21 de fevereiro de 2014 - 12h20

O consumo de medicamentos cardiovasculares quase duplicou numa década e, em 2011, representou uma despesa diária para o Estado de quase 1,8 milhões de euros, revela um estudo da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed).

O estudo “Medicamentos do Aparelho Cardiovascular: Uma análise dos padrões de utilização e despesa em Portugal Continental entre 2000 e 2011” indica que, nesse período, o consumo destes fármacos subiu 94%.

Calculado em Doses Diárias Definidas por 1.000 habitantes, o consumo passou de 288,4 doses diárias em 2000 para 558,7 em 2011, tendo sido o aumento “mais evidente” nos anti-hipertensores (99%) e antidislipidémicos.

Os cuidados de saúde primários foram responsáveis, em 2011, por 76% da prescrição destes fármacos a utentes do Serviço Nacional de Saúde em ambulatório, seguindo-se os cuidados privados (14%), os hospitais públicos (8%) e outras entidades (2%).

“Independentemente do local de prescrição a comparticipação dos medicamentos foi efetuada pelo SNS”, sublinha o estudo divulgado no site do Infarmed.

Em 2011, a despesa com estes medicamentos foi de 649,3 milhões de euros, refere a análise, adiantando que “o aumento da despesa a Preço de Venda ao Publico (+58%) foi consequência do aumento do consumo, mas também de uma utilização elevada de substâncias ativas para as quais não existiam genéricos comercializados”.

Neste período, acrescenta, verificou-se um aumento, embora mais ligeiro, dos encargos do SNS (35%).

Já os encargos dos utentes aumentaram até 2008, com taxas de crescimento de dois dígitos, mas a partir desse ano apresentaram uma tendência de decréscimo.

Quanto à prescrição de medicamentos genéricos verificou-se um aumento em todos os locais de prescrição, mas o valor permanece inferior nos cuidados de saúde privados (35%) comparativamente aos cuidados primários ou hospitalares (45%).

O Observatório do Medicamentos e Produtos de Saúde, do Infarmed, refere que “a análise aos valores dos indicadores, e as diferenças entre práticas médicas, indiciam a existência de oportunidades de melhoria dos padrões de prescrição”.

“As diferenças no nível de utilização, padrão de prescrição e custo de tratamento dia devem ser analisadas pelas entidades competentes com o objetivo de diminuir assimetrias regionais, que resultem de barreiras no acesso ao tratamento, e identificar oportunidades de melhoria dos padrões de prescrição, incentivando a utilização das opções terapêuticas mais custo-efetivas”, acrescenta.

Em Portugal, a área dos medicamentos cardiovasculares é a que apresenta um maior nível de consumo, tendo representando, em 2010, 27% da despesa total com medicamentos.

“Estes dados refletem, em parte, a prevalência das doenças cardiovasculares, as quais constituem a principal causa de morte em Portugal, contando-se, também, entre as principais causas de morbilidade, invalidez e anos potenciais de vida perdidos na população portuguesa”, salienta o estudo.

Apesar do aumento da acessibilidade a estes medicamentos e das inovações terapêuticas terem sido responsáveis pela melhoria dos resultados em saúde, ”parece existir ainda um elevado potencial para obtenção de ganhos em saúde na população portuguesa”.

Dados da Fundação Portuguesa de Cardiologia referem que, em 2012, ocorreram em Portugal 23 mil mortes por doenças cardiovasculares, das quais 16 mil por AVC e 7.000 por enfarte do miocárdio.

Lusa