Bruno de Carvalho dispensa apresentações. É antigo presidente do Sporting, ex-concorrente do 'Big Brother Famosos', atual DJ, músico, empresário e, não menos importante, pai de três filhas - Ana Catarina, de 21 anos, Diana, de nove e Leonor, de seis.
Aos 52 anos, tem um 'currículo' considerável de manchetes na imprensa - tanto generalista, como especializada.
Uma das mais marcantes começou em 2018, quando ainda era presidente do Sporting, após o ataque aos jogadores na Academia de Alcochete por 50 adeptos. A investigação resultou em 98 acusações de crime contra Bruno, dos quais foi absolvido em 2020 após julgamento.
Dois anos depois surpreende tudo e todos quando aceita ser concorrente do 'Big Brother Famosos', programa no qual acaba por se apaixonar por Liliana Almeida. Nesse mesmo ano, os dois dão o nó numa cerimónia transmitida em direto na TVI. Em 2024 comunicaram o divórcio.
À conversa com o Notícias ao Minuto, Bruno de Carvalho falou da infância, da polémica no Sporting, das acusações de violência doméstica no 'reality show' da TVI, da separação de Liliana e dos seus planos para o futuro.
Acho que os meus pais não têm muito que se queixar
Que memórias guarda da infância?
Só boas… Sou daquelas pessoas que tenho a sorte de dizer que tive uma infância fantástica, fiz tudo aquilo que podia ter feito, de bom e de mau.
O Bruno nasceu em Moçambique. Veio para Portugal com quantos anos?
Com dois anos, em 1974. Voltei [a Moçambique] quase 40 anos depois e visitei os sítios importantes.
O que é que os seus pais lhe dizem sobre essa época?
Não foi uma época fácil. À medida que ia crescendo, mesmo tendo sempre nacionalidade portuguesa, não ia para a fila do bilhete de identidade dos portugueses. Até achava uma certa piada porque a fila era diminuta, mas dá para perceber como é que nos tratavam… Os meus pais tentaram sempre ver as coisas de forma positiva, mas não foi fácil.
Era um estudante aplicado?
Sempre fui um bom estudante, agora aplicado é um adjetivo forte. Penso que Deus foi bondoso comigo e deu-me uma capacidade de me tornar um aluno interessante, porque conseguia fazer as minhas saídas e ser um jovem com as suas loucuras e ser um aluno de boas notas.
Deu muitas dores de cabeça aos seus pais?
A minha mãe diz que não... Nunca dei as chatices próprias da idade. Não fui daqueles filhos do 'grito do Ipiranga', que chega aos 18 e não sabe se é carne, se é peixe. Saí de casa a bem. Não tive essas crises. Agora... parti os pulsos, a cabeça, essas traquinices. Acho que os meus pais não têm muito que se queixar. Foi bom para eles, mas não muito para mim, porque como não tenho isso como conhecimento custa-me um bocado com as minhas filhas. Não passei por esses problemas, sempre olhei para os meus pais com muito respeito, muito carinho. Não tive uma necessidade de afirmação.
Teve esse desafio com as suas filhas?
Estou a ter... Ainda por cima as idades delas são 21, 9 e 6. Vou apanhando todas ao mesmo tempo.
É difícil lidar com elas?
São os desafios de passagem de idade com aquelas coisas que eu não passei. Tento fazer o meu melhor.
Como é que é o Bruno enquanto pai? Exigente ou um coração mole?
Tento transmitir princípios e valores, mas também tenho algum cuidado, porque o mundo está a mudar. Ainda por cima sou uma figura pública, já passei por muitas coisas, algumas bastante desagradáveis, não pode ser apenas o que o coração dita, é preciso repensar. Tento ser o melhor pai possível com os defeitos inerentes de um mundo em constante evolução e de ser uma figura pública, ainda por cima polémica.
Falando em polémicas - e já lá vamos daqui a pouco - nas épocas mais difíceis sentiu que tinha falhado enquanto pai?
Falhar é uma palavra muito difícil e não queremos pensar nisso. Implica não estar presente, não gostar, e isso nunca aconteceu. Agora se me perguntar se as prejudicou, claro! Mas também quando prejudicamos, infelizmente, falhamos, mas quero acreditar que falhar foi noutras coisas que não fiz.
