Temos no País, de Norte a Sul e ilhas, bem mais que 80 serviços de urgência dos mais variados níveis, hospitalares e não hospitalares: Serviços de urgência básica, Serviços de urgência médico-cirúrgica e Serviços de urgência polivalente, que funcionam em rede e que dão resposta às pessoas com doença aguda grave e não grave.
Quando o medo se instala, quando as epidemias aparecem , quando não há resposta na consulta imediata pelos médicos de família ou demora na espera pela consulta de especialidade (muitas com mais de um ano de espera), o serviço de urgência é uma porta sempre aberta a todos aqueles que precisam de auxilio.
Recebe doentes psiquiátricos descompensados, tentativas de suicídio, reações anafiláticas, acidentes de viação ou outros , paragens cardíacas, arritmias graves e não graves, enfartes, AVC, descompensações cardíacas, pulmonares, gastrenterológicas, convulsões , doentes oncológicos com neutropenias febris, doentes precisando de paliação…
Quando não há resposta em mais lado nenhum, o serviço de urgência é sempre a última saída , a segurança, o aconchego, 24×7 x 365 dias ano, para todos os doentes.
A extrema importância social que apresenta não tem paralelo com a importância que os lideres políticos e a ordem dos médicos lhe tem atribuído.
Em virtude de ao longo dos anos se insistir na permanência do actual modelo, tem havido falta crónica de médicos com competência em urgência e emergência e um subdimensionamento crónico das escalas médicas em relação ás necessidades, tornando o serviço de urgência um serviço penoso e em elevado risco de erro médico e atendimento não atempado de situações graves.
Ao contrário dos restantes serviços médicos hospitalares que têm um director do mesmo serviço e em que todos trabalham nesse local, a área médica do serviço de urgência tem elementos da especialidade de medicina interna, geralmente jovens, que la trabalham 12 h por semana, habitualmente mais concentrados nas unidades de internamento da urgência e de coordenação desta e muitos outros médicos, maioritariamente sem especialidade e internos do 1.º ano de varias especialidades médicas, que são o primeiro contacto e que observam e tratam a maioria dos doentes que lá acorrem.
Se pensarmos que estamos a tratar os piores doentes, aqueles que apresentam doença descompensada e instável , toda esta situação se torna ainda mais intolerável.
Nem vamos falar nos locais remotos, afastados de centros hospitalares, em que o médico que assiste a urgência e emergência é mais uma vez um médico não formado em emergência.
Assustador!
E nada disto faz sentido, uma vez que a especialidade de medicina de urgência já existe há décadas, prepara médicos para esta função e está disseminada no mundo desenvolvido.
É só permitir que se implemente em Portugal!
A urgência necessita de ser um serviço profissionalizado, dedicado, com médicos em número e capacitação ajustados à complexidade dos doentes que surge .
Não disperso em consultas e internamento.
Com um internato próprio de 5 anos, com diferenciação séria em emergência .
Que se preocupe em corrigir os erros que persistem há anos..
Um modelo diferente.
A qualidade e segurança dos médicos e dos doentes são um imperativo. A formação de todos os médicos, também .
É preciso abordar os problemas dos SU de frente e resolvê-los de vez.
Queremos rácios de médicos e espaços físicos ajustados ao volume de doentes que recebemos. Queremos limites neste número. Não conseguimos trabalhar em segurança, com avalanches de doentes graves.
Queremos estar à altura dos doentes que recebemos.
Queremos uma verdadeira liderança.
Não precisamos de inventar a roda.
O curriculum e internato são definidos pela associação europeia de medicina de urgência ( EUSEM) que apoia a criação desta especialidade na Europa.
É só a Assembleia de representantes da Ordem dos médicos votar SIM e começamos a inverter a situação.
Temos agora uma oportunidade de virar a página.
Coragem! Vamos lá!
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