O Serviço Nacional de Saúde (SNS) assinala este ano o seu 44.º aniversário, quase tantos quanto os anos em que vivemos em democracia. Se hoje dispomos de um modelo de organização de cuidados de saúde, que garante a igualdade, equidade e universalidade no acesso à saúde, em condições tendencialmente gratuitas, muito devemos à classe política de então, dotada de um verdadeiro sentido de Estado, que ajudou, de forma decisiva, ao desenvolvimento do país e das condições e qualidade de vida dos nossos concidadãos.
Ao longo de todas estas décadas, foram naturalmente realizados ajustes e melhoramentos ao modelo e concretizados programas e serviços que ajudaram à operacionalização de um sistema cada vez mais complexo, disperso pelo país, mas com flexibilidade para resolver múltiplos desafios e necessidades que a sociedade portuguesa foi impondo. A taxa de mortalidade infantil é apresentada como um dos maiores avanços civilizacionais deste então. Por antítese, a qualidade de vida após 65 anos evidencia a necessidade de continuarmos a trabalhar para dar aos nossos cidadãos a segurança e o conforto de um envelhecimento que merece a mesma atenção e cuidado que receberam durante os seus anos de vida ativa.
Neste processo de crescimento e amadurecimento do SNS, paralelo ao fortalecimento da nossa democracia, reconhece-se, de forma unanime, o empenho, o compromisso e o contributo fundamental dos profissionais de saúde, dos técnicos, dos auxiliares e de todos aqueles que diariamente dão a cara pelo serviço público de saúde: os que prestam cuidados, os que lhes dão suporte e os que possibilitam o funcionamento ininterrupto dos serviços, com a qualidade e a dignidade que os cidadãos merecem, até porque são eles que os sustentam, com o financiamento dos seus impostos.
Hoje, então, volvidas todas estas décadas, os portugueses reconhecem no SNS um dos mais justificados investimentos, sustentado na premissa de que “a saúde não tem preço”. No entanto, os portugueses exigem dos nossos representantes o mesmo rigor e competência que esperam dos profissionais que lhes prestam assistência.
Mais do que medidas avulsas, que respondem a problemas conjunturais, os cidadãos esperam reformas e investimentos concretos em áreas manifestamente carenciadas. Ninguém quer continuar a assistir à degradação dos serviços, ao desinvestimento crónico nas unidades de saúde e nos seus profissionais e ao seu êxodo para o setor privado e para sistemas de saúde de outros países
O que hoje pedimos aos nossos representantes democráticos é que recuperem o exemplo e o sentido de Estado dos seus precursores, que ouçam os profissionais e os doentes e executem as suas propostas. Estamos perante desafios que ameaçam a sustentabilidade do nosso SNS. Estamos numa era de elevado desenvolvimento tecnológico, altamente dispendioso, mas com importantes resultados na saúde e qualidade de vida das pessoas, que importa avaliar de forma contínua e contratualizar segundo os resultados que alcançam. O mundo e o país assistem quase diariamente ao aparecimento de produtos e serviços inovadores, altamente ansiados por muitos doentes, mas que só a evidência científica poderá justificar o investimento.
Do lado dos farmacêuticos hospitalares e analistas clínicos que todos os dias trabalham no SNS, podem continuar a contar com a sua colaboração. É isso que os farmacêuticos esperam também!
Saúde e Democracia / Leia outros contributos aqui
Comentários