Cerca de 7 por cento dos adolescentes, a maioria raparigas, já se auto lesaram, comportamentos "secretos" não detetados pelos serviços de saúde ou escolares, revela um estudo que envolveu estudantes de 14 escolas públicas da área da Grande Lisboa.

 

Somando os jovens com comportamentos autolesivos com aqueles que apresentam pensamentos de autolesão, o estudo concluiu que para 13,5% dos adolescentes da amostra estes comportamentos “são ou poderão ser um potencial risco de saúde”.

 

O estudo "Comportamentos autolesivos em adolescentes Características epidemiológicas e análise de fatores psicopatológicos, temperamento afetivo e estratégias de coping" decorreu entre 2010 e 2013 e envolveu 1.713 adolescentes, com idades entre os 12 e os 20 anos, a maioria (56%) do sexo feminino.

 

A investigação visou identificar a prevalência deste problema e caracterizar de “forma pormenorizada” estes comportamentos e os jovens que os realizam.

 

O estudo revela que 7,3% dos adolescentes já tinham apresentado, pelo menos, um episódio de autolesão, sendo que destes, 46% já tinham realizado este comportamento mais vezes.

 

Cerca de 6% da amostra relatou pensamentos de autolesão (sem o comportamento associado), sendo estes também mais frequentes nas raparigas.

 

A probabilidade de comportamentos autolesivos é “significativamente maior nas raparigas, naqueles que vivem noutro sistema familiar que não o nuclear e naqueles com maior insucesso escolar”.

 

Em declarações à Lusa, o psiquiatra Daniel Sampaio, orientador do estudo, considerou estes números preocupantes, advertindo que “é preciso estar atento” a esta situação.

Estes comportamentos dos jovens se cortarem, queimarem, ingerirem uma substância numa dose excessiva “significam sofrimento na adolescência”, disse o psiquiatra.

 

“São um sinal de alarme para uma adolescência que não está a correr bem”, adiantou Daniel Sampaio.

 

A grande maioria dos jovens negou ter falado com alguém ou ter pedido ajuda, permanecendo estes comportamentos "secretos" e não detetados pelos serviços de saúde ou escolares, refere o estudo.

 

Só 19% dos jovens admitiu ter feito algum pedido de ajuda e apenas 13% recorreu ao hospital após a autolesão, tal acontecendo sobretudo em casos de sobredosagens.

Questionados sobre se durante qualquer episódio de autolesão pensaram “decididamente em morrer”, 42% afirmaram que sim.

 

Os jovens que relatavam autolesão apresentavam maior sintomatologia depressiva e ansiosa, assim como maiores taxas de consumo de álcool, de embriaguez, de consumo de tabaco e de utilização de drogas ilegais e maior número de acontecimentos de vida negativos.

 

Daniel Sampaio sublinhou que os pais, a escola e sociedade devem estar atento a este problema, mas realçou o papel importante dos colegas na deteção destes casos.

 

“Normalmente é mais fácil que eles confidenciem os problemas a um colega ou a um amigo do que aos pais ou ao professor”, justificou, defendendo a realização de um trabalho nas escolas para alertar para o problema.

 

“Já se fala alguma coisa [no problema], já temos estudos sobre isso, já temos professores mais habilitados a falar no assunto, já temos alguns psicólogos nas escolas atentos mas é preciso fazer muito mais”, defendeu.

 

Dados internacionais revelam que cerca de 10% dos adolescentes já terão tido pelo menos um episódio de autolesão ao longo da sua vida.

 

Por Lusa