“No âmbito deste estudo, que se encontra atualmente em fase de adjudicação e que terá um prazo de execução de 12 meses,” vão ser realizadas um “conjunto de tarefas, nomeadamente um número significativo de campanhas de amostragem com recolha e análise de amostras de água superficial no rio Ave a montante e jusante de descargas de ETAR (Estação de Tratamentos de Águas Residuais)” e que vão “permitir a definição de recomendações” para mitigar os impactos que venham a ser identificados, indicou à Lusa a Águas do Norte.

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Em 2016, a Lusa noticiou que tinham sido detetadas no rio Ave quatro estirpes de bactérias resistentes a antibióticos usados em hospitais para tratamento de infeções graves e, na altura, o ministro do Ambiente garantia que estava a acompanhar a situação, para investigar as origens, frisando que não havia motivos para alarmismos.

Depois de na semana passada o BE ter solicitado ao Ministério do Ambiente informação da investigação sobre a bacia do Ave, a Lusa pediu esclarecimentos àquele ministério que chegou através da Águas do Norte.

Estudo pretende também propor recomendações

Em resposta escrita, a Águas do Norte informa que os próximos passos para a elaboração do estudo passa por “caracterizar a presença de antibióticos e bactérias resistentes nos efluentes rececionados nas ETAR inseridas na bacia hidrográfica do Ave e nos pontos de descarga a montante e jusante destas infraestruturas”.

Caracterizar a “eficiência de tratamento de antibióticos e grau de desinfeção das ETAR e o impacto decorrente da descarga destas infraestruturas no meio hídrico recetor”, assim como “avaliar os perfis de resistência microbiana existentes nas águas superficiais e residuais” e identificar “potenciais focos de contaminação mais relevante de antibióticos e/ou bactérias resistentes nesta bacia”, são outros dos objetivos traçados.

O estudo pretende ainda avaliar o desempenho de processos unitários convencionais de ETAR no tratamento de poluentes emergentes e propor recomendações que permitam minimizar eventuais impactos identificados.

Em declarações à Lusa em abril de 2016, o cientista Paulo Martins Costa, um dos membros da investigação, afirmou que os genes responsáveis pelas resistências das bactérias descobertas no rio Ave eram “idênticos aos identificados em bactérias isoladas em hospitais como, por exemplo, a 'Klebsiella pneumoniae'”.

Questionado hoje sobre o estudo da Águas do Norte, Paulo Martins considerou-o “ambicioso” e “abrangente”, por pesquisar bactérias e também resíduos de antibióticos que estimulem a transmissão de resistências entre diferentes bactérias.

Paulo Martins advertiu, contudo, que “falta monitorizar o caudal do rio em diversos pontos”, uma vez que “somente com esse referencial poderão perceber se as ETAR são realmente a fonte emissora dos problemas”.

“Se detetarem resistências no caudal diferentes das que detetam no efluente tratado da ETAR, terão que procurar outros emissores”, aconselhou o especialista, para quem “faz sentido” avaliar os perfis de resistência microbiana existentes nas águas superficiais e residuais, particularmente dos efluentes hospitalares.

Para o investigador, identificar potenciais focos de contaminação mais relevante de antibióticos e/ou bactérias resistentes na bacia do rio Ave “é o ponto mais importante”.

As tarefas e estudos sobre o rio Ave são resultado da constituição de um grupo de trabalho multidisciplinar que reúne a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Administração da Região Hidrográfica do Norte (ARH) e Águas do Norte.

A Águas do Norte também informou hoje que procedeu à execução de um trabalho de caracterização dos efluentes (esgotos e outros resíduos) lançados no rio Ave, com o objetivo de elaborar um estudo sobre o aparecimento de bactérias resistentes.