Foi com um caloroso abraço e um rasgado sorriso no rosto que Bibá Pitta recebeu o Fama ao Minuto numa tarde de sol no Estoril. Sempre com um ar descontraído e com uma grande vontade: "usufruir disto que lhe foi dado que foi viver. Usufruir desta passagem que é tão boa".

Aos 54 anos, casada há 23 com Fernando Gouveia, mãe de cinco filhos - Maria, Tomás, Madalena, Salvador e Dinis -, Bibá já viu nascer também o primeiro neto, Duarte (filho de Maria). Uma família grande que preenche o seu coração todos os dias. "Consegui isto tudo", afirma, orgulhosa.

Uma entrevista em que recorda vários momentos da sua vida e que mostra Bibá Pitta sem filtros e com muita transparência.

Energia é o que não lhe falta, pelo menos é isso que transparece…

Já nasci com ela. Isto não é uma energia que se ganha, que se faz ou que é para os outros. É a minha maneira de estar, de ser, e faz com que também tenha uma coisa ótima que são bons olhos para viver a vida.

Ela é assim, ponto. E nem queria que ela fosse de outra maneira porque ela nasceu assim. A Madalena é a Madalena. O cromossoma é só uma vírgula, um pormenor E é essencial para enfrentar a vida e ser o pilar da família?

Exatamente. Em tudo na vida, os nossos olhos, a nossa energia determina o fim de uma história. E já tive bastantes pedrinhas no caminho mas que depois acabam em estrelinhas porque nós assim queremos. Nunca deixo de encher o meu copo, estou sempre a deitar-lhe água para ele estar sempre a subir. Cada vez estou mais crente de que nós não vemos todos da mesma maneira e tenho uma coisa especial que é amar as pessoas como elas são e não como deveriam ser. No meu caso posso falar da minha filha Madalena, amo-a como ela é. Ela é assim, ponto. E nem queria que ela fosse de outra maneira porque ela nasceu assim. A Madalena é a Madalena. O cromossoma é só uma vírgula, um pormenor.

Mãe de cinco filhos, com diferentes idades, qual é a fase do crescimento deles que a deixou com o coração mais apertado?

O primeiro filho é um livro que se abre. Fecham-se todos os outros que estão na prateleira e abre-se um grande que é para a vida inteira. Passa a ser só um livro em vez de vários. É marcante, é toda uma nova etapa, são os sentimentos a ir à flor da pele, o coração a ficar gigante, o medo da perda. O primeiro é marcante! Os outros depois, esta coisa de amar os filhos todos, com certeza que se ama os filhos todos, só que o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto já se sabe ao que se vai. Mas no meu caso, o segundo sabia ao que ia, mas depois o terceiro, a Madalena, nasceu com Síndrome de Down. O Salvador esteve a morrer com pneumotórax e o Dinis nasceu com imaturidade pulmonar. Os meus últimos três filhos foram todos preocupantes e foram tempos, não é difíceis, mas de procurar o que se vai fazer. No caso da Madalena é um susto enorme, o que é que me vai acontecer, o que é que lhe vai acontecer, o que é que a nossa vida vai mudar… Mas sempre com ela nos meus braços e a amá-la como ela era.

Tenho uma coisa que também acho que é ótima que é: não me prendo ao que as pessoas dizem. Traço muito bem o meu caminho com as forças que tenho que são a minha família e todos juntos andamos nos momentos das nossas vidas. Portanto, as gravidezes, cada uma foi especial à sua maneira.

Mas já tendo acompanhado várias fases dos seus filhos, qual foi a que lhe mais custou? Quando saem de casa?

Não, a minha filha mais velha saiu para duas ruas acima de mim, não tem mal. O segundo saiu para Lisboa, também não é muito longe, mas quando ele me disse que ia sair, foi no dia 1 de abril, achei que era mentira. Começaram-me a cair as lágrimas… Depois tive um tempo, sequei as lágrimas, tornei a ir ao pé dele e disse: ‘Ótimo, parabéns e vou estar aqui para o que precisares’. Portanto, facilitei para ele e para mim porque nós às vezes dificultamos.

