De acordo com a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), em 1974 existiam em Portugal 673 empresas, responsáveis por 15.299 postos de postos de trabalho.
“Cinco décadas depois, a indústria portuguesa de calçado é constituída por 1.171 empresas (crescimento de 74% desde o 25 de abril), responsáveis por 33.057 postos de trabalho (crescimento de 116%)”, salienta.
Para a associação, a revolução de 25 de Abril “foi bem mais do que um movimento político que depôs a ditadura e culminou com a implantação de um regime democrático”: “Para a sociedade portuguesa foi a maior promessa de esperança”, enquanto “para alguns setores de atividade, como o calçado, foi mesmo começar de novo”, sustenta.
Pouco tempo depois, em 1975, nascia, no Porto, a APICCAPS, fundada para representar os setores do calçado, componentes para calçado, artigos de pele e equipamentos para estes setores.
O primeiro plano estratégico para o setor foi traçado pela associação corria o ano de 1978 e teve a assinatura de Miguel Cadilhe e Manuel Baganha, que, numa primeira radiografia à indústria nacional de calçado, descreveram “um enredamento intersetorial que, nos ‘inputs’, permite um abastecimento irregular em qualidade, quantidade e preços, e que, nos ‘outputs’, sofre a irracionalidade de um mercado interno atomizado”.
Na altura, foi identificada no setor “uma concorrência não salutar”, resultante “do predomínio de unidades de produção infradimensionadas, muitas das quais em regime pré-industrial”, a que se juntava “uma gestão carecida de métodos e técnicas modernas, uma organização deficiente e […] uma produtividade relativamente baixa”.
“Começou assim um caminho de pensamento estratégico e estruturado que fez a diferença na história da indústria portuguesa de calçado”, recorda a APICCAPS.
Atualmente, destaca, “Portugal exporta 90% da sua produção, o equivalente a 74 milhões de pares (crescimento de 1.170% desde a Revolução dos Cravos) no valor de 1.900 milhões de euros (crescimento de 54.533%), e contribui positivamente com 1.300 milhões de euros para o equilíbrio da balança comercial portuguesa”. Adicionalmente, as empresas do ‘cluster’ - composto pelas indústrias do calçado, dos componentes para calçado e dos artigos de pele - representam 2,6% do total de exportações nacionais de bens.
A associação salienta ainda que Portugal é “um dos únicos países da Europa onde a atividade produtiva de calçado não tem diminuído”, citando os últimos dados que apontam que “o núcleo industrial do ‘cluster’ representa 6% do emprego nas indústrias transformadoras portuguesas e 3,2% do seu valor acrescentado”.
“O ‘cluster’ apresenta uma elevada concentração geográfica e, no norte do país, o seu contributo para as indústrias transformadoras ascende a 10,9% do emprego e 7,1% do valor acrescentado”, detalha, precisando que “estes valores sobem para 29,8% e 28,5% na comunidade intermunicipal do Tâmega e Sousa, onde se situa uma elevada percentagem das empresas do ‘cluster’”.
Recentemente, o setor português de calçado renovou a sua visão estratégica, assumindo como ambição tornar-se, na próxima década, “a referência internacional da indústria de calçado e reforçar as exportações portuguesas”, e propondo-se para tal “aliar virtuosamente a sofisticação e criatividade com a eficiência produtiva, assente no desenvolvimento tecnológico e na gestão da cadeia internacional de valor”, de forma a garantir “o futuro de uma base produtiva nacional sustentável e altamente competitiva”.
Neste sentido, o novo Plano Estratégico do Cluster do Calçado 2030 definiu quatro prioridades (Qualificação de Pessoas e Empresas; Produtos e Processos Sustentáveis; Flexibilidade e Resposta Rápida; Presença Ativa nos Mercados), 24 medidas e 113 ações concretas para reposicionar o setor na cena competitiva internacional”, prevendo um investimento de 600 milhões de euros neste processo.
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