A incidência e a prevalência de lombalgias são muito elevadas na população geral e, por isso, têm concentrado a atenção de diversas especialidades médicas, com destaque para a Medicina Geral e Familiar, numa perspetiva essencialmente do seu diagnóstico e tratamento, já que a probabilidade de sofrer dessa algia é muito elevada até à idade (bem) adulta. Todavia, por razões incompletamente conhecidas, o respectivo contexto profissional nem sempre é valorizado, quer na sua origem, quer no seu agravamento laboral ainda que a Organização Mundial de Saúde estime que mais de um terço das lombalgias tenha origem profissional.
Serão as condições de trabalho suficientemente tidas em conta?
Será, igualmente, tida em conta a actividade profissional na história natural da lombalgia?
Bastará referir, como exemplo de fatores de risco relacionados com a atividade, as posições de trabalho extremas, nomeadamente a flexão, a extensão ou a rotação do tronco, a sua repetição, e ainda mais se sujeita a cargas e/ou a exposição a vibrações. Tal, muitas vezes e adicionalmente, com elevadas exigências no tempo de execução das tarefas e com outros fatores de risco de natureza individual como o peso, a idade, os hábitos tabágicos ou a capacidade física, todos com influência potencial na origem ou no agravamento da lombalgia.
Parece claro que qualquer abordagem sobre as lombalgias (e mais ainda nas crónicas) não deve esquecer a complexidade das interdependências entre os diversos fatores etiológicos ou de agravamento, sendo inadiável dar muito mais importância aos fatores profissionais, quer na etiologia ou no agravamento desse quadro clínico, quer na sua prevenção.
Para tanto é, igualmente, inadiável que em qualquer nível de intervenção na história natural da “doença” (seja primário, secundário ou terciário) se tenha presente a necessidade de actuação precoce nas situações de trabalho, antecipando esse risco ou, se se preferir, a probabilidade da sua ocorrência.
Também a presença de uma lombalgia (com ou sem origem profissional) deve determinar uma boa articulação ente a Medicina Familiar e a Medicina do Trabalho, promovendo uma melhor gestão clínica de cada situação concreta, intervenção na situação de trabalho e até uma melhor articulação na eventual necessidade de reintegração e readaptação (ou mesmo de recolocação) bem-sucedida do trabalhador no seu local de trabalho. De facto, qualquer que seja a situação clínica de cada cidadão as exigências do trabalho devem fazer parte das preocupações em matéria de promoção da saúde e de prevenção da doença.
É que, quer queiramos ou não, o trabalho preenche uma importante parte de mais de metade da vida de cada cidadão e esses cidadãos, nessa fase ativa da sua vida, são um importante suporte e fonte de recursos indispensáveis à estruturação das sociedades modernas. Porque tarda, então, o indispensável incremento no investimento na saúde desses cidadãos nos seus locais de trabalho (como são os exemplos do robustecimento da Saúde Ocupacional e da Medicina do Trabalho)?
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