Depois tenho um em Londres. A minha ida a levar o meu filho foi num fim de semana, ficámos num hotel, passeámos, fomos ver onde é que ele ficava… No domingo, às três horas da tarde, meti um par de malas dentro de um táxi e fomos até à faculdade. À porta da faculdade comecei a ver pais e malas, a conter-me para não chorar. Entrei, comecei a tirar-lhe as roupas das malas, fiz-lhe a cama… Quando estávamos para vir embora [eu e o meu marido], dei-lhe um abraço e sabia que só passados três meses é que ia voltar a ver o Salvador. Foi facílimo porque também não fiz dramas, facilitei a vida a ele e a mim.

Finalmente, quem vem são a Madalena e o Dinis que estão em casa. A Madalena é a minha alma gémea, a minha filha que independente mas sempre dependente. Aquilo que se fala de que são iguais aos outros, não são. São filhos únicos que precisam de nós a vida toda, os outros não precisam. Precisam de outro género de apoio. Uma filha amorosa, queridíssima que como eu brinco muito: ela nasceu para ser princesa e eu nasci para cuidar dela. E assim vamos as duas até ao fim da nossa vida, com o maior amor uma pela outra. Uma miúda com muita autoestima, faz os seus cavalos, está no seu último ano do liceu, faz as suas danças, a sua vida, muito querida, muito emocional. Tenho uma filha que vai ficar comigo a vida toda. O Dinis, com 12 anos, é um quinto filho, ótimo aluno, a vida normalíssima, vai para o liceu, vem com o seu passe para casa, anda no rugby, independente e eu com mais tempo para mim agora.

E outro sexto filho, que não é filho e não pode ser nunca que é o neto. É um amor seguido de um amor maior que é o da minha filha. O amor maior é o dos filhos e os netos são o seguimento deste amor. Sem haver confusões porque sou avó, não sou mãe.

Tenho vivido mais para servir os outros. Digo sempre isto em minha casa, o meu verbo é servir no bom sentido

Alegria, felicidade, família, estes momentos são muitas vezes destacados nas suas contas nas redes sociais. Tem partilhado vídeos com a sua avó, com 99 anos, a tocar piano e outros com os filhos, com o neto...

Partilho aquilo que é meu porque não gosto de falar da vida dos outros. A vida dos outros a mim não me compete. Muitas vezes falamos delas e nem sabemos o que é que se está a passar. A mesma coisa se passa comigo. Muitas vezes as pessoas de fora não têm ideia do que é a minha vida, falam sem saber. Podem achar se eu sou gira, feia ou se sou nova, mas a partir daí ninguém sabe o que é que se passa nas nossas vidas. Nas minhas redes partilho aquilo que é meu com imenso gosto.

São esses momentos que são precisos para encher por completo o seu coração?

É para o que eu vivo e tenho vivido a vida toda. Tenho vivido mais para servir os outros. Digo sempre isto em minha casa, o meu verbo é servir no bom sentido, dona de casa. Não há que ter vergonha nenhuma e para que estejam todos bem. Isso também me faz bem a mim. E depois tenho as minhas horas, o meu desporto, as minhas coisas todas.

Nunca escondeu que a família está sempre em primeiro lugar. Aliás, teve a dada altura um convite para ser apresentadora, mas não aceitou para estar junto dos seus.

Espetacular! Convite da SIC e não aceitei porque tinha quatro filhos pequeninos, a Madalena... Não que não haja imensas mulheres que trabalham e têm uma data de filhos, com certeza que sim, mas naquela altura, por variadíssimas razões, consegui ficar em casa e foi o melhor que fiz.

Hoje arrepende-se dessa decisão?

Não me arrendo nada. Então tinha de me arrepender da vida melhor que é estarmos em família. Mas gosto e tenho aqui o bichinho e este bichinho ninguém me tira.

Então se hoje lhe fosse feita outra proposta tentaria conciliar uma carreira com a família?

Sim, não tenho dúvidas nenhumas. Com certeza que sim e estou a trabalhar para isso, vários projetos. Naquela altura, passaram-se cerca de 15 anos, era diferente. Até na questão de viajar. Eu não viajava, era raríssimo porque tinha sempre muito medo de ir e acontecer qualquer coisa e eu não conseguir chegar a tempo. Não consigo explicar isto. Foram até muitas vezes porque o Fernando queria muito ir viajar e ele diz sempre isto, que eu me sacrifiquei um bocado. Mas não foi sacrificar, eu não queria. E das vezes que saí, só quando estava no avião é que descansava. Eram cinco filhos, ou que fosse quatro, era uma filha diferente que apesar da diferença não ter problemas de saúde maiores que eu dissesse que não poderia ficar com uma avó ou com um tio, mas eu própria tinha sempre medo. Imagina que me ligavam e eu não estava ali, nem que fosse só para dar um abraço, agarrar os braços, como eu digo sempre, o abraço da mãe faz milagres.

