
“É necessário um reforço do número de enfermeiros [na Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo] e essa carência está a ter implicações nos cuidados de enfermagem prestados à população institucionalizada”, disse à agência Lusa o presidente da secção regional dos Açores da Ordem dos Enfermeiros, Luís Furtado.
Na sequência de uma visita à instituição, na ilha Terceira, a Ordem dos Enfermeiros apontou, em comunicado, várias “irregularidades”, o que “não caiu bem” à mesa administrativa da Santa Casa de Angra do Heroísmo, admitiu o provedor da instituição.
Pelas contas da Ordem, a instituição deveria ter, no mínimo, 32 enfermeiros, 16 no lar, que tem 150 utentes, e 16 na unidade de cuidados continuados integrados, que tem 35 utentes.
Rácios obedecem à legislação, diz Misericórdia
No entanto, Bento Barcelos, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, alega que os rácios de enfermeiros das duas valências estão “de acordo com a legislação”, já que no lar eram exigidos apenas seis enfermeiros e a instituição tem dez e um estagiário e na unidade de cuidados continuados integrados era exigida a presença de oito enfermeiros, estando em funções dez e um estagiário.
“Tudo na vida tem a sua racionalidade e nós temos de ter em conta os recursos humanos, materiais e financeiros”, considerou.
No início deste ano, foi feita uma alteração no turno da noite, que passou de quatro para dois enfermeiros (um para cada valência), o que para Luís Furtado não é “aceitável”.
“Temos 185 doentes para dois enfermeiros, divididos por quatro pisos e dois serviços diferentes. São condições terceiro-mundistas”, salientou, acrescentando que “mais de metade dos utentes está totalmente dependente” e que, aos fins de semana e feriados, o turno da manhã no lar é assegurado por apenas dois enfermeiros.
Segundo o provedor, que realçou que a alteração “é reversível”, a decisão foi tomada no sentido de reforçar o turno das 08:00 às 16:00, em que há mais cuidados de enfermagem a prestar, e tendo em conta que existiam, durante a noite, “muitas pausas, que não exigiam a necessidade de quatro enfermeiros”.
Entre as “irregularidades” que disse ter detetado, o presidente da secção regional dos Açores da Ordem dos Enfermeiros destacou a distribuição e administração de medicação por pessoal auxiliar.
“Não é admissível que essa administração seja feita por pessoal não qualificado. Estamos a colocar as vidas daquelas pessoas em risco”, frisou, alegando que os enfermeiros validam a prescrição e avaliam o estado dos utentes antes e depois da toma do fármaco.
Por outro lado, Luís Furtado salientou que “13,3% dos utentes desenvolve úlceras de pressão”, sublinhando que não há enfermeiros suficientes para fazer o planeamento dos cuidados e da alternância de posicionamento dos utentes acamados.
De acordo com o representante da Ordem dos Enfermeiros nos Açores, a Inspeção Regional da Saúde já tinha identificado uma “insuficiência de enfermeiros” e “falhas nos procedimentos de distribuição e administração de fármacos”.
O provedor, que disse não ter tido acesso ao relatório da Inspeção Regional de Saúde, alegou que, apesar de nem sempre o enfermeiro estar presente na altura da toma da medição, “é feita uma supervisão por parte da enfermagem”.
“É uma questão que não está fechada. Estamos a trabalhar no sentido de encontrar um esquema para que a passagem do enfermeiro coincida com o momento da toma da medicação”, adiantou.
Bento Barcelos acusou ainda a secção regional da Ordem dos Enfermeiros de procurar “protagonismo mediático”, ao “levantar suspeitas” de que não estão a ser prestados os cuidados adequados na instituição, junto da comunidade, em vez de enviar um relatório da visita à mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo.
Comentários