A Alemanha bateu o seu recorde de infecções diárias esta sexta-feira (17), com quase 34.000 novos casos. Também esta semana, registou 950 mortes num só dia, outro número sem precedentes.

Nos hospitais, 83% das camas de unidades de cuidados intensivos (UCI )estão ocupadas, segundo o Instituto Robert Koch (RKI).

Merkel enfrenta estados federados

Elogiado antes do verão pela sua flexibilidade, o sistema federal alemão enfrenta agora um forte questionamento interno.

Defensora da linha dura contra o vírus, Angela Merkel não tem poder de impor medidas aos 16 estados e regiões nas suas negociações regulares.

Segundo as próprias autoridades políticas, a situação atual começou em outubro, quando as regiões enfrentaram o governo federal, que queria endurecer as medidas contra o vírus.

A chanceler, cuja popularidade continua no auge, disse estar "insatisfeita", mas que não poderia impor nada.

Apesar do encerramento de bares, restaurantes e locais de cultura, apenas seis estados federados assistiram à redução do impacto do coronavírus desde 2 de novembro.

Relaxamento da conduta

Frequentemente vistos como disciplinados, os alemães não souberam desta vez reproduzir os esforços da primavera contra o vírus. É o caso das barracas de vinho quente, uma tradição antes das festas de Natal, que atrai multidões.

"Durante o confinamento da primavera, reduzimos os contactos em 63%. Até agora, fomos capazes de reduzir os contactos em apenas 43%, o que simplesmente não é suficiente", disse o virologista Christian Drosten.

O RKI estima que a redução eficaz dos contactos deveria ser de 60%. A aplicação anticovid também mostrou ter limitações. Apesar de utilizado por 23,5 milhões de pessoas, menos de metade dos utilizadores positivos declararam o seu contágio no app

Ex-RDA, a mais afetada

A situação é particularmente dramática em algumas partes da antiga Alemanha oriental, especialmente na Saxónia e Turíngia, onde as taxas de infeção alcançaram na quinta-feira 407 e 255, respetivamente, acima da média federal (179,2).

Depois de criticar a "histeria" do governo, o líder conservador de Saxónia, Michael Kretschmer, admitiu que a pandemia foi "subestimada" e impôs restrições de emergência.

Coincidência, ou não, nesta região é muito ativo o movimento antimáscaras, e a extrema direita está muito enraizada.

Drama das casas de repouso

"Infelizmente, estamos a ver mais e mais surtos nas casas de repouso", disse o presidente do RKI, Lothar Wieler.

Somente em Berlim, o número de residentes que deram positivo duplicou desde meados de novembro para mais de 2.000, segundo o Senado da capital.

Essa situação afeta o número de mortes, que na Alemanha supera as 24.000. De acordo com o instituto Statista, 87,2% das pessoas que morreram por covid-19 tinham mais de 69 anos.