As relações são por sistema espaços de partilha e pertença mútuas. Sempre que alguma termina, podem ficar sentimentos de abandono ou perda acentuados, principalmente quando a decisão foi da outra pessoa. Como lidar com isto? Como voltar a recuperar algum bem-estar e emoções agradáveis? E se nunca mais encontra ninguém por quem se apaixone e que o/a faça sentir-se amado? Estas são questões mais do que naturais numa fase em que o sofrimento é sentido como avassalador.

O final de uma relação tem tendência a levar-nos para terreno desconhecido e a colocar-nos em contacto com a incerteza do futuro. As mudanças no dia-a-dia podem ser várias e bastante intensas: falamos de mudanças nos hábitos e rotinas, nas responsabilidades, na casa que habita, nas relações com familiares e amigos e mesmo na sua própria identidade que pode estar fragilizada. São muitas mudanças ao mesmo tempo e pode ser de facto difícil lidar com elas.

A vivência da rutura de uma relação significativa é frequentemente semelhante a um luto, podendo sentir-se uma dor profunda de perda. Por vezes sente-se a perda do outro, outras vezes de uma parte de nós, que previamente se diluiu no outro. Já pensou se: Será que lhe dói mais a perda efectiva do outro? Ou a perda daquilo que era quando estava com o outro?

A resposta a esta pergunta pode ser crucial. Pois grande parte do caminho para lidar com o final de uma relação será precisamente o recomeçar a focar-se mais em si que no outro, nas suas necessidades, na sua identidade, na vida que deseja construir para si e por si.

Terminar uma relação implica por isso também assumirmos as nossas dificuldades relacionais e descortinar como poderemos ser melhores para nós e para os outros. Implica percebermos o que não toleramos, quais os nossos limites e também até onde estamos dispostos a ceder. Neste sentido, lidar com o final de uma relação pode ser também uma oportunidade que nos permite compreender o que aprendemos de bom e mau, de forma a construir um futuro melhor.

O futuro parece díficil de visionar subterrado por tanta dor e tristeza… Neste caminho um dos passos para começar esta recuperação passa por acreditar que é possível, mesmo sendo dolorosa e angustiante, mesmo sendo tão difícil no momento presente.

Conforme os dias vão passando, poder-se-á sentir “obrigado a fingir que está tudo bem” para não ser alvo de perguntas constrangedoras ou para não se fragilizar perante as outras pessoas. É natural sentir diversas emoções e cada uma delas fazem parte de si, dando-lhe sinais importantes face ao que precisa no momento. Não as ignore ou esconda. Sentir-se triste, zangado/a, exausto/a, frustrado/a ou confuso/a é perfeitamente natural num momento como este.

Por outro lado, com o passar do tempo após a separação inicial, após a zanga e a raiva, poderão começar a surgir espaços para sensações de nostalgia, saudade, que remetem para os melhores momentos com o outro. Este é um fenómeno que pode ser enganador, pois enviesa a memória e as emoções exclusivamente para as partes boas da relação no passado, criando uma necessidade de voltar a tentar, de ponderação sobre “secalhar ainda o/a amo/a”… Nestes momentos pode ser importante relembrar-se do que não funcionava na relação e que levou à rutura. O confronto com a realidade é doloroso, mas permite-nos fazer escolhas mais acertada, em alturas de ambivalência.

Por mais duro que o luto de uma relação seja, eventualmente ele passa, a dor desvanece-se e a aceitação de uma nova vida consigo mesmo prevalece!

Algumas dicas podem ajudá-lo a entrar em contacto com as suas necessidades, e, talvez o levem a conhecer-se melhor:

- Descanse. O final de um relacionamento é emocionalmente doloroso e desgasta muito em termos físicos e psicológicos, por isso é natural precisar de descansar mais que o habitual. Se ao final de alguns dias esse cansaço ou exaustão não passar, procure ajuda especializada;

- Saia de casa e faça coisas para o seu bem-estar. Muitas vezes a tendência para o isolamento instala-se e é comum deixar de sair de casa, fazer coisas que gosta ou estar com pessoas que lhe fazem bem. Se tem receio de que o final da relação seja tema de conversa, diga abertamente que de momento não quer falar sobre isso e aproveite o carinho das pessoas de quem gosta e que gostam de si;

- Crie um diário para escrever o que lhe vai na mente. Estudos comprovaram que a escrita contribui para ultrapassar momentos dolorosos, previne complicações na sua saúde mental (Smyth, 1998) e contribui para o seu bem-estar (Frattaroli, 2006);

- Inclua rotinas na seu dia-a-dia que lhe permitam cuidar de si. Às vezes procuramos que os momentos com os outros nos dêem aquilo que precisamos, seja carinho, seja divertimento, seja relaxamento, seja compreensão. Perceber o que precisamos para nos sentir bem, saber deixar ir o que não nos faz bem e aceitarmo-nos é o primeiro passo para começarmos a ser nós próprios e a satisfazer as nossas necessidades, não colocando essa responsabilidade nos outros;

- Procure um psicólogo. A psicoterapia poderá ser um espaço que o/a ajude a perceber o que está a ser difícil de ultrapassar, que tipo de conquistas já fez e quais as que ainda tem de fazer. Em conjunto com o seu psicólogo poderá definir objectivos e delinear uma intervenção adequada à sua situação e àquilo que precisa.

Ana Sousa

Psicóloga Clínica

Vanessa Damásio

Psicóloga Clínica e Psicoterepeuta Conjugal e Familiar

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