O professor holandês Jo Frencken foi convidado para lecionar um curso no Porto e partilhar a técnica, antes de integrar a viagem a Moçambique, entre 10 e 15 de julho, para mais uma missão da associação portuense Health4Moz – Health for Mozambican Children and Families.
Os alunos e formadores do curso de cariologia e dentisteria, que irão integrar a mesma missão, aprenderam a técnica denominada Tratamento Restaurador Atraumático, que irão levar a Moçambique, e que dispensa o uso, por exemplo, das brocas.
A técnica, contou Jo Frencken, surgiu durante os “quatro anos e meio” em que viveu na Tanzânia, onde era era professor de medicina dentária na universidade de Dar es Salam, e onde ensinou “a melhor forma de dar assistência nas aldeias e nas escolas”.
Sem possibilidade de utilizar a broca, criou então um método alternativo de tratamento das cavidades dentárias, percebendo então que “se usasse ferramentas manuais e massa conseguiria travar a doença no dente”, acrescentou.
Criada há 35 anos por Jo Frencken, a técnica desenvolveu-se e o que começou na Tanzânia, ”está já na Austrália, Estados Unidos, Rússia, Portugal, Brasil, Holanda, em África, em todos os países do mundo nos mais e menos industrializados”, salientou.
“No meu país, 24% dos adultos temem ir ao dentista por causa da broca e da agulha e este tratamento é o oposto, já que na maioria dos casos não é preciso anestesia local ou uma injeção, é quase indolor”, relatou.
E aconselhou: “os dentistas deveriam aprender esta técnica de forma a poderem escolher se usam ou não a broca. É verdade que o tratamento não consegue fazer tudo, há limitações, e a broca pode num ou noutro caso, ser necessária, mas não sempre”.
Para André Moreira, aluno do 5.º ano, a técnica aprendida “é aplicável em lares de idosos ou em casa, em pessoas de mobilidade reduzida, e até mesmo ao nível da prevenção”, enquanto para a colega de curso, Luísa Tavares o futuro “passa por este tipo de tratamento”.
“Tentamos cada vez mais não fazer cavidades tão extensas, não tirar tanta estrutura do próprio dente e conservá-lo ao máximo”, explicou acompanhando a lógica aprendida com Jo Frencken.
Paulo Melo, coordenador do curso de cariologia e dentisteria, argumentou que “a técnica tem uma filosofia muito própria e tem sido comprovadamente eficaz”, admitindo a sua utilização “como uma opção alternativa em algumas situações, como é o caso das pessoas que tem pânico do barulho da broca ou dificuldade em aceitar alguns dos instrumentos”.
A presidente da Health4Moz, Carla Rêgo disse à Lusa que a medicina dentária é uma das áreas que está integrada na atividade da associação e que “depois de há dois anos e meio terem feito a primeira missão no âmbito da medicina dentária, avaliando as necessidades quer ao nível formativo quer de prestação de cuidados”, surgiu a colaboração de Jo Frencken.
“Disponibilizou-se, “pro bono” para ir connosco e ensinar uma técnica que é barata, fácil, acessível e aplicável em países como Moçambique”, explicou.
O grupo irá “numa primeira fase, ensinar o que aprendeu aos alunos finalistas e docentes das universidades de Nampula e da Beira e depois seguir para as escolas para fazer a avaliação dos hábitos de saúde e higiene oral e aplicar esta técnica no terreno”, disse a responsável.
“Ao todo, esta nossa intervenção em Moçambique deverá chegar a 600 crianças”, revelou Carla Rêgo.
Esta viagem insere-se nos programas e projetos de cooperação para o desenvolvimento e de assistência humanitárias daquela Organização Não-Governamental e Desenvolvimento (ONGD) em Moçambique, nas áreas da saúde, educação, assistência médica, medicamentosa e alimentar.
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