De acordo com um comunicado da TI publicado na sua página de Internet, há muito pouca transparência na gestão dos fundos do Ébola, pelo que o primeiro passo é realizar uma auditoria completa, que deve incluir uma prestação de contas detalhada de todas as doações já recebidas e como foram aplicadas.

Uma primeira auditoria parcial na Serra Leoa, lançada dia 14, já salientou gastos não documentados, pelo que a ONG anticorrupção quer que os governos tornem imediatamente públicos os valores recebidos e onde estão a ser gastos, à semelhança do que tem sido feito por outros países confrontados com situações de emergência similares.

Segundo José Ugaz, presidente da Transparência Internacional, "sistemas de gestão financeira públicos fracos associados a altos níveis de corrupção criam muitas oportunidades para o abuso de poder e para ações não éticas, que limitam a possibilidade das doações serem utilizadas de forma eficaz para travar o surto do Ébola".

"Quando tanto dinheiro inunda uma região em tão pouco tempo, a prestação de contas relativa a esses fundos deve saltar para o topo da lista de prioridades", acrescentou o responsável da organização com sede em Berlim.

O surto do Ébola na Serra Leoa, na Guiné e na Libéria fez surgir uma onda de doações proveniente de particulares e instituições nacionais e internacionais, incluindo governos e cidadãos, para apoiar os países na luta contra a doença.

A preocupação da TI surge pelo facto de uma investigação que levou a cabo em 2013 - quando não estavam em causa surtos ou epidemias - ter mostrado que 48% dos doentes na Serra Leoa e 40% na Libéria tinham de pagar subornos para ter acesso aos serviços de saúde.

A Transparência Internacional considera que, não fosse a corrupção crónica de que aqueles países padecem em certas áreas, o sistema de saúde estaria melhor preparado para dar uma resposta rápida e eficaz em caso de emergência, pelo que é urgente combater a corrupção e construir um sector da saúde mais forte, nomeadamente processando os culpados por desvios que podem levar à morte de pacientes.

De acordo com os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 23.000 pessoas foram infetadas com o vírus do Ébola e mais de 9.400 morreram nesta epidemia, a mais grave desde que o vírus foi identificado na África central em 1976.

Só na semana passada foram registados 74 novos casos na Serra Leoa, 45 dos quais na capital, Freetown, e 52 na Guiné-Conacri.