Considerado o criador da Zumba, no final dos anos 90, o colombiano Beto Perez já está em Portugal, pronto para a Zumba Fitness Party que amanhã, sábado, vai juntar mais de 7.500 pessoas ao Meo Arena, em Lisboa. A poucas horas do grande evento, o famoso coreógrafo conversou com os repórteres do Fama Lifestyle e contou o que lhe vai na alma.
A Zumba surgiu quase por acidente na sua vida, não é verdade?
É verdade. Um dia em que ia dar uma aula de fitness, descobri que me tinha esquecido das músicas para a aula e que só tinha comigo um CD com temas gravados da rádio. Música de dança latino-americana, como “A Namorada”, de Carlinhos Brown. Resolvi fazer a omelete com os ovos que tinha e coreografei rapidamente uma aula com base naquelas músicas. Durante a sessão, comecei a reparar que os sorrisos das pessoas se abriam, que a felicidade e a boa energia ia tomando conta da sala e achei que podia continuar a explorar aquela vertente. Nasceu a Zumba.
E aquilo que começou como um acidente tornou-se na sua vida?
Tornou-se na minha vida e tomou completamente conta dela. E eu adoro. Até hoje sou muito feliz a fazer o que faço. E consegui concretizar o sonho de poder trabalhar sem estar preocupado com o quanto vou ganhar ou se vou ter o suficiente para pagar as contas e sobreviver. Agora posso tirar verdadeiro prazer daquilo que é o meu mundo, a minha vida.
A Zumba que não é apenas uma modalidade desportiva, certo?
Certíssimo. A Zumba é um estilo de vida, como 0 Ioga, mas de uma forma menos espiritual e mais divertida. As pessoas não vão para a Zumba para perder peso, como vão para outras modalidades no ginásio – vão para se divertir, para limpar a cabeça, dançar, curtir… Acabam por emagrecer porque, de facto, o desgaste energético é imenso.
Diz-se que quem entra na Zumba nunca mais sai. Como explica isso?
Tem a ver com o facto de a pessoa estar a fazer exercício físico sem a sensação de o estar a fazer. Não é aquela rotina chata do fitness ou da aeróbica, que são mais repetitivas. A Zumba é dançar e toda a gente gosta de dançar, novos, velhos, magros, gordos… Dançar é uma coisa universal, uma forma de expressão.
Digamos que uma aula de Zumba é como ir à discoteca, mas sem o álcool e o fumo?
Sim, é isso mesmo. É dançar e ficar em forma saudavelmente e ainda aprender alguma coisa para brilhar na discoteca (risos).
A sua história de vida é uma história de filme. Nasceu pobre em Cali, na Colômbia, viajou sozinho para Miami, EUA, com 19 anos, esteve uma década sem ver a sua mãe…
Eu não tenho pai, não tenho avós, irmãos, primos, tios… Só tenho a minha mamã, que é a minha Barbie, a minha rainha. Estive dez anos sem abraçar a minha mamã e isso fez-me muita falta, fez-me crescer de forma mais rápida e obrigou-me a desenrascar-me e a saber gerir tudo sozinho.
A sua mãe deve estar muito orgulhosa de si…
A minha mamã? A minha mamã é quem me põe os pés na terra em segundos. Ligo para ela e digo: “Mamã, estou na primeira página do jornal X…”. E ela responde: “Ah sim? Que bom. Comeste salada? Brócolos?”. É isto. Não liga cinco centavos a que eu esteja no mundo inteiro ou não (a Zumba é dançada em 185 países). Para ela, sou o Beto, filho dela, e ponto final. Famoso? Rico? Não quer saber disso para nada.
E a sua mamã também Zumba?
A minha mamã faz exercício físico, mas não é muito fã de Zumba, porque ela é muito tímida, muito “low profile”. Mas sempre que eu concebo uma nova coreografia, tenho o cuidado de pensar se seria uma coisa que a minha mamã iria conseguir fazer ou não.
Como surgem as coreografias?
São muito intuitivas. Não vale a pena pensares muito nas coisas. As coisas mais simples são sempre as melhores e as que chegam mais depressa às pessoas. Se começas a pensar muito complicas tudo e acabas por desmotivá-las. Eu oiço uma música e antes de entrar na aula alinho a coreografia por instinto. É uma coisa espontânea.
As aulas de Zumba têm, pelo menos em Portugal, uma maioria de mulheres a frequentá-las. Acha que os homens têm vergonha de mostrar o que valem na dança?
Acho é que os homens ainda não perceberam bem a vantagem que a dança lhes pode trazer com as mulheres. Eu era pobre, não sou bonito, não sou de uma classe social alta, mas enquanto jovem, nunca me faltaram mulheres. Sempre tive as que quis. Porquê? Porque as mulheres gostam de um homem que saiba dançar, que as envolva nos braços e as conduza pela pista. Dançar é uma forma de sedução. Quando os homens descobrirem que as aulas de Zumba os podem ajudar a conhecer e a chegar às mulheres vão começar a aparecer mais. Um homem numa aula de Zumba é um herói, tem as mulheres todas à volta dele.
Voltando ao filme da sua vida. Segundo algumas informações já está em negociações com Hollywood, certo? Quem gostaria que interpretasse o Beto?
É verdade. Está a ser pensado um filme, entre outras coisas. Quem gostaria que interpretasse o Beto? Essa é uma pergunta difícil e é a primeira vez que me é colocada. Deixaste-me enrascado. (Risos) Quem? Não pode ser um galã como o “Mr. Grey” (Jamie Dornan - 50 Sombras de Grey), porque eu não sou um galã. Talvez o Chayanne (ator e cantor porto-riquenho). Tem de saber dançar, isso é certo. E não pode ser demasiado bonito, para ser credível.
E se fosse o Beto a interpretar-se a si próprio?
Eu? Não... Acho que os produtores não iam nessa conversa. E também não podia já fazer o Beto que foi para os EUA com 19 anos… Mas é uma ideia interessante.
Disse que, além do filme, estavam a ser pensadas outras coisas inspiradas na sua vida. Que coisas?
Uma série televisiva para o canal FOX, que já está a ser escrita e vai começar a ser rodada na Colômbia. Eu gostaria de escrever a minha história, a minha biografia, e também de escrever um livro sobre Zumba. Ainda tenho muitos sonhos, acho que isso é o melhor de mim, não perder a capacidade de sonhar nunca.
Falemos um bocadinho de Portugal. Esta é a sua segunda vez por cá. Tem gostado?
Gostado? Tenho adorado. Lisboa é a cidade mais bonita que já vi. Limpa, organizada, bonita, segura, tranquila… Ontem estive em Sintra, no Palácio da Pena. Que sítio lindo, que vista maravilhosa… Fiquei sem palavras perante aquilo. Vocês têm muita sorte.
E a comida? Já provou muita coisa?
Percebes. Comi, pela primeira vez na minha vida, percebes. Uma coisa maravilhosa. Não muito bonita, mas deliciosa, com um sabor a mar fantástico, um cheiro. Olha, adorei. Fiquei fã. Vale a pena voltar cá para comer percebes.
Só percebes?
Não, não. Ontem comi quatro pastéis… como é que se chamam?
Pastéis de Belém?
Isso, de Belém. Pastéis de Belém. Comi quatro seguidos. Coisa boa. Vou sair daqui gordo.
Sabe que os nutricionistas portugueses dizem que o pastel de Belém é o bolo menos grave nos regimes alimentares?
Dizem? Boa. Ainda bem. Assim já não me sinto tão culpado. Mas comi quatro. Eles deixam comer quatro?
(Veja as fotos de Beto Perez em Portugal)
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