Vila Real e Bragança são os primeiros distritos fora de Lisboa a receber o rastreio nacional que é dirigido a quem usa a voz como instrumento de trabalho mas é aberto a toda a população.

“O objetivo é fazer um despiste nacional de voz, ver como está a saúde vocal dos portugueses. É a primeira vez que se faz um levantamento assim”, afirmou Clara Capucho, cirurgiã otorrinolaringologista responsável pelo rastreio, que é promovido pela Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA).

A descentralização do rastreio começou hoje de manhã, no centro de saúde de Mateus, em Vila Real.

Clara Capucho começa por fazer um questionário sobre as queixas dos utentes e a utilização da voz em termos profissionais e faz, depois, uma laringoscopia para visualizar as cordas vocais e ver se há lesões.

O professor Nuno Miguel Fernandes tem uma rouquidão permanente e disse que a profissão o obriga a usar a ferramenta que é a voz. Hoje ficou a saber que não tem lesões nas cordas vocais, mas uma alteração que vai ter que tratar e que não pode esforçar muito a voz. “Este rastreio é uma mais-valia e agora vou direcionar-me ao médico de família”, salientou.

Miguel Guedes, vocalista dos Blind Zero, disse ser necessário ter uma “atitude pró-ativa e antecipatória”. “Os cuidados com a voz, assim como os cuidados de saúde gerais, são fundamentais e, para a classe artística, então, são vitais”, afirmou.

O cantor considerou que um dos grandes problemas da voz “é a indisciplina” com que ela é usada. Os “músicos, como de alguma forma têm uma disciplina que se vai adquirindo de alguns anos de estrada e de gravar discos, acabam por ter um ambiente mais controlado, por incrível que pareça”, sublinhou. “O desgaste e a falta de descanso, os horários, acabam por ser momentos excessivos sempre para a voz e tento ter o cuidado possível”, referiu.

Sérgio Agostinho, ator da companhia de teatro Peripécia, elencou a oportunidade de ser “consultado por um especialista, que tem experiência em observar e tratar profissionais da voz”. “Para um ator é fundamental ter esse cuidado e conhecimento de como está a funcionar o nosso instrumento”, frisou.

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O cantor Emanuel é já acompanhado pela especialista e encontrava-se, hoje, um pouco rouco.

O músico fez questão de vir a Trás-os-Montes para “sensibilizar as pessoas” e alertar para que a “voz é uma parte do corpo fundamental” e com a qual é preciso “ter muitos cuidados”. No seu caso, exemplificou, que bebe “pelo menos litro e meio de água por dia” e que, a primeira coisa que faz ao acordar, é “beber dois copos de água norma”.

Emanuel sublinhou ainda o “trabalho missionário” de Clara Capucho e referiu que a médica “tem feito muito por esta área da medicina em Portugal”.

Por sua vez, a especialista destacou a “aposta na medicina preventiva” e na “divulgação de cuidados simples” que todos devem ter, como beber muita água, não pigarrear e não esforçar a voz em caso de rouquidão ou constipação.

A especialista referiu que, nos rastreios, as patologias que são detetadas com mais frequência são a laringite de refluxo, lesões das cordas vocais por má funcionalidade, nódulos, pólipos, quistos e, para além disso, algumas laringites crónicas, que são reflexos do tabaco.

“Lesões malignas felizmente apanhamos poucas, mas as que apanhamos podem fazer toda a diferença porque são tratáveis”, frisou.

O Ministério da Saúde associou-se à iniciativa. “Tenho muito gosto em estar aqui hoje porque é o início de um processo de descentralização que vai durar mais de um ano, porque o objetivo é fazer esta ação em todas as capitais de distrito”, afirmou o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado.