“A ministra da Saúde e o Governo devem ter atenção ao que está a acontecer na saúde em Portugal. Infelizmente o Governo não tem dado a atenção que devia à saúde, continua a desvalorizar, e é bem possível que situações semelhantes a esta venham a acontecer com outros profissionais de saúde. Porque as pessoas já atingiram o limite do aceitável. O limite já foi ultrapassado e o Governo continua impávido e sereno a sorrir”, afirmou Miguel Guimarães à agência Lusa, a propósito da greve dos enfermeiros que começa na quinta-feira e se prolonga até final do ano.

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O bastonário da Ordem dos Médicos frisa que não se trata de uma ameaça, mas antes de uma constatação, porque os profissionais do Serviço Nacional de Saúde estão desesperados, revoltados e sentem-se enganados.

“Este tipo de situações como a dos enfermeiros, não desta forma, mas de outras formas, pode vir a acontecer envolvendo outros profissionais de saúde”, disse.

Miguel Guimarães escusou-se a classificar em concreto a greve dos enfermeiros que vai afetar cinco blocos de cirurgia em grandes hospitais públicos, mas diz entender “a revolta” dos profissionais de saúde.

As pessoas que trabalham no SNS estão revoltadas com o sistema

“As pessoas que trabalham no SNS estão revoltadas com o sistema, estão fartas de ser enganadas por quem tem responsabilidade política e estão desesperadas. Só o desespero é que pode levar as pessoas a pensar fazer uma greve [de longa duração]”, declarou à agência Lusa.

O representante dos médicos manifesta-se preocupado com os efeitos da greve nos doentes, lembrando que, “quando as greves são demasiado prolongadas”, as situações podem tornar-se “complexas”, sobretudo para os doentes com “situações mais graves”. “Pode ser complexo e isso, como a qualquer cidadão, deixa-me preocupado”, disse.

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“A única coisa que é verdade, é que o SNS não está definitivamente bem. E quem tem responsabilidades diretas sobre o SNS, que é o Governo, está a avaliar mal a situação ou não está sequer a avaliar a situação”, lamentou o bastonário, indicando que a prioridade da nova ministra da Saúde “devia ter sido perceber o que se passa com os profissionais de saúde”.

A greve dos enfermeiros, que reclamam uma estrutura de carreira e o estabelecimento da categoria de especialista, começa na quinta-feira e vai afetar as cirurgias programadas de cinco centros hospitalares: Centro Hospitalar do Porto, Hospital de São João (Porto), Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Centro Hospitalar Lisboa Norte (Lisboa) e Centro Hospitalar de Setúbal até 31 de dezembro.