“A nota preliminar que nós temos é que cerca de 90% dos colegas não estão a efetivar este tipo de trabalho”, disse à Lusa Jorge Roque da Cunha, num balanço da adesão à greve de um mês ao trabalho extraordinário dos médicos de família, convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que se iniciou ontem.

Lembrando que, em média, os médicos realizam cerca de 850 mil consultas nas suas horas extraordinárias, o dirigente sindical estima que a adesão registada se traduza em cerca de 3.000 consultas por realizar.

“É um número conservador”, disse Jorge Roque da Cunha, antecipando que possam ser mais porque “este ano há uma pressão maior por parte dos utentes sem médico”.

A paralisação insere-se num conjunto de greves que o SIM anunciou recentemente para protestar contra a ausência de propostas concretas do Governo nas negociações sobre as grelhas salariais e a valorização da carreira que decorrem desde 2022 sem acordo.

“Esta questão só se resolverá quando o Governo cumprir aquilo que assinou há cerca de um ano, que é um processo negocial com os sindicatos, e um processo negocial indica, em termos formais, a apresentação de propostas”, afirmou o representante dos médicos.

A próxima reunião negocial está agendada para sexta-feira e, de acordo com o secretário-geral do SIM, a proposta do executivo não chegou aos sindicatos.

Durante a manhã, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, garantiu, em declarações aos jornalistas, que vai apresentar uma proposta de revisão da grelha salarial aos médicos e lamentou o “criticismo excessivo” que tem havido sobre a forma como têm decorrido as negociações.

Além desta paralisação às horas extraordinárias, o sindicato marcou uma outra greve dos médicos de âmbito nacional, que vai decorrer entre terça e quinta-feira.

Em antecipação da greve nacional, Jorge Roque da Cunha sublinhou que existe, atualmente, “um grande descontentamento na classe médica resultante da falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde”.

“Essa grande insatisfação é exacerbada pelo facto de o Governo proclamar o amor ao Serviço Nacional de Saúde e, apesar da nossa carga fiscal ter batido um recorde no ano passado, não há investimento nem em salários, equipamentos, condições de trabalho”, acrescentou, antecipando que isso represente “uma forte adesão”.