Teria saído [da presidência do Sporting] entre dezembro de 2017 a janeiro de 2018, que foi quando eu quis sair e optei por um caminho que não é o que me caracteriza, porque eu sou uma pessoa muito concretaSabendo o que sabe hoje ter-se-ia candidatado à presidência do Sporting?
Teria saído entre dezembro de 2017 a janeiro de 2018, que foi quando eu quis sair e optei por um caminho que não é o que me caracteriza, porque eu sou uma pessoa muito concreta, decidida. Em Assembleia Geral perguntei se as pessoas estavam satisfeitas ou não e achei mesmo que não íamos ter 2/3, mas acabamos com uma aprovação de 90%. Depois foi todo o disparate que foi público.
Não, não tive culpa. Sou um ser humano que tem as suas falhas, que não fez tudo bem, mas que em nada teve a ver com aquilo que se passou Há um Bruno antes e depois da presidência?
Claro! Não naquilo que é a sua essência, mas naquilo que é a sua aparência. Quando nós - e estou a falar na comunicação social e no que as pessoas diziam - exageramos muito no assunto é natural que a pessoa que está a ser exagerada minimize ao máximo o que fez. Quando, por exemplo, se diz que a pessoa cometeu um crime ou um ato de terrorismo e a pessoa só foi palerma em uma ou duas coisas que disse... Então é preciso defender-me e dizer 'eu não fiz nada' porque, de facto, eu não cometi nenhum crime.
Não me posso armar em Madre Teresa de Calcutá e dizer 'sim, realmente disse assim umas coisinhas' que dizem logo 'lá está, ele sabe que teve culpa'. Não, não tive culpa. Sou um ser humano que tem as suas falhas, que não fez tudo bem, mas que em nada teve a ver com aquilo que se passou. Sim, disse algumas palermices - também estava a passar algo muito grave pessoalmente - mas daí a chegar ao que se disse, ao que se escreveu, ao que me acusaram...
Há uns dias, uma senhora na televisão disse que o 'Bruno de Carvalho é a prova viva em como existe Pai Natal, porque foi acusado de 98 crimes e foi absolvido de todos'. É normal que se diga isto tantos anos depois, quando o próprio Ministério Público pediu a minha absolvição? Claro que há um Bruno a seguir!
As pessoas disseram tanta estupidez naquela altura que têm de a manter até ao dia em que morrerem. Porquê? Para acharem que não são estúpidasIndependentemente de ter sido absolvido haverá sempre essa desconfiança.
A partir do momento em que foi o Ministério Público a pedir a minha absolvição não há dúvidas, porque não foi o meu advogado. Não podia haver na cabeça de ninguém nenhuma dúvida.
As pessoas disseram tanta estupidez naquela altura que têm de a manter até ao dia em que morrerem. Porquê? Para acharem que não são estúpidas. É nesta sociedade em que vivemos, aquela que não tem coração para dizer 'eu errei, fiz mal, se calhar as coisas que eu dizia não fizeram sentido nenhum'. As pessoas gostam de manter a sua estupidez para se olharem no espelho e dizerem 'eu não sou estúpida', mas infelizmente a maior parte é. São todas de causas, mas é tudo uma treta. Escrevem na internet, mas fazer alguma coisa? Zero.
Aquela senhora... Sabe porque é que ela estava a falar?
Porquê?
Porque cheguei à internet e pedi desculpa a três pessoas que me fizeram muito mal, mas eu não quero ter isso mais dentro do meu coração. Quero resolver, nem que seja só por mim. Estas pessoas todas de causas, os comentadores, os jornalistas quando veem alguém fazer algo diferente ficam confundidas. Agora, questiono: como é que um pai explica isto tudo a um filho? Quero que as minhas filhas acreditem que as pessoas são intrinsecamente boas, mas não são.
Também teve de lidar com o ataque em Alcochete, uma situação particularmente difícil.
Foi hediondo… E muita gente me criticou quando eu disse coisas que foram cortadas pela comunicação social. Uma semana ou duas antes tinha havido exatamente igual no Guimarães, uma semana depois houve exatamente igual no Boavista e no Leixões.