Todos os dias sei que estou na fila da frente, não tenho mãe. E isto de dizer não tenho mãe é uma coisa cruelCuidou da mãe nos últimos momentos da sua vida…

Consegui cuidar da minha mãe e isso acho que foi uma prova de amor… Não é prova porque uma filha não tem que dar prova de amor à mãe porque ama. A minha mãe era o amor maior que eu tinha, como tenho o meu pai, os meus filhos. Mas fiz tudo aquilo que pude, disse tudo aquilo que podia. A minha mãe ficou sempre em casa. Consegui montar quase [um hospital em casa]. Nisso o meu marido foi fantástico porque também ajudou. Todos os meus amigos e pessoas que conheci naquela altura juntaram-se e ajudaram, os cuidados médicos, tudo. Foi o melhor que pude, ficar até ao último segundo.

Conseguiu viver tudo com ela? Não ficou nada por dizer nem por viver?

Ficou muito pela parte dela porque ela tinha 72 anos e adorava viver.

Quais os momentos em que sente mais saudade?

Sinto sempre. Todos os dias sei que estou na fila da frente, não tenho mãe. E isto de dizer não tenho mãe é uma coisa cruel. Sei que é a lei da vida, que primeiro vem os pais e que a minha mãe tinha 72 anos. Mas roubarem-nos a mãe é uma crueldade enorme. Eu queria ter mãe até ser velhinha porque há um abraço, um amor, um carinho que não existe de mais ninguém igual.

Ainda hoje chora a morte dela?

Montes de vezes. Choro com facilidade e não tenho medo nenhum de mostrar os meus sentimentos. Não tenho vergonha nenhuma dos outros. Choro sempre que tenho vontade. Também tenho outra atitude que é: em vez de pensar que ela está a olhar para mim no céu, ela está comigo porque eu modifiquei muito e estou muito parecida com ela em tudo. Ela era matriarca e não deixava ninguém ser. Hoje sou matriarca e também não deixo ninguém ser [matriarca].

Acho que neste país a partir dos 50 e poucos anos as pessoas são velhas. E acho imensa graça porque nada disso contribui para a verdade das coisasTomou o lugar dela…

Tomei a posição e tenho o legado. Acho que a morte também é muito isso. Os pais deixam-nos os bocadinhos deles. Continuamos o legado, aqui em vida, deles. Acho que vai ser o mesmo quando eu morrer, os meus filhos ficaram com o meu legado. Serão bocadinhos de mim aqui. Daí também a importância de ter filhos.

E é de louvar ter tomado conta da sua mãe, pois isso não acontece com todas as pessoas. Aliás, o abandono dos idosos é uma questão que continua a estar em cima da mesa…

A minha mãe não era idosa, não considero. A minha mãe trabalhava, era decoradora, saía todos os dias de casa…

Mas mesmo em situações em que os pais estão doentes… É de destacar o gesto que teve com ela… Sente que a sociedade em geral não lhes dá o devido valor, quando as pessoas vão ficando mais velhas?

Acho que neste país a partir dos 50 e poucos anos as pessoas são velhas. E acho imensa graça porque nada disso contribui para a verdade das coisas. Tenho um pai com 80 anos que parece que tem 60. Eu sei, e até sei na imprensa e televisão que as pessoas quanto mais velhas são menos trabalho têm. Estou a falar de pessoas que adoro, mas não vou dizer nomes, que são postas quase na prateleira porque os novos é que têm direito. E esses têm uma coisa que é o caminho da vida. Mas se olharmos para outras televisões vemos coisas completamente diferentes. No Brasil vejo apresentadores com 50, 60… Tudo tem que se modernizar, mudar e esperamos que haja muita coisa que vá mudando ao longo dos tempos e que as gerações vão fazendo por isso.

Mais do que falar dos outros, não nos podemos esquecer: Quem tratou de nós foram exatamente essas pessoas que estão idosas. Quando éramos pequenos quem tratou de nós foram os nossos avôs ou pais. E tu também te vais tornar nesse idoso. E somos o exemplo, aquilo que te vêem a fazer é aquilo que vão fazer contigo. Também sei que há muita gente que quer e não pode, e isso também se tem que ter atenção. Não se pode apontar o dedo porque não sabemos as histórias de muitas pessoas. E há pessoas que têm vidas super difíceis, que adoravam tratar dos pais, mas que não podem. Quase que têm que atirar com os pais porque têm que ir trabalhar e se não forem trabalhar não dão de comer, não têm os filhos nas escolas. Também se deve louvar as pessoas que fazem das tripas coração para conseguir sustentar uma família, que hoje é muito difícil.

