"O look de hoje em dia é centrado na exclusividade da roupa. E com o fast fashion e o mercado de massas, isso só pode ser possível com o vintage", diz o estilista brasileiro Francisco Terra.

O ponto principal está na "liberdade que temos agora" para combinar roupas básicas com trajes únicos, diz o mexicano Antonio Ortega.

A roupa antiga é o contra-ataque da moda do "usar e descartar": é uma roupa que tem uma história para contar, que sobrevive graças à nobreza do tecido e à qualidade da modelagem.

E combina com a onda retro atual, em que os gira-discos e a consola da Nintendo voltam a ser produtos cobiçados.

Mad Men e o regresso aos anos 1960

"O fenómeno tem que ver com um sentimento de insegurança. Hoje acreditamos que o futuro será melhor do que o passado", explica Cécile Poignant, analista de tendências.

Ao recuperarmos o antigo, "temos a impressão de que nos estamos a apropriar de um passado idealizado".

A crise económica, que nos levou a aceitar o conceito de avareza, e a crescente consciência ecológica explicam também o auge do "vintage", assim como o sucesso da série americana "Mad Men", passada nos anos 1960.

Mas os especialistas lembram que o mercado de roupas usadas sempre existiu e que a novidade reside principalmente na roupa "vintage" de luxo, em pleno apogeu na capital da moda: Paris.

Os estilistas mais famosos, como o brasileiro que desfilou fora do programa oficial da Semana de Moda de Paris, procuram inspiração em lojas de segunda mão, como é o caso da Guerrisol.

Japão vintage

"Não gostam de dizer, porque é um lugar com um público mais modesto (...) mas todos os criadores das grandes marcas vêm aqui (à Guerrisol). É um pouco o templo de busca da moda parisiense", disse o estilista brasileiro Francisco Terra, que já trabalhou para a Givenchy e a Carven durante os 10 anos em que residiu em França.

A marca tem o nome da sua avó austríaca com quem aprendeu a costurar. Apresentou em Paris uma coleção que emula patchworks de roupas "vintage".

O estilista procura inspiração na marca francesa Margiela, que incluiu a roupa retro nas suas coleções, e o Japão, onde esse tipo de roupa causa furor.

Vejo e quero

Da rua para a passerelle e vice-versa. Cada vez que as grandes marcas recuperam uma roupa de décadas passadas - como os casacos de pele ou os casacos de aviador - a procura aumenta.

Na loja parisiense Thanx God I'm a VIP só são vendidas roupas das melhores marcas em excelente estado. Amnaye Nhas, um dos sócios, explica que a sua clientela "são geralmente pessoas que se querem destacar".

"Compram na Zara e depois vêm aqui em busca de roupa original" para completar o seu look.

Um vestido preto de seda e cetim da Kenzo é vendido por 255 euros, outro de seda da Leónard em tons verdes a 995 euros, mas os preços começam muito abaixo, nos 40 euros.

Nhas mostra um casaco Burberry de 1978, a 450 euros. "É uma roupa que pode ser conservada durante 20 anos. Se fizer as contas, sai mais barato que comprar um sintético a todos os Invernos".

Ele está convencido de que o vintage tem uma longa vida pela frente, pelo menos "até que chegue a roupa conectada".