Em declarações aos deputados na Comissão de Saúde, Ana Paula Martins, presidente do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN) - que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente – disse que as demissões aconteceram porque os entraves colocados não eram de natureza técnico-científica.

“Chegou a um momento, após três meses de trabalho (…), sempre que imaginávamos que estávamos prestes a ter um plano, reiteradamente, o ex-diretor colocava alguns entraves que considerámos não serem de natureza técnico-científica, não estar em causa a segurança”, disse a responsável.

“É muito difícil, quase impossível para o Conselho de Administração, (…) não poder contar, quando há um desígnio como este (…) não ter a colaboração participada da direção”, acrescentou.

Contrariando a informação deixada aos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde pelo ex-diretor exonerado, Diogo Ayres de Campos, Ana Paula Martins disse: “Quanto aos indicadores assistenciais, infelizmente, não são bons”.

“Diminuímos em 21% o numero de consultas perinatais, os meios complementares de diagnóstico [ecografias] e temos dados do planeamento e controlo gestão que comprovam isto”, afirmou a responsável, adiantando que, além de a parte assistencial ter diminuído, houve igualmente uma diminuição de acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez.

Por último, apontou o relatório da Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que detetou erros na transferência de uma grávida, que acabou por morrer, para o Hospital São Francisco Xavier (HSFX), em agosto do ano passado.

Sobre o relatório da IGAS, que terá sido enviado para o Ministério Público pois envolveu uma morte, o diretor clínico do Santa Maria, também presente nesta audição, sublinhou que foi o anterior diretor do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução (DOGMR) que falou dele publicamente.

"O relatório da IGAS foi comentado publicamente pelo anterior diretor, sem nos ter dito nada", afirmou Tato Marinho, acrescentando que Diogo Ayres de Campos comentou o documento "de forma depreciativa relativamente ao perito e à IGAS", pois não concordava com as suas posições.

Explicou que, quando assumiu o cargo, se deparou com este "evento adverso muito grave", mas ressalvou que se trata de um trabalho de equipa "muito complicado", assumindo: "É muito fácil haver um evento adverso (…). Vão morrer grávidas sempre, isso faz parte da estatística, sobretudo quando se trata de pessoas mais velhas, com mais doenças".

A este respeito, apontou ainda os casos das grávidas de outros países - aludindo ao "turismo de saúde" -, que não são seguidas na gravidez e que acabam por ter os seus bebés no Santa Maria: "Aí, ficamos com os dois meninos nos braços: a grávida e o bebé".

Sobre a atividade assistencial e a qualidade do serviço de obstetrícia e ginecologia, Tato Marinho corroborou os dados avançados pela presidente do Conselho de Administração do CHULN, acrescentando que as reclamações "duplicaram em três anos".

Por seu lado, Ana Paula Martins insistiu na ideia de que a decisão do Conselho de Administração de exonerar a direção do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução (DOGMR) nada teve que ver com os profissionais daqueles serviços, afirmando: "Os cerca de 40 médicos que assinaram a carta continuam a trabalhar em Santa Maria (...) e dão todos os dias o seu melhor, mas naturalmente fazem o que o diretor de serviço lhes pede".

A responsável disse ainda que as obras que estão previstas servirão para dar melhores condições aos profissionais que trabalham em Santa Maria para ali permanecerem.

Lembrando que se trata de um hospital universitário, Ana Paula Martins disse que há áreas a que os internos "nem se candidatam e nem querem ficar, porque as condições não são boas".

"Houve uma área em que abrimos 13 vagas e apenas cinco ficaram", exemplificou.