A poucas horas de subir ao palco do Coliseu dos Recreios de Lisboa, onde este domingo, 24 de maio, participará na entrega dos Globos de Ouro SIC/Caras, a atriz brasileira Lília Cabral, a vilã “Maria Marta” da novela “Império” confessa-se rendida ao carinho dos portugueses.
Tem sido reconhecida e abordada na rua desde que chegou a Lisboa?
Só cheguei ontem (quarta-feira), andei pelo Bairro Alto, pela Avenida da Liberdade e fui jantar à cervejaria Ramiro. É a 12ª vez que venho a Portugal e nunca tinha ido a esse restaurante. Foi uma festa porque tinha muitos brasileiros lá.
E o que lhe dizem os portugueses?
Tanta coisa bonita que fico sem jeito de falar. São muito carinhosos, dizem, por exemplo, que me acompanham há muito tempo e isso é muito importante. Outros dizem que gostam da forma como lido com a minha sinceridade. Também falam que sou mais bonita pessoalmente, mais magra e também acho bom! (risos)
O que pretende fazer nestes dias de férias e trabalho em Portugal?
Vou-me embora já na segunda-feira mas, desta vez, vou ter um dia livre e vou aproveitar para ir até Sintra, que acho linda e aonde já não vou desde 2006. Da próxima vez, quero vir uns dez dias com a minha filha e o meu marido só para ela conhecer melhor Portugal.
Tem algum prato português do qual sinta saudades quando está no Brasil?
Açorda! A minha mãe fazia-a com miolo e fígado, mas eu não gostava muito… Aqui já sofisticou e tem com camarão e várias coisas. Existe um restaurante no Brasil que tem essas comidas, que eu peço quando sinto falta e são uma delícia.
Vem a Portugal entregar um dos Globos de Ouro, da SIC, pela segunda vez. Como se sente nessa função?
O meu sentimento por Portugal é muito profundo porque a família da minha mãe é dos Açores. Quando recebo um convite para vir a Lisboa digo logo que sim porque é uma cidade muito acolhedora. Quando esse convite vem agregado a uma premiação como os Globos de Ouro é uma honra e um prazer. É uma festa belíssima, as pessoas preparam-se de facto para esta festa e estou muito feliz por estar aqui. Ainda mais, acabei de fazer a novela “Império”, estou de férias e posso aproveitar um pouquinho a vossa terra.
Em 2012 trouxe dois vestidos para, depois, escolher um. Agora também trouxe dois?
Não, só trouxe um! (risos). Acho sempre que o menos é mais e, numa cerimónia como esta, gosto muito de me apresentar do jeito que sou. Uma vez, no Brasil, deixei por conta de outra pessoa a escolha do vestido e quando chegou a hora não me revia ali. Outra vez, nos Emmy, fui com vestido lindo mas tinha um colar, que nem era verdadeiro, e só falavam dele. Assim não dá!... Então, desta vez, não há colar – venho apenas com brincos (risos).
Nestas viagens em que consegue juntar trabalho e lazer costuma fazer-se acompanhar da família?
Vim só com o meu marido, que agora foi ao Castelo de São Jorge aproveitar o dia. Eu tenho uma filha e o meu marido tem mais três filhos, que estão casados, e a família só viaja quando há forma de aproveitar as férias. Mas mesmo nas férias da minha filha nunca viajo com ela porque eu estou sempre a trabalhar. Quem viaja é o meu marido. Ela está a estudar e eu liguei-lhe agora, são seis horas da manhã lá, e eu esqueci-me (risos).
A sua filha também quer ser atriz?
É verdade. A Júlia está na Faculdade de Letras porque gosta muito de escrever. Mas o teatro sempre foi a sua paixão. Mas eu prefiro não interferir e ela está caminhando devagarinho. Acho que ela não pode ter pressa, tem de saber o que quer desta profissão. Se você quiser ser famoso então tem a pressa, vai sair em todas as revistas e vai durar dois, três anos. Se você quer ser ator, porque é a sua vocação, tem de escolher a sua forma de interpretar, de tocar as pessoas e de como quer influenciar o mundo com a sua arte.
Como foi viver a vilã “Maria Marta” da novela “Império”?
