O movimento O MAIOR SORRISO DO MUNDO nasce em 2013 para reforçar esta mensagem e representa alegria, amor, saúde e bem-estar.
Figuras públicas e empreendedores aderiram à causa e partilharam os seus testemunhos. Leia a história de Hugo Andrade, diretor de programas da RTP.
O que é que o faz sorrir?
Hugo Andrade: Sou uma pessoa com uma maneira de estar na vida muito tranquila. Procuro sempre a parte boa das coisas. Sorrio com quase tudo, e mesmo com as adversidades, porque normalmente vou à procura de soluções, e assim que começo a vislumbrar um caminho o meu estado de espírito é de optimismo. As minhas filhas fazem-me sorrir, são engraçadas. As questões mais emotivas são as que me fazem sorrir mais.
É isso que também o faz feliz?
Hugo Andrade: Tenho uma característica, fico feliz com muito pouco. Acho que é o conjunto de algumas coisas juntas que fazem a felicidade. Não acredito muito num “momento especial de felicidade”. Podem existir momentos que nos envolvem mais, mas se tivermos todos os dias pequenas felicidades, as coisas boas da vida existem todos os dias.
É pouco exigente?
Hugo Andrade: Não, pelo contrário. sou muito exigente. Uma pessoa pouco exigente tem um ou dois objectivos na vida e fica satisfeito quando os cumpre. Eu sou de pequenas ambições, todos os dias sou muito exigente comigo, com o que faço e com as equipas com quem trabalho, na relação com as pessoas, mas é uma exigência pacífica e tranquila. É raro o dia em que não encontre um ou outro momento que me realize e que me faça sorrir. Assim que acordo, a primeira coisa que faço é estabelecer objectivos para o dia. À noite mesmo que vá cheio de problemas, desligo, não fico a pensar naquilo que tenho de fazer no dia seguinte, até porque saio daqui muito tarde. Mas assim que acordo, é automático. A minha agenda são compromissos, mas também são metas.
Qual Benjamin Franklin.
Hugo Andrade: Um bocadinho. Eu divido a vida em 3 partes. A parte do desperdício. Quem dorme 8 horas por dia, dorme 1/3 da sua vida. Esse para mim é o 1/3 do desperdício e por isso durmo 2 a 3 horas por noite. Depois há o outro 1/3 do trabalho e o último que é do lazer, obrigações sociais, familiares, etc. E como eu não utilizo 1/3 para dormir, divido o que sobra desta parte nos outros dois terços e por isso era incapaz de estar a trabalhar em algo que não gostava. Podemos não conseguir, mas temos de tentar. Fazer algo que não me realiza era impensável.
Qual foi a maior adversidade pela qual já passou?
Hugo Andrade: Aos 30 anos tive morte anunciada. Tive um problema nos pulmões, fui internado, fiz operação, mas da primeira vez que entrei nas urgências, o diagnóstico era muito complicado e tinha o meu pai e irmão à minha espera e os 30 segundos entre a consulta e a chegada à porta onde estavam à minha espera para comunicar aquilo que a médica me disse foi a maior adversidade, pensar como é que lhes ia dar essa notícia. E tinha uma filha com 1 ano e meio e outra tinha um mês. Não há bons momentos para morrer, mas aquele não era de todo o momento. Nem foi a doença, até porque eu me sentia razoavelmente bem e achava que o diagnóstico não fazia muito sentido. Esse foi talvez o momento mais difícil da minha vida e também o momento mais importante pela forma como comecei a encarar a vida depois disso.
Isso moldou-o?
Hugo Andrade: Completamente, por isso é que relativizo muito as coisas, trabalhamos num sítio com muito stress, e às vezes digo às pessoas: “grave, grave é uma pessoa estar doente.”
Como é que recuperou?
Hugo Andrade: Foi mais simples do que aparentava. Na altura prepararam-me para o pior cenário. O processo foi normal. Estive internado, melhorei, aguentei-me 6 meses até à recaída e na segunda vez que fui ao hospital fui operado, quando cheguei ao hospital, com toda a calma expliquei ao médico o que é que ele tinha de me fazer (risos). Depois da operação já foi mais duro porque tive uma intervenção complicada aos pulmões, foi uma operação grande. Logo ao segundo dia, ainda estava nos cuidados intermédios, drogado com a medicação, tonto, percebi que não conseguia mexer o braço direito e isso fez-me muita confusão. Perguntei ao enfermeiro como é que ia recuperar daquilo e ele disse para ter calma, que ia fazer uma ginástica específica. Pedi para começar a ginástica naquele dia e assim fiz, comecei logo nesse dia a fazer os exercícios na cama. Nos dias seguintes andavam a mostrar às pessoas que eu estava melhor do que aqueles que tinham sido operados há mais tempo. Servi um bocadinho de exemplo de superação. Hoje em dia dou muito mais valor às coisas importantes.
Alguma vez pensou “eu posso morrer”?