‘O cromossoma do amor’ é o nome do seu primeiro livro, lançado em 2009…

Para mim é um livro com tanta verdade e tanto amor. É a história da minha vida e da vida dela [Madalena], o nascimento, todos os depoimentos que lá estão.

Na altura disse que quando ela nasceu “muita gente quando ia vê-la ia triste, a chorar, parecia que aquele bebé que estava ali não valia a pena”. Sente que hoje as pessoas já mudaram um bocadinho essa visão sobre a síndrome de Down?

Sinto que sim. Espero que sim. Já passaram 22 anos. Mas com o que eu me deparei naquela altura, que foi ainda mais difícil para mim, foi com o ser humano. Se o ser humano é perfeito, está muito aquém de ser. Não pode abandonar alguém que precisa muito dele nem pode ter pena que ele nasça. Não tenho medo nenhum [do que lhe pode acontecer], não posso pensar nisso, como também não sei se a outro dos meus filhos poderá acontecer alguma coisa terrível, ou a mim mesmo.

Eu não sei se de hoje para amanhã terei alguma doença que ficarei cá até aos 90 anos sem saber quem sou, por exemplo. Ou sem poder dar apoio a quem tanto precisa. Não sei, a vida não me diz. Portanto, naquela altura fez-me muita impressão o que se chorava e o que se falava pela minha filha Madalena. E até de coisas piores de dizerem que eu tinha-me tornado conhecida porque tinha exposto uma filha deficiente. As pessoas não me conheciam. Eu saio nas revistas desde que tenho 20 anos, não tinha filhos, não pensava ter filhos nem casar...

De repente, essas sim, as verdadeiras tias de Cascais, vêm ter comigo para ver a miúda e começam a dizer-me: ‘Aí Bibá, sabes lá o que dizem. A tua filha é linda, sabes lá o boato que anda para aí… Imagina, as pessoas andam a dizer que a tua filha é mongolóide. Que disparate!’Disse também que além daquela experiência, depois do nascimento da Madalena, viveu outras experiências e que “vai aprendendo a dar a volta e a não ligar”. A que tipo de momentos se referia? Houve algum momento específico…

Já é difícil para uma mãe só porque o filho usa óculos ou só porque o filho é mais pequenino. As mães dos bebés prematuros, até eles atingirem a idade, por volta dos três anos, em que se tornam miúdos das mesmas alturas dos outros, fartam-se de sofrer. Aquele que usa óculos em bebé é logo: porque é que usa óculos? Agora imagina estes bebés, o que é levares ao colo um bebé diferente e quereres pôr esse bebé numa escola e as pessoas pensarem: mas o que é que esse bebé vai aprender? Se calhar vai tirar tempo aos outros porque este aprende mais devagar… Ou uma miúda ir a correr para ir brincar com outra e o pai que não está habituado ficar aflito porque vê de repente uma miúda mongolóide.

Toda a gente odeia este nome – mongolóide – mas é para se dizer sem medo. Quero que a minha filha cresça e nós já brincamos com este nome. Quem me dera que um dia mais tarde lhe dissessem que é mongolóide e ela dissesse com muito prazer, e tu és estúpido porque não sabes o que quer dizer.

Mas isso já aconteceu?

Não acontece ainda. Mas lembro-me que a Madalena quando era pequenina, um dia saí com ela, em Cascais, e, de repente, essas sim, as verdadeiras tias de Cascais, vêm ter comigo para ver a miúda e começam a dizer-me: ‘Aí Bibá, sabes lá o que dizem. A tua filha é linda, sabes lá o boato que anda para aí… Imagina, as pessoas andam a dizer que a tua filha é mongolóide. Que disparate!’ Eu tive um rasgo de qualquer coisa e disse: ‘Não, a minha filha não é mongolóide, a minha filha tem trissomia 21’. E elas disseram: ‘Claro, trissomia 21, agora mongolóide… Mongolóides são os atrasados. Alguma vez esta tua filha é atrasada’. Repara a ignorância. Eu não disse nada e mais tarde estas senhoras perceberam o disparate que tinham dito. Síndrome de Down, mongolóide ou trissomia 21 é exatamente a mesma coisa.

