Qualquer português que se preze sabe o que é uma tasca. Estes restaurantes que convidam ao petisco e ao convívio entre família e amigos são um dos cartões de visita do país, que cada vez gera mais curiosidade naqueles que vêm de visita.
Mas afastando-nos do conceito original de tasca, começaram a aparecer nos últimos anos, mesmo antes da pandemia, uma reinterpretação deste tipo de restauração. Os pratos de partilha estão lá, mas elevados a um nível mais gourmet. A Tasca da Memória é um desses exemplos.
Situada no hotel cinco estrelas Wine & Books Lisboa, na Ajuda, junto à igreja da Memória, a Tasca da Memória quer ter esses sabores tradicionais, mas tem aspirações a algo mais. E isso nota-se na escolha de chef-executivo. Vittorio Colleoni, que em Itália conquistou uma estrela Michelin, no San Martino, o restaurante da família – sendo ele a terceira geração de cozinheiros - pode querer o feito de conseguir o mesmo em Portugal. O chef defende que o mais importante neste momento é colocar o cliente no centro dos objetivos e dar a conhecer experiências novas. “A base de tudo é o cliente pois é ele que permite ao restaurante pôr em prática a sua qualidade”, diz-nos Vittorio Colleoni. Até lá, o caminho pode ser longo, e os pratos já estão decididos.
“É o nosso estilo de cozinha, sempre ligado a uma proposta de tasca, um pouco rústica e muito apurada em termos de sabores, mas com um toque de fine dining, mais elegante, com mais estilo e bem-apresentado”, explica-nos o chef Vittorio Colleoni.
A carta foi redesenhada totalmente e sendo esta a primeira experiência do chef de 38 anos em Portugal, depois do convite que aconteceu quando estava de férias no Algarve, houve a necessidade de estudar a gastronomia portuguesa mais a fundo. O resultado é um conjunto de pratos com ingredientes e pratos tipicamente lusos como o incontornável bacalhau que pode ser encontrado numa entrada como a típica salada de bacalhau (14€) com um twist uma vez que é servida com húmus, como snack com Brandada de bacalhau com batata confitada (8€) ou em patanisca (12€, 4 unidades) ou como prato principal na versão bacalhau fritos (16€), numa tempura light, molho de Biscaia com pimento fumado, chouriço e maionese cítrica.
Este é também o elemento que mais vezes aparece na carta e a escolha parece óbvia: “É um símbolo, até como podemos ver pela decoração da parede da cozinha. É o produto mais representativo de Portugal e daí a minha escolha”, resume.
“Já tinha trabalhado em Itália com bacalhau, polvo e bochecha de porco preto e no princípio foi fácil para mim fazer esta reinterpretação e colocar o meu estilo de cozinha num restaurante de matriz tradicional. Mas este tipo de ambiente, estando num hotel cinco estrelas, fica melhor se o considerarmos como uma ‘tasca fine dining’, mais elegante”, afirma ainda o chef.
No entanto, o chef defende que gosta de misturar culturas, produtos e fazer a sua interpretação dos pratos relembrando as influências que a cozinha portuguesa tem de outras partes do mundo, ao mesmo tempo que tenta seguir a máxima de desperdício zero. Daí que peixinhos da horta (8€), servidos com ponzu e maionese wasabi, uma tempura de legumes (12€) ou um ceviche de garoupa (23€) convivam pacificamente na carta, onde também encontramos polvo panado com arroz de tomate (18€), salmonete com xerém de camarão e espargos brancos (25€) ou barriga de porco (19€). Há ainda os incontornáveis caldo verde (8€), ameijoas à Bulhão Pato (18€), ou um prego da vazia servido em bolo do caco (13€).
Mas há também foccacia com presunto (12€), salada César (15€), risoto com bochecha de porco preto (22€) ou uma espetada mista com polpa de beringela assada (20€), para exaltar a fusão entre a gastronomia portuguesa e italiana.
A fusão também acontece nas sobremesas sendo o portamisú (8€), um tiramisu com bolacha Maria, a sobremesa mais fora da caixa. Mas a mousse de chocolate (8€) ou umas farófias (8€) também respondem à chamada e apresentam-se no menu. Ao almoço conte ainda com um menu executivo (prato, sobremesa, bebida e café) por 19€.
A acompanhar a refeição estão mais de 80 referências de vinhos nacionais, com especial enfoque nos vinhos da região de Lisboa, assim como um ambiente que podemos dividir em dois: por um lado a sala principal que nos remete para uma antiga biblioteca, ou não estivéssemos num hotel que defende precisamente esse conceito e a generosa esplanada, escondida de olhares alheios uma vez que o restaurante se situa de um dos lados um subnível.
Esta pode ser uma das formas de desfrutar tranquilamente uma zona da cidade que não é a mais popular, e por essa razão, muito mais calma.
Está para breve a abertura de um segundo hotel Wine & Books, no Porto, cujo restaurante também será da responsabilidade do chef Vittorio Colleoni.
O SAPO Lifestyle esteve na Tasca da Memória a convite do restaurante.
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