Era uma personagem intensa mas muito rica. Era uma pessoa sem elementos doces e amáveis porque sentia que, por ter perdido tudo, a vida dela era o poder, a família e o homem que amava. É o problema do poder, que deixa as pessoas cegas e vai criando mais dificuldades para poderem viver uma vida normal. A novela foi toda com personagens fantásticos e isso fez com a gente sentisse cada vez mais vontade de elaborar. Deu trabalho fazer, eram muitas cenas, muitas horas de trabalho, mas deu muito prazer também.
Foi difícil libertar-se da sua personagem?
A personagem para mim acaba quando saio da Globo. Quando estudo é para atuar nos ensaios e para fazer na hora de gravar. Não posso estar vivendo sempre a personagem, sou bem relax. Embora seja muito severa comigo mesmo e muito perfecionista.
Aproveitou o final das gravações da novela para mudar de visual?
Estou ruim? (risos) O que se passou foi que tivemos um verão de 50 graus, e, como o meu cabelo é fino, passava produtos nos exteriores e quando chegava ao estúdio, passava tudo de novo. Quando cheguei ao fim das gravações (13 de março) o meu cabelo parecia “Bom-Brio” (palha de aço). Aí o meu cabeleiro me disse: “Quer resolver problema do seu cabelo? Corta!”. E assim fiz. Acabei com o cabelo estragado. Se há coisas a que não me agarro são o cabelo e a roupa. Se não uso há um ano, dou, alguém vai usar.
Sente-se mais paulista ou carioca?
Quando tinha 18 anos e conheci o Rio de Janeiro, soube que a minha vida ia ser no Rio. Adoro São Paulo, foi ali que recebi tudo, o meu jeito correto de agir, a minha pontualidade, a forma de respeitar os colegas. Os meus valores herdei da minha família portuguesa e italiana, mas também tenho a seriedade com que o paulista se mostra. Mas o Rio tem uma leveza, uma forma relaxada de encarar a vida e, como sou muito certinha, o Rio dá-me essa alegria. A forma de olhar e viver o horizonte, também, porque São Paulo dá-me muita aflição por ser só prédios. Gosto de fazer lá umas temporadas, mas para viver … acho que não. No entanto, não virei carioca do chinelo e bermudas! (risos).
Existe a ideia de que o Rio de Janeiro é uma cidade um pouco violenta, concorda?
Ela não é pouco, é muito violenta. Continuamos a ter uma vida normal, mas antigamente não havia tanta violência como agora. Todos os dias há uma história triste e isso oprime. A violência saiu de um lugar que antigamente ficava nas favelas e agora está perto de onde moramos. Todo o mundo sabia que um dia isso iria acontecer. Como é que isso se corrige? Tem de haver mais policiamento, mais educação, mais cuidado para que o cidadão cresça e trabalhe e não sinta necessidade de ir para o mundo do crime. Só se consegue isso educando a criança desde pequena de que ela será capaz de fazer alguma coisa – e isto não se aplica só ao Brasil, mas também a qualquer lugar do mundo.
Como é que Lília ocupa o tempo quando não está a trabalhar? Cozinha, por exemplo?
Sou filha de uma portuguesa cozinheira de mão cheia, as minhas tias, madrinha, nossa!, cozinhavam bem, mas eu não me ajeito na cozinha. Mas se me derem uma casa para arrumar eu ponho-a impecável! (risos) Mas, por exemplo, faço pilates três vezes por semana, fico cuidando de tudo o que não pude cuidar no ano de gravações, vou ao cinema, ao teatro, enfim, tenho uma vida normal. Cuido da casa, também sou dona de casa, leio… passo assim o tempo.
Tem amigos atores portugueses?
Sim, o Paulo Rocha, que também fez a “Império”, mas a gente nunca se cruzou. Tem também o Ricardo Pereira, com quem nunca trabalhei mas vamo-nos encontrando em festas de amigos, da Rede Globo e até na rua. É uma pessoa extremamente agradável, inteligente e bom ator.
Gostaria de, um dia, entrar numa novela portuguesa?
Muito. Sinto-me até lisonjeada. Os atores portugueses quando vão para o Brasil são muito bem recebidos, porque sabemos das dificuldades de trabalhar fora, e acredito que cá fariam o mesmo. Aceitaria o convite com o maior respeito.
(Veja as expressões de Lília Cabral na nossa fotogaleria)
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