, os príncipes passavam o verão no Castelo de Balmoral, na Escócia. Com a mãe, iam para destinos de praia muito mais quentes e onde a vida da corte não se fazia sentir.

Se Harry é contra a monarquia? Ele já teceu comentários a esse respeito na entrevista que deu a Oprah Winfrey. Ele não disse que “estava preso dentro do sistema, como está, de resto, a minha família”? Disse.

A princesa Diana com o filho mais novo, Harry, duque de Sussex © Getty Images

Considera justas as comparações que se fazem entre Meghan Markle, sua mulher, e a princesa Diana?

São inevitáveis, mas não pode comparar Diana com Meghan.

Como seria a realeza/mundo se Diana ainda fosse viva?

Não saberemos como teria acontecido o casamento de Carlos e de Camilla. Não saberemos como reagiria o povo a esta união estando Diana viva. Será que os súbditos iriam ver com tranquilidade a vontade de Isabel II de ver a duquesa da Cornualha como rainha consorte? O que se pode dizer com segurança é que se Diana fosse viva seria uma mãe e uma avó presente e teria um papel conciliador, um pouco como aquele que tem hoje a rainha Sofia no seio da família real espanhola.

A memória da princesa Diana será eterna. 25 anos depois, ainda falamos de uma mulher que revolucionou a corte inglesa.

Considera que daqui a 25 anos o legado de Diana continuará a ser igualmente importante?

Se a rainha Vitória, que viveu no século XIX, ainda é figura lendária da monarquia britânica, Diana não será esquecida. A memória da princesa Diana será eterna. 25 anos depois da sua morte estamos aqui a falar de uma mulher que revolucionou a corte inglesa e que usou o poder da sua imagem para ajudar os mais carenciados.

É verdade que as polémicas e as questões da sua vida privada lhe deram palco, mas a forma como encarou o seu trabalho humanitário foi especial; especial porque usou o coração, derrubando mitos e preconceitos, para chegar às pessoas e lhes dar, com a sua presença, uma nova esperança. E isso é um dos seus grandes méritos.