Os documentos revelam que funcionários desta agência da ONU violaram as regras internas ao viajarem em classe executiva, ao reservarem bilhetes caros de última hora e ao viajarem sem as aprovações necessárias.

Segundo adianta a AP, os abusos podem afastar potenciais doadores e parceiros, quando a OMS inicia a sua reunião anual de uma semana em Genebra, procurando maior apoio para combater um surto devastador de Ébola no Congo e outras doenças mortais, incluindo poliomielite, malária e sarampo.

O gasto de 192 milhões de dólares (cerca de 172 milhões de euros) denota uma quebra de 4% em relação a 2017, mas, nessa data, a OMS comprometeu-se a conter os abusos relacionados com viagens, após uma investigação da AP.

Os documentos relativos a 2018 revelam ainda que os auditores da OMS descobriram que alguns funcionários da agência deturpavam descaradamente as razões de suas viagens, explorando lacunas na legislação da organização para efetuarem viagens mais caras, em classe executiva.

A incapacidade da OMS de reduzir despesas poderá minar a sua credibilidade e dificultar a angariação de financiamento para combater crises de saúde, considerou Sophie Harman, professora de Saúde Global da Universidade Queen Mary, em Londres.

A mesma responsável esclareceu que o problema não era tanto a quantia que a OMS está a gastar em viagens, mas a forma como foi utilizada.

“A OMS precisa ter a casa arrumada para poder ir legitimamente à comunidade internacional dizer: ‘Precisamos de mais dinheiro para combater o Ébola'”, argumentou.

Entre outras responsabilidades, a OMS é a agência da ONU encarregada de estabelecer diretrizes globais de saúde e coordenar a resposta às situações de emergências relacionadas com a saúde em todo o mundo.

O seu orçamento anual é de aproximadamente dois mil milhões de dólares (1,79 mil milhões de euros), é proveniente principalmente das contribuições financiadas pelos contribuintes dos países-membros. Os Estados Unidos são o maior contribuinte da OMS.

Em comunicado divulgado na segunda-feira, a OMS defendeu-se das críticas, alegando que as “viagens são muitas vezes essenciais para alcançar pessoas necessitadas” e frisou que mais de metade dos gastos com viagens foi para transportar especialistas mundiais e representantes de países em desenvolvimento a reuniões técnicas.

A agência da ONU justificou ainda que novas medidas foram adotadas em 2018, com o objetivo de garantir que “as viagens dos funcionários sejam necessárias, económicas, apropriadas e eficientes”.

Em 2017, a AP revelou que a OMS estava a despender cerca 200 milhões de dólares por ano em viagens, incluindo passagens aéreas de primeira classe e hotéis cinco estrelas para a diretora-geral, Margaret Chan.

Após tais críticas, o sucessor de Chan, Tedros Adhanom Ghebreyesus, prometeu agir.

Em resposta a questões da AP, a OMS esclareceu que Tedros Adhanom Ghebreyesus viaja tanto em classe executiva como em económica, dependendo da distância, e que gastou 209 mil dólares em viagens em 2018.

Outras organizações internacionais de ajuda médica, incluindo os Médicos Sem Fronteiras e os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, proíbem explicitamente as equipas de viajar em classe executiva.

Embora os gastos gerais da OMS tenham caído, os abusos persistem, segundo os documentos divulgados pela AP, que evidenciam que viagens para participar em tarefas regulares como palestras e grupos de trabalho foram pedidas como sendo de “emergência”.