A associação Abraço abriu as portas no Bairro Alto, em Lisboa, no dia 05 junho de 1992, com o “grande desafio” de apoiar os doentes internados no Hospital Egas Moniz e “tornar mais humano” este hospital.
“Nessa altura o grande desafio era munir o Hospital Egas Moniz, que foi a base de todo o nosso trabalho, de capacidade logística e técnica”, para que conseguisse dar resposta às necessidades dos doentes, contou à agência Lusa o presidente da Abraço, Gonçalo Lobo, que substitui Margarida Martins no cargo em 2014.
Nos anos 90 a “infeção foi galopante”, recorda, e “havia pessoas infetadas em Lisboa, no Porto, em Setúbal e também crianças órfãs de pais infetados pelo VIH que faleceram rapidamente devido à falta de medicamentos eficazes no combate à infeção”.
Na altura, o diagnóstico da doença era muito tardio. “As pessoas só eram diagnosticadas quando já tinham uma complicação inerente à debilitação do sistema imunitário” e morriam “num curto espaço de tempo”, contou.
Para atender a esta realidade, a fundadora da associação, Margarida Martins, e o infecciologista Kamal Mansinho desenvolveram vários projetos e a Abraço cresceu para outras cidades.
Nos finais dos anos 90 foi introduzido “um novo regime terapêutico de alta potência que veio permitir uma maior longevidade às pessoas e uma menor toxicidade dos medicamentos”.
Esta mudança colocou “novos desafios” à associação: “Hoje estamos com uma abordagem muito mais holística”, dando apoio desde o diagnóstico precoce até às pessoas que acompanham há mais de 20 anos e que “precisam de cuidados 24 horas dia”, adiantou o presidente da Abraço.
É o acompanhamento esteve “sempre em mente” e que visa também garantir que as pessoas infetadas pelo VIH envelheçam com qualidade de vida.
O trabalho em prol dos seropositivos e das suas famílias passa ainda pelo apoio domiciliário, pelo apoio às crianças seropositivas e filhas de pais seropositivos, por uma casa de acolhimento para pessoas acamadas, apartamentos para situações de emergência e um gabinete dentário, entre outras valências
O desafio mais recente da associação passa por tentar perceber os efeitos que uma medicação crónica feita durante muito tempo pode provocar às pessoas em termos sociais, clínicos e psicológicos, para poder atuar e melhorar futuro destas pessoas, disse o psicólogo, voluntário da associação desde 2007.
Ao longo dos 25 anos a associação tem travado uma luta contra a discriminação, que ainda persiste na sociedade.
“Os avanços terapêuticos são muito grandes, mas a sociedade não acompanha tão rapidamente esta evolução como gostaríamos”, lamentou.
Questionado se a Abraço continua a ser uma referência para os portugueses, Gonçalo Lobo recordou um estudo de 2014 que a apontou como a segunda associação com maior notoriedade a nível nacional, depois da Liga Portuguesa Contra o Cancro.
“Foi altamente positivo para nós perceber que o povo português e a sociedade portuguesa têm-nos como referência tanto no âmbito do VIH como na prestação de apoio direto às pessoas”, frisou.
Para assinalar os 25 anos, a Abraço vai lançar um novo ‘site’, o “VIH 360º, que pretende responder facilmente a todas as questões sobre sida.
“Queremos ter informação esclarecedora e de qualidade, ser ainda mais transparente e credíveis quanto ao que estamos a fazer para combater esta problemática, quer através da informação que dispomos, da imagem que apresentamos, dos projetos que temos, e da proximidade que procuramos junto da população”, sublinhou.
No dia 10 de junho haverá um baile de máscaras no Porto que pretende ”alertar a sociedade para a necessidade das pessoas com infeção pelo VIH darem cada vez mais a cara por esta infeção crónica” para lutar contra o estigma e a discriminação.
Dados oficiais apontam que, entre 1983 e 2016 foram notificados em Portugal 55.632 casos de VIH. Destes, 11.008 morreram.
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