Agora pode-me dizer: mas não havia imagens. Ok, hipocrisia. No Boavista foram parar jogadores ao hospital, estiveram internados. Quero com isto dizer que houve antes e depois. Todo o circo mediático que se fez com Alcochete não resolveu. Tem de se resolver o problema e não criarem-se telenovelas. Durante muitos anos debati-me pelo problema…
As minhas filhas mais novas já me perguntaram o que é que aconteceu no Sporting. Uma perguntou-me: 'Pai, bateram nos jogadores do Sporting?'De que forma?
Tinha estado na Procuradoria Geral da República uma semanas antes para falar do problema da violência. É irónico. Tomei a iniciativa de entregar aos grupos parlamentares propostas de legislação contra a violência no desporto, foi uns tempos antes, não uns anos.
[O caso] ficará para sempre com consequências tremendas para todos, eu não sou eremita, tenho família… As minhas filhas mais novas já me perguntaram o que é que aconteceu no Sporting. Uma perguntou-me: 'Pai, bateram nos jogadores do Sporting?'
E como é que respondeu?
Tenho uma velha máxima que é: 'a verdade nos libertará'. Tenho de ter cuidado na seleção de palavras, mas digo a verdade. Contei às duas o que se passou.
O futebol assustou-me. Já houve uma altura em que nem queria ouvir falar sobre uma coisa dessas, mas há um bichinhoGostava de voltar para o futebol?
O futebol assustou-me. Já houve uma altura em que nem queria ouvir falar sobre uma coisa dessas, mas há um bichinho. Esquecendo esse episódio todo, às vezes sim, tenho alguma saudade do trabalho que fiz no qual tenho muito orgulho. O meu coração vai acalmando, o tempo tem essa coisa maravilhosa, passa e vamos envelhecendo e o coração amolecendo. Se tenho isso no meu horizonte? Não, ainda não passou assim tanto tempo.
O Bruno tem a capacidade de se reinventar. Surpreendeu tudo e todos quando entrou para o 'Big Brother'. Foi uma decisão pensada?
Eu funciono muito em termos daquilo que me faz sentido. Esse tipo de decisões, como entrar num programa seja de que nível for, não se aplica fazermos disso um pensamento de física nuclear. É dar uma relevância que não tem.
Gosto? Sim. Faz-te sentido? Sim. Desafia-te? Sim. Ok, vamos embora! Essa capacidade de reinvenção tem muito a ver com quem está bem com a vida. Não devo nada à vida que me permita reprimir desafios que gosto.
Não se importa com o que as pessoas pensam?
Sinceramente, o que me interessa que as pessoas ficam a pensar quando, com meia dúzia de notícias falsas, pensam o que querem? O que é que me interessa? Essa lição já aprendi.
Podíamos pensar em como é que uma pessoa que já foi presidente do Sporting agora é DJ. Uma pessoa que já foi presidente e que cantou o 'Castigo'. Então e uma pessoa que já foi presidente do Sporting e que teve uma capa a dizer 'Culpado'? Acho que isso é tudo mais grave.
Passou a relativizar as coisas?
Não! O que estou a dizer é que se gosto e se sinto que é um desafio que pode me tirar da minha zona de conforto, vou estar com raciocínios quando as pessoas não têm nenhum raciocínio para comigo? Tenho é de pensar em mim. Por isso é que dá certo, porque as pessoas veem o lado genuíno.
O que é que as pessoas viram no programa que foi problemático? Ela estar a passar e eu puxar-lhe no pescoço? Dar-lhe um beijo? Ela fez-me o mesmo, há imagens exatamente iguaisAcha que o 'Big Brother' correu bem, apesar de todas as polémicas que surgiram com a Liliana [alegado comportamento agressivo]?
E qual foi a polémica que foi criada? O que é que as pessoas viram no programa que foi problemático? Ela estar a passar e eu puxar-lhe no pescoço? Dar-lhe um beijo? Ela fez-me o mesmo, há imagens exatamente iguais.
Sempre respeitei toda a gente e julguei, mesmo sendo eu uma pessoa conhecida, que aquilo poderia ser algo de orgulho. Tínhamos duas pessoas que se apaixonaram num programa e podíamos falar de dois temas muito interessantes: racismo e homofobia. Pensava que estava a fazer um trabalho fantástico… Percebi que há uma série de associações que [defendem] que 'todos diferentes, todos iguais', mas não entrem na minha quota. Mais uma vez, tive de me chocar novamente com o mundo.
