De acordo com o relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), os hospitais públicos estão endividados e “à beira de um ataque de nervos”, mostrando que a crise económica continua no setor hospitalar.

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Contactado pela Lusa, o presidente da Associação Nacional dos Administradores Hospitalares (ANAH), Alexandre Lourenço, defende que o grau de centralização das despesas atualmente existente, além das dificuldades provocadas pelas restrições de tesouraria, prejudica a inovação nos hospitais.

Falta de liquidez e aumento da dívida

“O relatório veio de certa forma expressar o sentimento do setor, sobretudo no que se relaciona com a restrição de tesouraria nos hospitais e com o adiamento administrativo da despesa, dada a política de gestão administrativa do Ministério das Finanças”, afirmou Alexandre Lourenço.

O documento do OPSS, que é hoje apresentado, diz que o quotidiano dos hospitais é marcado pela ameaça de necessidade de injeção de dinheiro e que há nas unidades do Serviço Nacional de Saúde falta de liquidez e um aumento do ‘stock’ da dívida a fornecedores, o que tem “conduzido à prática de entregas de verbas a título extraordinário aos hospitais”.

Em declarações à agência Lusa, Alexandre Lourenço considerou que a centralização da despesa condiciona também o desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde, que se faz “de forma descentralizada e pela inovação realizada pelos profissionais de saúde em cada ponto da rede” e que, depois, as boas práticas são “disseminadas pelas organizações”.

Só assim se consegue “uma mudança estrutural no sistema”, defendeu o presidente da APAH, dando o exemplo do que aconteceu com a cirurgia de ambulatório.

“Quando temos uma centralização demasiado elevada, dificilmente o setor consegue desenvolver-se e criamos um mau estar generalizado entre os profissionais e isto leva a uma deterioração da qualidade de serviço”, acrescentou.

Alexandre Lourenço apontou ainda outro ponto destacado no relatório, como a questão das 35 horas, frisando que o documento do Observatório dos Sistemas de Saúde “destaca claramente que esta matéria não ficou resolvida com a contratação de pessoas”.

“Hoje, nos hospitais, temos menos recursos do que teríamos em 2016 em termos de disponibilidade de profissionais. Além disso, grande parte das contratações realizadas na área médica são feitas a prestações de serviços, algo que também é contrário à própria lei do Serviço nacional de Saúde e que não leva a uma prestação de atos de saúde com elevada qualidade”, explicou.

Outra matéria sublinhada pelo presidente da Associação Portuguesa dos Administradores, que é igualmente destacada no relatório, é a dependência política nas nomeações dos gestores hospitalares e a falta de profissionalização e avaliação destes gestores.

“Existe uma grande dependência política dos conselhos de administração, é algo que temos vindo a alertar. O sistema de saúde só se desenvolve quando tiver gestores capacitados e com competência e gestores que também sejam avaliados de forma transparente” afirmou o responsável, sublinhando que a APAH tem vindo a insistir na necessidade de “mecanismos de avaliação da gestão”.

“Isto não está atualmente garantido e há uma elevada dependência de confiança politica e nós precisamos de gestores profissionais que criem condições para os profissionais de saúde melhorarem a prestação de cuidados”, disse.