Há coisas de ignorantes que vais passando, olhares… Não são todos por mal, mas prefiro mil vezes as pessoas descaradas e diretas que vêm ter comigo e me perguntavam naquela altura se ela ria, se chorava ou se ia andar... E não era só eu. Ela tinha quatro irmãos. Às vezes também foram cruéis com eles. Hoje acho que está mais evoluído, as pessoas também evoluem e nós não podemos ligar a tudo o que os outros dizem porque se não estávamos feitos.

Não sente medo do que poderá acontecer à Madalena no futuro, sente que está descansada porque tem cá os irmãos?

Não, não sinto que estou descansada pelos irmãos. Sinto que estou descansada pela família que estou a criar, mas nunca se sabe. Também não é nenhuma garantia. Há famílias que se zangam às vezes e deixam-se de falar por causa de uma herança. Nada é garantido. A única coisa que te posso dizer nesta idade, com 54 anos, é que a minha consciência é educar todos os dias os meus filhos para que sejam unidos, lhes mostre que a família unida já mais será vencida, e que têm que ser amigos uns dos outros, independentemente se há lá Síndrome de Down ou se o outro está a estudar em Londres. Tem que se ajudar e ser amigos. Para isso acho que tem que haver uma educação clara e aberta. Não pode haver jogos entre os filhos, não pode haver mentiras.

Sinto muito e choca-me imensos os comentários negativos só por serem negativos e cruéis

Como referiu há pouco, começou a ficar conhecida aos 20 anos. Lembra-se desse momento?

Uma das primeiras coisas que me lembro foi espetacular que foi na capa em que saí. Uma capa de uma revista semanal, que já não existe. ‘As mais de 30 com menos de 20’, era assim uma coisa. E eu estava na capa e ligaram-me. Aquilo foi uma agitação. Só eu devo ter comprado 200 revista para dar a toda a gente. Depois foi por aí fora… Fui relações públicas, depois tenho um trato, como vocês conhecem, fácil. Gosto de comunicação, aprendo a toda a hora com as pessoas, gosto de conhecer os outros, de me dar com toda a gente. Portanto é fácil, vou trilhando o meu caminho.

Não liga aos comentários?

Quem não sente não é filho de boa gente. Sinto muito e choca-me imensos os comentários negativos só por serem negativos e cruéis. Choca-me porque não são verdadeiros e porque estão a mexer com o sentimento das pessoas que não conhecem. É muito fácil hoje em dia nas redes [sociais] - uma coisa que mexe muito comigo - as pessoas agredirem as outras verbalmente sem darem a cara. Conseguirem dizer coisas horríveis, insultarem com comentários ofensivos sem ter qualquer tipo de pudor. Nós temos de ter pudor quando estamos a falar dos outros, se queremos também ser respeitados. Para ser respeitados temos de respeitar o próximo. Faz-me imensa aflição as pessoas irem de propósito serem negativas só porque sim.

E já se deparou com algum tipo de comentário e bloqueou?

Nunca bloqueei ninguém. Apago só. Não quero, não gosto, acho injusto. Não gosto de ser injustiçada. É verdade que nem toda a gente tem que gostar de mim, mas eu também não faço mal a ninguém. Podem não gostar, mas não se sintam ofendidos porque eu não lhes faço mal. Não ando aqui a fazer mal a ninguém, não falo da vida dos outros… Eu tenho a minha vida, não me meto com ninguém.

Quando estou a mostrar-me nas redes sociais, mostro-me como uma mulher real. Não estou com filtros, nem sem rugas, nem com marcas… É o meu dia a dia, tudo aquilo que faço. Ser tia de Cascais a mim não me interessa nada. Antes tia do que outras coisasSente-se na obrigação de diariamente lutar contra o estigma/estereótipo de tia de Cascais?

Não! Nada disso. Para já não sou tia de Cascais, sou tia de sobrinhos. Depois já não sinto nada disso.

Já não sente, então já sentiu?

Não, acho que as pessoas com as revistas podem fazer todo o tipo de imaginação. E realmente o que é que se mostra nas revistas e nas redes sociais só o lado bom e isso irrita muitas vezes. E às vezes esse lado bom nem é o verdadeiro. Por isso é que acho que sou uma mulher real. E quando estou a mostrar-me nas redes sociais, mostro-me como uma mulher real. Não estou com filtros, nem sem rugas, nem com marcas… É o meu dia a dia, tudo aquilo que faço. Ser tia de Cascais a mim não me interessa nada. Antes tia do que outras coisas.