Hugo Andrade: Nunca pensei nisso. Não me sentia de uma forma coincidente com aquilo que me diziam que tinha. Vi pessoas num estado terrível de saúde e cria-se um clima de solidariedade entre os doentes. Nunca tive numa situação de ter pena de mim. Não tinha sequer necessidade de estar deitado, se me deixassem sair para trabalhar eu ia. É muito importante que as pessoas queiram ultrapassar as adversidades e eu queria e consegui.
O que é que faz falta aos portugueses para ultrapassarem as adversidades?
Hugo Andrade: Iniciativa. Os portugueses lamentam-se imenso, têm pena deles, isto é um bocado “o fado”, e aquela frase que diz “nas dificuldades encontram-se as oportunidades” tem muito de verdade, mas as pessoas têm de as procurar. As oportunidades não nos aparecem à frente. Nós temos tudo para sermos bons e somos quando emigramos, a verdade é que aqui não nos esforçamos muito, temos um problema, ficamos tristes, se ficamos tristes, ficamos depressivos, e depois lamentamo-nos e dizemos mal de tudo. Se virmos passar alguém com um carro novo, em vez de dizer “olha que sorte, aquele tem um carro novo”, dizemos “aquele tem um carro novo, andou a roubar”. Não damos mérito às pessoas que têm mérito e isso tem muito a ver com a nossa maneira de estar. Em Portugal há imensa coisa por fazer. Eu prefiro viver num sítio assim, do que num sítio onde já está tudo feito. Nós todos sabemos quais são os problemas do país. É muito fácil em Portugal uma pessoa ter sucesso. Basta descobrir a sua vocação, porque não basta querer, é preciso perceber o que sabe fazer, onde pode acrescentar valor. Temos de perder aquela ideia do emprego fixo, comprar casa, que as pessoas não deviam fazer, porque a partir do momento em que fazem isso não saem daquele raio de 30km e o mundo, que é enorme, passa a ser uma coisa de 30 km. E depois vamos perdendo condições de vida, mas não abandonamos os luxos, podem não ter nada, mas têm de ter TV por cabo, o carro, fumar. Temos má capacidade para construir, queremos logo tudo. E depois existe esta coisa coletiva de que a culpa é dos outros, quando fomos nós que colocámos o país neste estado.
Eu não sou de me lamentar e até tenho uma vida profissional estável, trabalho há mais de 20 anos no mesmo ramo e nunca deixei de sonhar com outras coisas.
Bom é viver nos tempos de crise, porque quando vivemos nos grandes momentos de pujança económica temos uma certeza: um dia vamos começar a descer e eu prefiro ter um horizonte de subida pela frente em que as coisas vão melhorar.
E isto é um bocado um problema cultural, as pessoas não têm a capacidade de ver o copo meio cheio. Imagino que seja desesperante não ter dinheiro para pagar as contas, mas têm de ver onde há oportunidades, imigrar se existir essa necessidade.
Estamos num estado de depressão coletiva, que é contagiante e isso é assustador, há uma parte do país a tentar puxar o país para cima e não acho que seja por maldade, mas existe uma parte que está a puxar para baixo.
Tem alguma história que gostaria de deixar para os seus netos lerem um dia?
Hugo Andrade: Quando era miúdo, com 14 anos, tinha um amigo, o Manuel, que tinha vindo de África e foi abandonado, os pais enviaram-no para Portugal para que tivesse oportunidades e ele foi viver para o sítio onde eu vivia, trabalhava numa mercearia, conheci-o na rua. Lembro-me que lhe dava metade da minha semanada, comia em minha casa, vestia a minha roupa, ia de férias comigo e isso realizava-me imenso, eu cresci assim, a ajudar, mas isto não acontecia apenas na minha casa, ele no fundo arranjou ali uma nova família.
O meu primeiro trabalho nesta área foi como editor de vídeo e eu fazia gratuitamente os anúncios para a AMI e para outras associações. Quando comecei a exercer cargos de coordenação e chefia, que me deram acesso a poder tomar decisões, já perdi a conta de associações que ajudei a ajudar, de uma forma discreta, mas que me realiza imenso. Há uma associação pela qual tenho um carinho especial, que é a SOL, tenho ali um quadro que foram as crianças da Associação SOL que desenharam.
Quando eu conheci a Teresa Almeida, Presidente da SOL, num aniversário de um apresentador da RTP, ela disse-me que a associação ia fechar passado uns dias, não tinha condições para manter as 22 crianças que lá habitavam. Na altura recebia subsídio para 11 crianças, mas tinha lá 22. E eu pedi-lhe o número de telefone, fui para casa pensar como é que podia ajudar e liguei-lhe no dia a seguir a dizer que íamos tentar resolver a situação. Em 3 semanas resolvemos o problema e a SOL continua aberta, conseguimos fazer uma campanha altamente sensibilizadora naquela causa que se reflectiu nas outras causas seguintes. Foi muito eficaz e estas coisas realizam-me imenso. As pessoas não têm noção da quantidade de instituições que apoiamos todos os dias.
Tive sorte na vida, cresci com condições, tive sorte no trabalho, mas isso nunca fez com que eu deixasse de me preocupar com os outros.
Entrevista: Mafalda Agante
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