Carlos III inicia na terça-feira uma visita ao Quénia que está a ser marcada pelos pedidos de indemnizações por parte do povo masai e da possibilidade de o monarca pedir desculpa por abusos do passado.

"Os acordos com o governo colonial, assinados sem a representação nem o consentimento adequado do povo masai, desencadearam a perda de partes importantes dos nossos terrenos ancestrais, provocando deslocamentos e grandes desafios socioeconómicos para a nossa comunidade", disseram os líderes desta comunidade que habita a Tanzânia e o norte do Quénia, durante uma conferência de imprensa em Nairobi.

Em causa está a visita de Carlos III e da sua mulher, a rainha Camila, ao Quénia, de terça a sexta-feira da próxima semana, na qual está a crescer a possibilidade de o monarca pedir desculpa pelos abusos das tropas coloniais britânicas no século passado, incluindo a perda de metade das terras do povo masai durante a ocupação colonial britânica, de acordo com as agências internacionais.

O rei britânico devia "reconhecer as injustiças históricas infligidas, a restituição das terras e uma indemnização, para além da devolução de artefactos culturais e de uma desculpa pública", disse Naomi Kakuri, uma das líderes do povo masai presentes na conferência de imprensa em Nairobi.

A visita ao Quénia é a primeira de Carlos III a um país da Commonwealth, uma comunidade composta por 56 países, a maioria dos quais antigas colónias britânicas, e surge poucas semanas antes da comemoração do 60.º aniversário da independência deste país africano, proclamada em 1963.

O Quénia está particularmente ligado à história da família real, já que foi lá que, em 1952, Isabel II soube da morte do seu pai, o rei Jorge VI, tornando-se assim a nova rainha do Reino Unido.

O casal real será recebido pelo Presidente queniano, William Ruto, na capital, Nairobi, na terça-feira, e, até quinta-feira, encontrar-se-á com empresários e jovens, participará num banquete de Estado, visitará um novo museu dedicado à história do Quénia e depositará uma coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, nos Jardins Uhuru, segundo a agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP).

Em seguida, Carlos e Camila deslocar-se-ão a Mombaça, no sul do país, onde o rei, empenhado nas questões ambientais, visitará uma reserva natural e encontrar-se-á com representantes de várias religiões.

"[A visita] ilustra a profundidade da nossa relação e a nossa parceria de benefícios partilhados", escreveu o Presidente Ruto no X (antigo Twitter), antes da visita de Carlos III.

A história entre os dois países não é isenta de momentos negros, como a repressão da revolta dos Mau Mau, que fez mais de 10.000 mortos entre 1952 e 1960, principalmente da comunidade Kikuyu, uma das repressões mais sangrentas do Império Britânico.

Após anos de processos judiciais, Londres aceitou, em 2013, indemnizar mais de 5.000 quenianos, mas há quem espere que o Rei apresente um pedido oficial de desculpas pelas ações passadas do Reino Unido.

A visita constituirá uma oportunidade para discutir "os aspetos mais dolorosos" da história entre os dois países, e Carlos III "aproveitará o tempo (...) para aprofundar a sua compreensão dos erros sofridos pelo povo queniano durante este período", declarou o Palácio de Buckingham antes da sua visita, citado pela AFP.

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