Ao som de um pianista que tocou ao vivo, junto com um DJ, os "pássaros" de Fátima Lopes desfilaram, sem penas nem plumas, mas com vestidos decotados e 'jumpsuits' transparentes, num salão neorrenascentista com pinturas simbolistas a representarem musas vestidas de drapeados também transparentes, na Câmara Municipal do 4.º bairro de Paris.

"Estou aqui olhando para a coleção que eu sonhei fazer, porque eu não mudava nada, acho que não mudava uma vírgula a nada disto. Esta é a coleção que eu fiz para usar: eu quero usar aquele fato-de-banho na praia, eu quero usar estes vestidos quando tiver uma festa muito especial, eu quero usar estes práticos para o dia-a-dia, eu quero usar os 'jumpsuits'. Tudo isto foi feito para usar mesmo", descreveu à Lusa Fátima Lopes.

As peças são pensadas para "a praia, a gala, passando pelo 'cocktail'", ou seja, "peças para todas as ocasiões", em que as transparências abundantes cobrem "'culottes' dos anos 50" e fatos de banho interiores que "são puzzles".

A coleção chama-se "Birds" ("Pássaros") e o imaginário dos pássaros lê-se nas cores, no exotismo e no desenho das roupas, na maquilhagem e nos penteados das modelos, porque, para Fátima Lopes, "há pássaros que parece que foram desenhados por uma mão humana, mas não é humana, é sobre-humana".

"Todo o desfile gira à volta do universo dos pássaros. Apesar de não ser nada evidente - não há uma única pluma na roupa - mas todo o 'design' lembra, de alguma forma, os bicos dos pássaros, os detalhes dos pássaros, as asas dos pássaros, toda a coleção tem este ponto de ligação que são os pássaros", afirmou.

Depois, há "o lado da Fátima Lopes: sofisticação, elegância muito feminina" e um 'design' baseado em detalhes, em que "algumas peças têm dezenas de pecinhas como se de um puzzle se tratasse".

Na palete cromática, o preto e o branco são discretos e clássicos, em detrimento de jogos de cores com "misturas inesperadas" - como roxo com 'nude' e esmeralda - e um 'degradé' de azuis turquesas, rosas framboesa e toranja, verdes esmeralda e jade, vermelhos e lilás.

Em termos de materiais, dominam as sedas em várias 'nuances' - desde o cetim, ao cadi, passando pela musselina e licras de seda - mas também há muitas rendas, criando transparências e efeitos vaporosos, através de "jogos de mate e brilho, opacos e transparências".

Os sapatos são "um complemento da coleção", com sandálias, 'snickers' e 'stilettos', em cores irisadas, lilás, salmão, prata, ouro, rosa fúcsia e jade.

Este é o 38.º desfile em Paris de Fátima Lopes, que se estreou na capital francesa há 19 anos, quando "toda a gente dizia que era uma loucura, porque nunca ninguém o tinha feito".

"Eu sou teimosa e passados 19 anos estou aqui, de pedra e cal, porque acho que esta é a capital da moda, sempre pensei assim, sou de ideias fixas. Acho que o meu lugar é aqui, porque esta é a minha montra para o mundo, eu sempre disse isto e não me canso de o repetir. Mais, criei raízes aqui", afirmou a 'designer'.

Ainda que sublinhando que as suas "raízes são portuguesas", Fátima Lopes disse que "19 anos é muito tempo" e que tem "aquele gostinho de missão cumprida", porque "sempre soube" que Paris é o seu lugar, onde se sente "em casa".

Durante a Semana da Moda de Paris, a moda portuguesa também está a ser promovida em feiras e 'showrooms', como na 3rd Eye Showroom e na Tranoï Paris, onde estão patentes trabalhos dos 'designers' Susana Bettencourt, Carla Pontes, Alexandra Moura, Luís Buchinho, Katty Xiomara e ainda da marca Babash Design.

A "Paris Fashion Week" arrancou no dia 25 e termina na terça-feira, tendo contado com desfiles das marcas Christian Dior, Saint Laurent, Lanvin, Guy Laroche, Kenzo, Chloé, Paco Rabanne, Isabel Marant, Loewe, Nina Ricci, Ungaro, Vivienne Westwood, Comme des Garçons, Givenchy, Balenciaga, Valentino, John Galliano, Stella Mccartney e Alexander McQueen.

As marcas Channel, Miu Miu, Louis Vuitton e Paul & Joe são alguns dos desfiles programados para fecharem a Semana da Moda, no dia 03 outubro, segundo o calendário oficial do evento.