“É muito difícil saber verdadeiramente qual é o número total de pessoas que infetam” porque mudam ao longo do tempo devido a fatores como a mudança na política de testes, de pesquisa do a contagem.

O epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto afirmou durante a reunião de peritos sobre a situação da pandemia em Portugal, que decorreu em Lisboa, que é com base “neste jogo de informação que tem naturalmente os seus limites e os seus intervalos de incerteza” que se pode imaginar que, neste momento, haverá cerca de um milhão de portugueses que “teve contacto com o vírus com esta incerteza grande entre 600 mil e até um 1,8 milhões”.

“[Esta estimativa baseia-se] olhando só para a modulação dos dados que conhecemos todos e que têm por base os casos notificados em Portugal”, explicou.

Henrique Barros apresentou alguns dados de investigação que têm realizado ao longo deste tempo de epidemia.

“Em junho, julho avaliamos 4.500 trabalhadores do ensino superior público do Porto, das diferentes instituições, e encontrámos cerca de 0,5% de pessoas que tinham tido um diagnóstico positivo por PCR e pelo contrário tínhamos 3,9% de pessoas, praticamente oito vezes mais, que tinham marcadores de imunidade”, adiantou.

Um pouco mais tarde, em agosto setembro, foi avaliada uma amostra aleatória da cidade do Porto, que é seguida há 20 anos, que permitiu estudar um conjunto de pessoas que representam esta “enorme comunidade”.

“É muito parecida essa relação entre ter tido um diagnóstico e ter de facto a infeção e o valor global (…) chega a ser 10 vezes mais alto”, sublinhou.

Neste momento, foi estudada uma amostra de 6.370 estudantes da Universidade do Porto e o número de pessoas infetadas era 9,4%, havendo esta relação de cerca de sete vezes mais entre os casos que identificaram como PCR positivo e o número de casos encontrados com infeção que não foi percebida no momento da sua ocorrência.

“Estes resultados são próximos também dos valores que há alguns meses se encontraram de cerca de 3,4% de pessoas com imunidade mais baixa e cerca de 0 8% de pessoas com diagnóstico PCR positivo, que foram os resultados da primeira avaliação nacional do Instituto Nacional de Saúde”, observou.

Com base nesta informação e sabendo da “enorme heterogeneidade da infeção em diferentes locais do país”, Henrique Barros disse que se pode “imaginar” que vai chegar uma vacina à população, que, provavelmente, “entre 15 a 20% já estará imunizada”.

“Poderá ou não estar eficazmente protegida isso é uma das faces deste poliedro de incertezas que temos”, comentou.

Henrique Barros defendeu que se numa situação como a atual, com 80% da população suscetível, se se mantiverem “as medidas farmacológicas” chega vacinar 24% das pessoas.

“Se não o fizermos, precisamos vacinar 83% para uma eficácia de vacina de 70% que é o número que me parece muito razoável embora todos os nós gostássemos que fosse de 100%”, rematou.

As vacinas contra a covid-19 deverão começar a ser administradas a partir de janeiro, sendo os grupos prioritários as pessoas com mais de 50 anos com patologias associadas, residentes e trabalhadores em lares, e profissionais de saúde e de serviços essenciais, foi hoje anunciado.

Em Portugal, morreram 4.724 pessoas dos 307.618 casos de infeção confirmados, segundo a Direção-Geral da Saúde.