"Fui à luta, com ou sem Trissomia, é teu filho. E filhos para mim são as coisas mais importantes". Estas foram as palavras de José Wallenstein quando em conversa com Daniel Oliveira recordou a morte do primeiro filho, Simão, que morreu aos cinco meses. O menino, que nasceu com Trissomia 21, faleceu por causa de complicações cardíacas, associadas à doença.

"Fiz o máximo que podia para o ajudar a ultrapassar o que fosse possível", afirmou, acrescentando que "não pode fazer nada" para impedir que o filho morresse e "a natureza decidiu por si".

Na altura, há 30 anos, "os pais não podiam estar com os filhos, o que lhe fazia certa confusão".

"Ligaram do hospital a dizer que ele tinha falecido. Tive um misto de sentimentos, uma profunda tristeza", contou. "A perspetiva era sobreviver, ser operado e ter uma vida com um filho com Trissomia 21, com tudo o que isso representa. Eu vejo, é difícil. Felizmente, e isto pode ser estranho dizer, mas a natureza resolveu o problema", desabafou.

"Tive um misto de sentimentos. A perda de um filho é uma coisa terrível, a coisa pior, mas ao mesmo tempo [foi] uma sensação de alívio. Isso digo com toda a honestidade", confessou.

"Pode ser estranho eu falar disto desta maneira, [mas] já passaram 30 anos, já consigo falar com alguma distância. Sendo honesto, foi uma tristeza profunda mas também um alívio", explicou, referindo também que "isto é uma sensação que se vai construindo consoante se vai fazendo o luto".

Reforçando que "iria dar a melhor qualidade de vida ao filho, caso sobrevivesse, não deixa de pensar que se calhar foi melhor assim. Eu não fiz nada, foi a natureza que fez por mim", frisou.

No entanto, não deixa de realçar que "foi o momento mais triste da sua vida". "É um bocado de nós que se vai embora. É uma coisa que fica para sempre. O meu querido Simão está aqui no meu coração para sempre", salientou.

Agora com 63 anos, José Wallenstein começa a pensar mais na morte e a preocupar-se com esta questão, esperando "não sofrer muito". "Gosto muito de viver, adoro a vida", partilhou.

Além de se preocupar com o facto de poder não conseguir acompanhar o crescimento dos filhos, o sofrimento, frisa, é também um grande motivo de preocupação. Aliás, diz, espera que a lei da eutanásia seja aprovada e, caso venha a estar em sofrimento, recorrerá a essa medida.