As mulheres e os trabalhadores com menos habilitações literárias são quem mais frequentemente é despedido quando optam por revelar à entidade patronal que são portadores do vírus HIV/SIDA, revela um estudo da Coordenação Nacional para a Infeção HIV/SIDA.

O documento, divulgado terça-feira, é resultado da realização de 1.634 inquéritos a portadores do vírus durante o final de 2009 e meados de 2011. O trabalho resulta de um protocolo de colaboração entre a Coordenação Nacional para a Infecção VIH/SIDA, o Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE).

De acordo com as conclusões do relatório final “Diagnóstico da Infecção VIH/SIDA: representações e efeitos nas condições laborais”, a experiência do despedimento em consequência de dar a conhecer à entidade patronal o facto de ser portador do vírus é vivida principalmente pelas mulheres (30 por cento) e pelos menos escolarizados (44,4 por cento).

Segundo os dados do relatório, dos 1.634 indivíduos que participaram no estudo, apenas 242 optou por dar a conhecer o diagnóstico à entidade patronal, sendo que destes, 159 referem que “esta se revelou compreensiva e procedeu ao ajustamento das condições de trabalho às suas necessidades (65,7 por cento).

“Todavia é de destacar que 22,7 por cento dos indivíduos foram despedidos ou despediram-se por pressão da entidade patronal”, lê-se no relatório.

Em matéria de género, o relatório é claro e refere que “é também destacável o facto de haver uma diferença de cerca de 10 pontos percentuais entre homens (71,6 por cento) e mulheres (61,4 por cento) ao referirem o apoio facultado pela entidade empregadora”.

“A corroborar este dado está ainda o facto de as mulheres (30 por cento) referirem mais do que os homens (21 por cento) terem sido despedidas ou terem-se despedido por pressão da entidade patronal”, dizem os investigadores.

O relatório revela também que existe diferenciação no tratamento quando é analisada a escolaridade das pessoas que revelaram ao seu empregador terem o vírus, tendo os investigadores chegado à conclusão de que “são os respondentes sem escolaridade que mais referem ter sido despedidos ou forçados a despedirem-se (44,4 por cento)”.

“Este valor decresce significativamente nos restantes níveis de escolaridade, o que atesta a vulnerabilidade social dos indivíduos menos escolarizados”, refere o relatório, acrescentando que entre as pessoas com ensino básico a percentagem foi de 23,2 por cento, 20,8 por cento entre aquelas com o ensino secundário e de 22,2 por cento nas pessoas com um curso superior.

O número de despedimentos ocorre maioritariamente (50 por cento) entre as pessoas com idade igual ou superior a 65 anos.

Já no que diz respeito ao tempo que demoraram até serem despedidos, o relatório aponta que entre os que o foram, “em 50 por cento dos casos isso aconteceu logo na primeira semana, e para 18,8 por cento dos casos entre a primeira semana e o primeiro mês ou nos seis meses subsequentes”.

28 de julho de 2011

Fonte: Lusa