Seth Berkeley, diretor executivo da Gavi — a Aliança para as Vacinas, que juntamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e com uma organização norueguesa para o controlo global de doenças infecciosas lidera o projeto Covax — garantiu que está otimista relativamente ao processo de angariação de fundos e de compra de vacinas que permitam fazer chegar dois mil milhões de doses a 91 países pobres.

O Covax é um consórcio que pretende garantir aos países de baixo e médio rendimento um acesso às vacinas contra a covid-19, para permitir imunizar cerca de 20% das pessoas mais vulneráveis, ao longo dos próximos dois anos.

Nos últimos dias, a imprensa internacional noticiou que relatórios internos da iniciativa Covax mostravam que o plano poderia falhar ou ser severamente atrasado, por falta de financiamento ou por problemas burocráticos, deixando milhões de pessoas de países pobres sem acesso à vacina até 2024.

Hoje, numa conferência de imprensa virtual, em que a agência Lusa participou, os responsáveis das organizações participantes no projeto Covax admitiram que ainda falta angariar dinheiro para completar o projeto, mas asseguraram que a iniciativa está a avançar e deverá garantir a distribuição de dois mil milhões de doses de várias vacinas aos países menos desenvolvidos.

“O nosso objetivo está vivo e recomenda-se”, disse Seth Berkeley, acrescentando que o Covax espera distribuir ainda mais doses das vacinas e mais cedo do que estava calendarizado, explicando que os problemas financeiros e burocráticos estão a ser ultrapassados, a bom ritmo.

Também o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, reforçou a ideia de que as primeiras doses das vacinas da AstraZeneca serão alocadas através do Covax, “no primeiro trimestre de 2021″, assegurando uma distribuição global e o “mais homogénea possível” desta forma de combate contra o novo coronavírus.

“As vacinas vão complementar, não vão substituir, a luta contra a pandemia”, disse Ghebreyesus, informando que, ao longo desta semana, falou com vários responsáveis de diversas farmacêuticas, para se assegurar de que o projeto Covax terá a assistência necessária do ponto de vista técnico.

O diretor-geral da OMS lembrou que há 190 países envolvidos na iniciativa Covax, “todos igualmente empenhados” em que tudo corra bem, e disse que a pandemia de covid-19 “apenas poderá ser controlada, quando todos estiverem protegidos, não apenas os mais favorecidos”.

A ministra interina do Desenvolvimento Internacional do Canadá, Karina Gould, e a embaixadora francesa junto da OMS, Stéphanie Seydoux, foram os rostos dos seus dois países na videoconferência, realçando o compromisso de os seus governos colaborarem ativamente no sucesso do projeto Covax, nomeadamente através da distribuição de vacinas junto dos países mais pobres.

Nenhuma destas duas responsáveis respondeu à pergunta sobre quando doariam doses das vacinas usadas nos seus países, nem sobre se as doariam ainda antes de vacinarem toda a sua população, mas mostraram-se determinadas em participar no esforço de não deixar os países mais pobres fora do plano de vacinação global contra a covid-19.

“Não nos podemos comprometer com datas. Um dia de cada vez”, disse Karina Gould, reforçando a ideia de que é necessário um esforço de solidariedade mundial para que não haja pessoas de fora do plano de combate contra o novo coronavírus.

Pascal Soriot, diretor executivo da Astrazeneca, uma das farmacêuticas que será utilizada no projeto Covax (por causa dos seus preços mais baixos), disse que a sua vacina está em fase final de teste e que espera ver a sua aprovação ainda em janeiro, prometendo negociá-la a preço de custo com a iniciativa global de ajuda aos países mais pobres.