O exercício físico faz parte da sua rotina… Isso é importante para se manter ativa, viva?

Toda a vida fiz desporto. Comecei por fazer ballet, depois começou a ser muito monótono para mim e eu precisava de me libertar. Fiz muita ginástica. Todos os dias faço uma aula diferente e corro. Faz-me muito bem à saúde, faz-me muito bem à cabeça, faz-me muito bem a esta fase que estou a passar e que a maior parte das pessoas está a passar aos 50 e poucos anos que é a menopausa. Porque nos ajuda a aclamar todos estes calores e a ultrapassar. Temos de ter mais cuidado com a saúde. A menopausa é um abanão físico fortíssimo.

Assustou-a?

Não me assustou, mas eu não faço compensações não faço nada. Portanto, tenho tudo aquilo que as mulheres têm: insónias, calores, uma repressão muito mais lenta física no desporto, mas tudo isso faz parte. Tenho de me adaptar a esta fase e ser feliz. E sou, estou a conseguir.

Dá muitas vezes a cara por questões solidárias… Quer deixar este legado aos seus filhos?

Isso eles aprendem em casa. A irmã ensinou-lhes já esse caminho. E não só. Verem a mãe, o pai também faz as suas coisas solidárias e eles próprios também já fazem e são miúdos muito reativos, que reagem imediatamente à ajuda se for preciso. Não acredito que eles virem costas se alguma vez forem chamados.

Não guardo rancor de nada. Sou capaz de dizer as coisas mais incríveis, grito, zango-me imenso e depois dou beijinhos a seguirSem dúvida que a sua alegria de viver e energia é a sua imagem de marca… Mas o que deixa a Bibá irritada?

A falta de arrumação em casa, por exemplo [risos]. Ou quando queres muito uma coisa e não consegues fazê-la… Estas coisas das mentiras e das aldrabices, tento sempre ouvir o outro para perceber porque às vezes uma pequena mentira é só para não chatear a mãe, por exemplo. Sei lá o que é que me deixa irritada… É o momento, mas depois passa. Não guardo rancor de nada. Sou capaz de dizer as coisas mais incríveis, grito, zango-me imenso e depois dou beijinhos a seguir. Há imensa gente que não é assim. E depois tenho uma coisa que é ótima: é que falo e deito tudo cá para fora. Com as pessoas que vou estando vou falando de tudo aquilo que me atropela, que me faz aflição e vou resolvendo essas pequenas coisas que também sinto e que tenho.

Acho que é tão importante conseguirmos partilhar e dividir. Porquê guardar para nós? Porque não partilhar com os outros que por vezes têm histórias idênticas e que nos ensinam também imensas coisas. Tenho essa sede de aprender e de ouvir a opinião dos outros.

Quando são críticas construtivas...

Claro que sim e há sempre críticas. Eu não sou perfeita e também olho para mim e também me crítico, apesar de gostar daquilo que vejo. E gosto de ter tido hipótese de ter vindo a esta passagem, de estar aqui. Viva o momento desta passagem. Por isso é que sou às vezes muito chata em casa com os mimos e com o agarrar. Gosto de sentir o mimo da parte dos outros. Gosto disso! Preciso disso, do mimo, do afeto. Não é falta de afeto, preciso de afeto. Acho que é o melhor alimento da vida para te fazer feliz, a linguagem dos afetos. Claro que não damos gargalhadas todos os dias, nem andamos aos beijos todos os dias nem andamos a rir todos os dias. Mas o afeto, o dizeres que gostas de alguém isso faz parte do dia. Nem que seja num segundo. Um gesto de carinho, um mimo. Às vezes nem é preciso dizer nada.

Hoje, com 54 anos, sente-se feliz e realizada?

Sinto-me bem, lindamente. Só quero continuar a ter braços e mãos para continuar a agarrar e ajudar naquilo que puder. Não só os meus como os outros. Queria muito ver nascer mais netos. Ter a possibilidade de ver nascer bisnetos. Queria viver com tudo o que isso possa trazer. Muito anos. Queria muito que os que já partiram estivessem em paz e poder senti-los sempre. E mimar toda a gente que está aqui.