A polémica já chegou lá fora, com publicações especializadas como a ARTnews a noticiar que a "exposição Mapplethorpe em Portugal [está] na origem de uma controvérsia por causa da censura". "O curador demite-se, uma carta aberta circula e a fundação do artista demarca-se das acusações", pode ler-se no título da notícia, que cita ainda o jornal El País. Em Portugal, o ator Nuno Lopes é um dos maiores críticos da decisão.

O ator insurgiu-se depois da administração do espaço museológico portuense, liderada por Ana Pinho, presidente da Fundação de Serralves, ter imposto a retirada de algumas imagens com conteúdo sexualmente explícito da exposição dedicada ao polémico fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe, conhecido pelas suas fotografias ousadas, além de limitado o acesso a uma das salas da mostra a menores de 18 anos.

"Censurar arte num museu. Que tristeza, Serralves!", escreveu Nuno Lopes numa primeira publicação. As reações dos seguidores não se fizeram esperar. "Não considero censura mas proteção. A entrada em Serralves aos domingos de manhã é livre e há centenas de visitas de estudo planeadas com antecedência", respondeu Tiago Dias. "Não estamos de acordo", reagiu prontamente o protagonista do filme "Alice".

"Informar sobre o conteúdo, sim. Proibir, não", defende o ator. "É difícil entender a legitimidade de um museu para classificar, de forma moral, os conteúdos artísticos que expõe. Essa decisão, discutível, tem que estar confinada ao julgamento dos encarregados de educação", considera Miguel Andrade. "Este pseudo puritanismo está a ganhar contornos perigosos com laivos de retrocesso civilizacional", opina Octaviano Rodrigues.

"Afinal, podem mostrar-se flores que parecem sexos mas não sexos que parecem flores?", questiona Miguel Andrade. "Se seguissemos esta lógica, metade do [Museu do] Louvre tinha de estar proibido também", escreveu Pedro Quedas, outro dos apoiantes do autor. O maior confronto surgiria pouco depois. "Não vejo o problema da classificação. Além disso, a obra é homoerótica", condenou Josefina Paiva.

"O problema é a proibição e não a classificação que, ainda assim, me parece ridícula. E qual o problema da obra ser homoerótica?", reagiu Nuno Lopes. "Não acho que uma obra homoerótica, mesmo com beleza estética, deva mostrar desvios de caráter sexual", respondeu a seguidora. "Desvios?", interrogou o ator. "A homossexualidade é um desvio", retorquiu Josefina Paiva, reacendendo a discussão.

"Que pena que pense assim. Nesse caso, não tenho mais nada a discutir consigo", afirmou Nuno Lopes. "A parvoíce também é um desvio", digitou Miguel Andrade, antes da discussão descambar. "Desconfio que o problema da exposição de Serralves é não ser aconselhável para alguns adultos", voltaria a escrever o ator numa publicação posterior, com a atriz Ana Bola, que no Facebook surge como Ana Simões a apoiá-lo publicamente.

"Agora é que tu acertaste", elogiou. "Felizmente, nunca fui preconceituoso mas crescer perto de ti fez-me ainda ser mais livre de cabeça. Acho que toda a gente devia passar um ano ao teu lado. O mundo seria tão mais bonito", respondeu-lhe Nuno Lopes. A polémica exposição, composta por 159 fotografias, exibe nus, flores, retratos de artistas e as famosas imagens de cariz sexual e pode ser vista até 6 de janeiro de 2019.

Nuno Lopes critica censura no Museu de Serralves nas redes sociais. Publicação gera discussão
Fotografia de Robert Mapplethorpe