Essas associações tiveram de inventar de tudo para fazer daquilo uma coisa feia e passei a não ter respeito nenhum por elas. Acho que temos de respeitar todas as pessoas e se decidirem apaixonar-se por A, B ou C não pode permitir histerismos. E depois o histerismo caiu todo para cima de mim, o normal. É fácil!
Pode dizer: 'O Bruno tem sempre justificações'. Não, porque eu e a Liliana tivemos de responder às queixas [de agressão para com ela] e percebemos que as pessoas que as fizeram fazem parte dessas associações.
Mas, apesar dessa polémica, acabou por viver uma história de amor.
Sim, foi uma bonita história de amor que acabou exatamente como todas as minhas histórias de amor…
© Instagram/Cristina Ferreira
Aos 50 já não é igual a acabar aos 40, 30...Como assim?
Acabou… As pessoas têm 10 anos, 20, 30, 40, 50... Aos 10 anos é uma coisa, aos 20 é outra, aos 30 é outra, aos 40 também e aos 50 outra completamente distinta. Vou dizer que não foi lindíssimo? Não, porque foi. Vou ter algum pensamento ou sentimento errático perante a pessoa que esteve comigo? Nunca o fiz, nunca o farei. Desejo tudo de bom para uma pessoa que esteve comigo, mas... acabou. E aos 50 já não é igual a acabar aos 40, aos 30, aos 20...
Como é que estão as coisas entre si e a Liliana?
Houve um problema com uma sobrinha e eu prontamente ajudei. São coisas distintas. Como seres humanos quando ela precisou eu disse 'presente' e graças a Deus no dia a seguir a sobrinha estava nos braços da tia. Como relação… passei dos 49 para os 52.
Ainda tem esperança de encontrar alguém?
Não sou um eremita, [mas] para mim - eu, Bruno, não estou a incluir ninguém neste sentimento - foi um tremor de terra na minha vida. É o que é.
Não estava a contar que acontecesse...
Sabemos que quando temos uma relação que é possível terminar, mas não é assim que pensamos no dia a dia. Se calhar se tivesse 40 anos podia dizer que é uma coisa muito linda... Neste momento, sou novo, sim, mas já passei o meio século. Aos 52 anos aquilo que nos acontece na vida já pesa de outra forma. Não se pode ter a leveza ou a leviandade de dizer: 'Ah, está tudo bem. Qual é o problema? Não há nenhum! Não sei quantos casamentos, não há problema nenhum, chega a próxima e está a andar'. Não, chega a um ponto que pesa e mói. Agora vai acontecer o que o meu coração ditar, o que a minha cabeça conseguir, o que Deus quiser.
Começou o ano a pedir desculpas… Há alguém que lhe deva um pedido de desculpas?
Nunca! Não sei o que é isso. [diz de forma irónica] Deve ser brilhante, magnífico, sinto-me muito feliz das pessoas que conseguem isso na vida, mas não sei o que é isso.
O Bruno já perdoou toda a gente que tinha de perdoar?
Não, isso foram só três [risos]. Não me transformei na Madre Teresa de Calcutá e mesmo assim… Acho que isto tem de ser com calma. Nestas três pessoas já me cruzei com uma delas e é estranho. Porque é que tenho de ter um sentimento se não as conheço? Tornei público, porque achei que as pessoas devem perceber que podemos fazer melhor. Agora cada vez que fizer uma coisa destas não vou tornar público. Vou começar por pessoas que não conheço de lado nenhum, mas para aqueles que conheço o meu coração ainda tem de melhorar. Ainda sou uma pessoa cheia de defeitos.
Quero que este ano seja o meu pontapé de saída da minha peça de teatro
Quais são os seus objetivos profissionais?
A minha agenda vai estando muito preenchida enquanto DJ e quero que este ano seja o meu pontapé de saída da minha peça de teatro. Continuar no entretenimento.
Como dramaturgo e ator?
Sim. Por um motivo ou outro não comecei porque há uma série de coisas que se tem de fazer primeiro para se estrear com a qualidade que se quer, porque a peça é de facto gira, acho que as pessoas vão adorar, mas quero que este ano seja muito diferente. Deixar de ser apenas aquilo que é falado para passar a ser o que estou a fazer naquele momento.
Comentários