“África enfrenta um risco crescente de surtos de doenças causadas por patógenos zoonóticos, como o vírus da varíola dos macacos, que tem origem nos animais antes de mudar de espécie e infetar humanos”, refere um comunicado da OMS.
A nota revela que, de acordo com uma análise da OMS, “o número de epidemias zoonóticas aumentou 63% na região durante a década de 2012-2022 em comparação com 2001-2011”.
A mesma análise avança também que entre 2001 e 2022, a OMS registou 1.843 casos de saúde pública em África e “30% desses casos foram surtos de zoonoses”.
“Um pico específico” destes surtos verificou-se, porém, em 2019 e 2020, altura em que os patógenos zoonóticos representaram cerca de 50% dos episódios de saúde pública, precisa.
O vírus Ébola e outras febres hemorrágicas virais representam “quase 70% desses surtos, incluindo dengue, antraz, peste, varíola dos macacos e uma série de outras doenças”.
Os dados mais recentes sobre a varíola revelam um aumento significativo de casos da doença desde abril de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021.
“Esse aumento é observado principalmente na República Democrática do Congo [RDCongo] e na Nigéria, e pode ser parcialmente atribuído ao fortalecimento da vigilância em laboratório da varíola, à capacidade de testagem nesses países”, embora investigações detalhadas estejam em andamento.
No entanto, “essa tendência de aumento permanece menor do que em 2020, quando a região registou o maior número de casos mensais de varíola” e “no geral, os casos de varíola dos macacos estão a aumentar desde 2017, exceto em 2021, quando foi observada uma queda repentina”, salientou a OMS.
De 01 de janeiro a 08 de julho de 2022, foram registados 2.087 casos acumulados de varíola dos macacos, dos quais apenas 203 foram confirmados, revelou a OMS.
“A taxa geral de letalidade para os 203 casos confirmados é de 2,4%. Dos 175 casos confirmados para os quais existem dados específicos, 53% eram do sexo masculino e a idade média era de 17 anos”, apontou.
“Infeções transmitidas por animais que se transferem para humanos existem há séculos, mas o risco de infeções em massa e mortes era relativamente limitado na África”, sublinhou a organização.
A explicação para esta situação pode estar no facto de que “as infraestruturas de transporte precárias eram uma barreira natural”, disse Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para a África, citado no comunicado.
“No entanto, com o transporte melhorado na África, a ameaça de patógenos zoonóticos, que se deslocam para os principais centros urbanos, aumentou. Devemos agir agora para conter as zoonoses antes que possam causar infeções generalizadas e impedir que a África se torne o epicentro de doenças infecciosas emergentes”, defendeu.
Isto apesar de a OMS considerar que conter a disseminação de doenças de origem animal na África “é complexo”. Por isso, recomendou “uma abordagem única à saúde que requer a colaboração de diversos setores, disciplinas e comunidades”.
Isso envolve uma ampla gama de especialistas, incluindo aqueles que trabalham em saúde humana, animal e ambiental. Os epidemiologistas e outros especialistas em saúde pública devem partilhar informações relacionadas com atividades rotineiras de vigilância e resposta a doenças, tanto para a saúde animal quanto para a saúde humana, considerou.
Mas, para a organização, “há também a necessidade de mais pesquisas para identificar os fatores ambientais, socioeconómicos e culturais que promovem o surgimento e a transmissão de doenças propensas a epidemias e para entender melhor os fatores que influenciam o impacto e a propagação de epidemias, incluindo o estado imunológico, nutrição, resistência genética e antimicrobiana”.
“Precisamos de todos para prevenir e controlar zoonoses como o Ébola, a varíola e até outros coronavírus”, afirmou Moeti. “As doenças zoonóticas são causadas por fenómenos de contágio de animais para humanos. Somente derrubando as barreiras entre as disciplinas podemos abordar todos os aspetos da resposta”, advogou na nota.
Desde 2008, a OMS fortaleceu a sua colaboração regional com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e a Organização Mundial de Saúde Animal para apoiar os esforços de resposta a surtos de doenças zoonóticas na África.
Recentemente, as três agências trabalharam juntas durante o 14.º surto de Ébola, na RDCongo, que já terminou.
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