créditos: Pedro Loureiro

Ruas em flor. Arcadas e caminhos feitos completamente em flores de papel. «Em 2015, recriei o Palácio de Belém, com jardins e tudo», conta Célia Saragoça, à medida que explica como construiu pilares gigantes cobertos de flores em papel e tapou um edifício da praça com cartolina cor-de-rosa, «a cor do Palácio». Célia Saragoça passava por essa mesma praça no momento em que Margarida Mendes Palmeiro, a nossa anfitriã, nos guiava pelas ruas de Campo Maior, vila onde tem uma farmácia há quase 11 anos.

As Festas do Povo de Campo Maior são uma das festas alentejanas mais conhecidas, tradição secular em agradecimento a São João Baptista, que une os cerca de 7.500 residentes. A próxima festa não está marcada, mas isso não trava a alegria com que se prepara as flores.

Prova disso foi encontrarmos, ao chegar ao Lagar-Museu do Palácio Visconde d'Olivã, no Largo do Barata, Conceição entretida enquanto esperava os próximos visitantes. «Desta vez, optei por fazer campainhas amarelas. Todas as que estão aqui foram feitas por mim», diz, apontando para a jarra cheia de flores, no balcão de entrada. No museu, ficamos a conhecer as técnicas antigas de produção de azeite, uma das relíquias da região.

Doce roteiro

Hoje, Campo Maior é mais famosa por outra indústria, a do café. E, por isso, é comum sentir o seu aroma nas ruas brancas e limpas da vila. «Às vezes, torna-se muito forte. Depende do sentido do vento», diz Margarida Mendes Palmeiro, rematando: «E eu adoro».

Também alentejana, nascida na vila de Fronteira, Margarida Mendes Palmeiro já se sente filha da terra. «Fui muito bem recebida e mimam-me muito. «Está nos genes a vontade e o gosto em ajudar», diz, de sorriso aberto, à medida que passa pelas ruas, onde é abordada constantemente: «Bom dia, doutora!», ouve-se.​

O roteiro por Campo Maior foi preparado com antecedência e a primeira experiência foi provar os doces regionais na Pastelaria Alcor, a mais antiga, situada no centro histórico e famosa por ter sido, em tempos, o local de convívio favorito da classe alta. Lá perto, descobrimos aquele que terá sido o primeiro brasão da vila , que ostenta a lenda da sua fundação: três cabeças em pedra. Supostamente, representam três chefes de famílias nómadas que, para se protegerem dos ataques de povos rivais, decidiram assentar na região. «Este será o nosso campo maior», terão dito para selar o acordo.

Igreja e café

Poucos metros acima está a Igreja Matriz, começada a construir em 1570, hoje no coração da vila. Substituiu a anterior igreja intramuros, tornada pequena para o número crescente de fiéis católicos. Lá encontramos uma das mais belas representações de Santa Beatriz da Silva, a primeira santa portuguesa, nascida em Campo Maior e fundadora da Ordem da Imaculada Conceição.

Existe uma festa em seu nome e uma casa-museu, inaugurada em 2013.

Ao lado, a Capela dos Ossos reúne os restos mortais das vítimas da explosão de pólvora ocorrida em 1732. Constitui um dos momentos mais impressionantes da visita. «Mais de dois terços da população morreu na explosão da torre de menagem do castelo, após a queda de um raio. Cerca de 800 casas ficaram totalmente destruídas e a maioria dos monumentos teve de ser reparada. Foi muito violento», conta a farmacêutica.

Subimos ao castelo, com paisagem a perder de vista e uma promessa: obras de requalificação do monumento a arrancarem ainda este ano.

Descemos, então, pela zona histórica, para voltar ao carro e contornar a vila.

Pela proximidade com Espanha, Campo Maior tem traços de arquitectura mistos: ora linhas totalmente portuguesas, ora as janelas altas, de ferro, com as persianas saídas. As ruas têm nomes antigos, como a 13 de Dezembro, antes chamada “canada”, palavra espanhola «relacionada com o caminho dos animais», explica a nossa anfitriã.

O roteiro não poderia terminar sem uma visita ao Centro de Ciência do Café e à sua vizinha, a Adega Mayor, desenhada pelo arquitecto Siza Vieira.

O café é, aliás, presença constante na vila, com a marca Delta omnipresente na nossa visita. Nas portas dos táxis, nos balcões dos cafés e restaurantes, na estátua do seu presidente, Manuel Nabeiro, a dividir a zona nova do centro histórico de Campo Maior.

Texto de Rita Leça

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