Finais de dia agitados, braços de ferro entre pais e filhos por causa dos trabalhos de casa, a paciência por um fio. Identifica-se com este cenário? “As horas de estudo e dos trabalhos de casa são quase sempre uma dor de cabeça para os pais”, diz Ana Manta, psicóloga clínica e coordenadora pedagógica da Red Apple - Formação Contínua e Estudos Superiores, lançando a questão: “Porque será?”. Na opinião da responsável pelo ‘workshop’ “Como motivar o seu filho para o estudo”, estas horas são muitas vezes de grande dor de cabeça porque os pais incutem, mesmo sem querer, que este é um tempo de obrigação, quase de castigo.
“O que se pode fazer para alterar isto é criar rotinas em que os pais estejam o mais presentes possível e transformar este tempo de estudo em tempo de diversão. A ideia é que pais e filhos possam sentir-se bem a fazer qualquer coisa em conjunto”, como estudar, por exemplo, refere a especialista, em declarações ao Saldo Positivo. Para saber como pode acompanhar melhor o percurso académico do seu filho, leia o artigo 12 ‘apps’ para todas as etapas escolares dos seus filhos.
A verdade é que, muito por falta de tempo ou por sentirem que não têm as competências necessárias para acompanhar o percurso escolar dos filhos, muitos pais optam por explicações ou centros de estudo, nos quais as crianças fazem os trabalhos de casa e estudam acompanhados por um professor, e assim estão livres para brincar e descansar quando chegam a casa.
Além de todos os outros gastos mensais com as crianças, esta é mais uma parcela para somar ao orçamento familiar, sendo que, no que diz respeito aos centros de estudos, os preços variam em média entre 130 e 150 euros, por exemplo, para uma mensalidade que dá direito a sala de estudo acompanhado. Já as explicações têm preços que oscilam muito consoante o nível de ensino e o facto de se tratar de explicações individuais ou em grupo. No final do ano letivo, estudar com os pais pode levar a uma poupança acima dos 1.500 euros. Para saber mais sobre Quanto pesa um filho no orçamento familiar?, leia este artigo.
Sobretudo pela poupança, mas também pelo vínculo parental, para Ana Manta é sempre melhor as crianças estudarem acompanhadas pelos pais, exceto se estes não puderem mesmo ou se os filhos tiverem problemas ao nível da aprendizagem e precisarem de ajuda especializada. “Fora isso, mais vale investir na relação pais/filhos e não distanciar da criança”, refere a psicóloga, argumentando que uma boa "relação de estudo" entre pais e filhos poderá contribuir para poupar nos gastos com centros de estudos e explicações. “Estes momentos em família são parte das memórias que a criança levará pela vida fora”, sublinha.
Tudo começa por volta dos seis anos, com a entrada para o primeiro ano de escolaridade, quando a vida dos pais e dos filhos se altera substancialmente, com novas rotinas de aprendizagem e estudo. “Esta é uma das transições mais difíceis de gerir tanto para pais como filhos, e pode mesmo tornar-se no início de uma fase problemática no relacionamento entre ambos. Não são só as rotinas diárias que mudam. Muda sobretudo a imagem que os pais têm dos filhos e muda a exigência que muitas vezes depositam neles”, refere Ana Manta. Saiba como passar conceitos de poupança aos seus filhos com o artigo Como ensinar os seus filhos a poupar?
E quanto maiores as exigências e as expetativas, maiores serão também as frustrações dos pais projetadas nos filhos, avisa a formadora: “Os pais já tiveram o seu próprio percurso escolar e agora não podem exigir aos filhos mais do que eles conseguem dar. Cada criança é única e deve ter os seus próprios objetivos. Não são as notas escolares que fazem dela uma criança melhor”.
Ainda assim, estudar é importante e é ainda mais importante adquirir bons hábitos de estudo, desde cedo. “Deve transmitir-se à criança que as horas de estudo podem ser divertidas. Podemos criar jogos com objetivos para o estudo, adequados para a idade da criança. E também atividades para depois do estudo, porque assim a criança sabe que se terminar os trabalhos de casa sem fazer braço de ferro, no final tem algo giro para fazer com os pais”, refere Ana Manta. No ‘workshop’ “Como motivar o seu filho para o estudo”, que se realiza já no próximo sábado no Porto, e depois em janeiro em Lisboa, a formadora irá transmitir aos pais um conjunto de dicas práticas, tais como: tabelas de gestão de objetivos, que permitem gerir melhor o tempo; e atividades como o "Frasco de Perguntas para depois da escola" e o “Frasco dos Tempos Livres”, o "Bingo de Leitura", os "Recados na Lancheira", ou o exercício “Apanhados num bom momento”. Conheça 10 Atividades ‘low cost’ para fazer com os seus filhos neste artigo.
Outras dicas práticas de incentivo ao estudo passam por criar hábitos regulares de estudo, alternar o estudo entre as disciplinas favoritas e aquelas em que a criança tem maior dificuldade, implementar momentos de pausa (com intervalos de 15 minutos por cada 45 minutos de estudo) e eleger um local de estudo calmo em sossegado, sem fatores de distração. Da mesma forma, em vez de apenas memorizar, a criança deve ler a matéria, para apreensão dos conhecimentos, saber explicar o que aprendeu por palavras própria e resolver exercícios. Aos pais cabe a tarefa de acompanhar o estudo no início, promovendo sempre a autonomia, para aprenderem a estudar sozinhos.
Mas a principal dica avançada pela formadora para os pais é que “devem estar presentes, presentes mesmo, de cabeça e não só de corpo”. “Não é fazer os trabalhos por eles, é fazê-los sentir que estamos presentes e que esta caminhada é em equipa”, conclui Ana Manta.
Exemplos de algumas atividades para pais e filhos:
“Frasco de Perguntas para depois da escola”
Em vez de perguntar apenas "Como correu o dia hoje?", ou bombardear o seu filho com muitas questões, Ana Manta sugere a criação de um “Frasco de Perguntas”, com questões divertidas para fazer depois da escola. A ideia é que seja a criança a retirar um papelinho com uma questão, lida pelos pais e respondida pelos filhos, para fomentar a comunicação.
“Bingo de Leitura”
Trata-se de um jogo no qual os pais combinam com as crianças que cada vez que elas lerem 5, 10 ou 15 minutos (depende da idade da criança) ganham uma estrelinha para colar neste bingo. O objetivo é incentivar à leitura.
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