“Hoje em dia tenho as ferramentas necessárias para conseguir ajustar-me àquilo que eu sinto em relação a mim e ao meu corpo”, afirmou Mónica Sintra, em conversa com o Fama ao Minuto, em relação aos distúrbios alimentares que sofreu.

Uma fase difícil que recordou também no mais recente programa ‘Alta Definição’, onde falou detalhadamente daquilo que viveu.

“[As questões da anorexia e bulimia] já estavam no meu pensamento desde os 15 anos. Depois começaram a manifestar mais tarde porque quando estás sozinha é mais fácil controlar aquilo que comes e que não comes”, começou por dizer, explicando logo de seguida que os primeiros sinais, aos 15 anos, foi “culpar-se pelo insucesso através do corpo”.

“Era gordinha e os meus colegas da escola faziam o favor de reforçar isso constantemente. [Chamava-me] badocha, caixa de olhos, lontra… coisas simpáticas. Achei sempre que não conseguiria vingar naquilo que queria pelo meu corpo”, disse, referindo que na altura geria tudo isto “a ser a rapariga ‘cool’, companheira dos rapazes, porque eles também nunca queriam namorar com a gorda".

"Era a confidente deles. Foi a forma que arranjei para me inserir em determinados grupos”, acrescentou, contando que houve uma fase na adolescência em que decidiu ser gótica. “Não fazia a mínima ideia do que era ser gótica. Apenas sabia que se me vestisse de preto notava-se menos. Andei durante dois, três anos em que o meu armário parecia tudo igual porque era tudo preto”.

Com o sucesso do tema ‘Afinal Havia Outra’, começou a ouvir de algumas pessoas: “Tu estás lá, mas devias emagrecer mais um bocadinho”. E foi aí que começou a “controlar, a contar as calorias, a evitar jantares com amigos para estar em casa e comer só as calorias que precisava para sobreviver”.

“Na altura contava tudo, pesava tudo. O meu peso mínimo não foi nada de extraordinário. Pesava 47 quilos, portanto, as pessoas olhavam e percebiam que, de facto, estava mais magra que o normal, mas achavam que era excesso de trabalho. Na altura estava também a fazer um curso, tinha uma vida um bocadinho acelerada. Quando começo a perceber que não conseguia porque começo a sentir fome e a ter que estar em grupo porque vou para a estrada com bailarinas, com a minha mãe, o meu pai… Portanto, tenho que comer. Passo da fase da anorexia para a bulimia, que é a fase em que comes sem precisar, da forma mais rápida possível e, dessa mesma forma, a seguir vais expelir tudo aquilo que comeste, sem ninguém ver”, explicou.

Depois de “expelir” tudo o que tinha comido, Mónica Sintra, recorda, não ficava com fome. “Tornou-se num vício. Se conseguia agora, deixa-me comer mais para voltar outra vez e ir à casa de banho. Chegava a não comprar comida para ter em casa, mas era desnecessário porque pegava no carro às quatro da manhã, ia às bombas de gasolina e comprava tudo o que precisava e o que não precisava. E estava ali dez minutos a consumir aquela quantidade de calorias absurda onde me sentia bem porque estava a satisfazer aquele desejo. Sentia-me mal fisicamente porque uma pessoa começa quase a transpirar. Não precisamos de comer gelados, batatas fritas, amendoins… tudo de uma vez. Mas depois acabas de comer, vais rapidamente à casa de banho, sentes um alívio fantástico e pensas: ‘Afinal eu é que mando no meu corpo, não é a minha cabeça que manda em mim’”, explicou.

Em busca da perfeição, a artista contou que nem quando chegou aos 47 quilos “achava que era perfeita”.

Durante a conversa com Daniel Oliveira, Mónica Sintra recordou ainda alguns comportamentos menos adequados como “marcar jantar com amigos e desligar o telemóvel, não lhes abrir a porta porque entrava em pânico ao saber que tinha que ir a um restaurante comer”. “E depois se eu não conseguisse deitar a comida fora? Ia engordar e, para além de engordar, estava a ser fraca. Passei dois, três anos em que era muito solitária. Não queria que as pessoas soubessem para não se preocuparem, porque a maioria das pessoas não percebe isto, acha que é a mania das dietas, e não é. Se assim fosse não seria considerado um distúrbio alimentar onde tens que ser tratada por médicos. Mas ao mesmo tempo não queria passar por aquilo. Obviamente, as piores coisas que pude fazer era antes de cantar ir vomitar”, continuou.

A artista referiu que a sua terapeuta da fala foi das primeiras pessoas a perceber que não estava bem. “Ela dizia: ‘Não entendo como é que a Mónica não fuma, não bebe, faz os exercícios todos e está a começar a fragilizar a sua voz, ela está a perder-se'. Houve um dia em que tive que lhe contar e ela disse-me uma coisa muito engraçada. ‘Por mim tudo bem, pode continuar a fazer isso. Agora, não vale a pena gastar dinheiro em terapia da fala e continua a ser feliz a vomitar. Que tal?’. Pensei que se calhar era melhor parar. Ou canta ou é bulímica. Tive que optar e foi aí que pedi ajuda. Na altura fui para um psiquiatra”, lembrou.

Apesar de saber que neste momento pode contar com o apoio dos pais, caso tenha uma recaída, tem também a noção que o pedido de ajuda tem de partir de si.

Este é um processo que nunca está “encerrado”, mas sim “adormecido”. “Não acredito em ninguém que passe por distúrbios e que esteja completamente curado. Todos os dias é uma batalha e tens que pensar muito bem naquilo que queres fazer da tua vida e como queres gerir a vida e a comida. De facto, permanecerá para o resto da vida”, disse.

Hoje, se lhe apetecer comer um alimento calórico, o pensamento que surge de seguida é: ‘Mas porque é que comeste. És tão fraca, não precisas disto. Porquê? Não é isto que te faz manter viva. Vai retirar isso do teu corpo...’. Depois a parte que já tenho conhecimento em relação a mim é: ‘Não sejas parva. Comeste, não devias ter comido, mas aprende a lição e da próxima não comas’”.

Após toda a fase menos boa que passou, hoje “estima-se” muito mais e deve isso ao filho. “Ele trouxe-me uma confiança que eu não tinha e nem sequer sabia que tinha. A gravidez para mim foi um momento difícil porque eu achei que não iria conseguir olhar para o meu corpo. Curiosamente, gostei muito de estar grávida. Nessa altura não tive qualquer comportamento bulímico. Aquilo que me mantém em termos de distúrbios alimentares adormecida é: ‘Eu não posso fazer isto a mim e não posso fazer isto ao meu filho’”.

Mónica Sintra é mãe de Duarte, de sete anos, fruto da relação terminada com Sérgio, com quem partilha a custódia do menino.