Nos últimos anos, assistimos a uma especialização cada vez maior das profissões da área da saúde, com consequente aumento da especificidade dos serviços de internamento nos hospitais. Em alguns casos podemos falar em híper especialização, o que não será certamente errado, pois possibilita a realização de intervenções também elas mais especializadas, mais adequadas e mais específicas.
As especializações trazem consigo o risco da visão parcial, menos holística, do olhar apenas para o órgão e não para a globalidade da pessoa integrada na família, na comunidade e no seu ambiente. Conduz também ao risco de exclusão de pessoas que não encaixem nos critérios definidos e restritos. A especificidade não faz com que serviços mais abrangentes se aniquilem ou eliminem, pelo contrário, torna-os mais necessários e pertinentes, como é o caso da medicina interna.
A medicina interna, é uma especialidade médica com um papel central em quase todos os hospitais do país. Como especialidade apresenta uma visão integradora das características fisiológicas e patológicas dos doentes, estabelecendo parcerias com diferentes especialidades e com diferentes profissionais da área da saúde. Os serviços de medicina interna são serviços de internamento hospitalares basilares, recebendo pessoas com doenças multiorgânicas, de diversas tipologias e de múltiplas etiologias.
A enfermagem é uma ciência e uma profissão de cariz generalista da qual derivam diversas especialidades, entre as quais a enfermagem de reabilitação. As especializações permitem acrescentar conhecimento e qualidade aos cuidados, assumindo respostas mais direcionadas, personalizadas e complementares. A especialidade de enfermagem de reabilitação prepara os enfermeiros para intervir em áreas específicas do cuidar, como sejam a área dos cuidados respiratórios, cardíacos, neurológicos e músculo-esqueléticos.
Em serviços mais especializados, as ações dos enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, ficam algo circunscritas a uma determinada área de intervenção, resultado das características próprias do serviço e das pessoas doentes que servem. Os serviços de medicina interna são o local de excelência para os enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação assumirem um papel abrangente e multifacetado, exercendo plenamente a sua especialidade, com ações diárias muito diversificadas, prestando cuidados a pessoas com doenças muito distintas e com necessidades de variadíssima ordem.
A atuação dos enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação é centrada na pessoa, focando-se na maximização do seu potencial funcional e na promoção da sua independência, minimizando as incapacidades e prevenindo potenciais complicações resultantes do processo de internamento. A reeducação funcional respiratória, a prevenção de incapacidades, a reabilitação motora, o treino de atividades de vida diária e educação para a saúde ao doente e família, aumentando a literacia em temas do seu interesse, constituem a algumas das intervenções de reabilitação nos serviços de medicina. Intervenções diferenciadas que apenas profissionais com uma formação de base solida e com experiências diversificadas, conseguem alcançar.
Se antes, a população alvo da medicina interna era tida como uma população essencialmente geriátrica, a Pandemia COVID 19 mostrou-nos o contrário. Cuidamos doentes mais jovens e mais instáveis e percebemos as equipas mais resilientes, numa adaptação a novos cenários e diferentes contextos. Nunca se exigiu tanto com tão pouco e muito do sucesso da intervenção na pandemia, se deveu às equipas de profissionais altamente plurais, com conhecimentos muito vastos preparados para intervenções dinâmicas. Sendo preponderante o papel dos enfermeiros e em particular dos enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação na estabilização das equipas, coordenação dos cuidados e na incorporação de novos equipamentos e métodos de trabalho. Foi necessário ampliar o espetro da ventilação mecânica não invasiva em contexto pandémico, com novos equipamentos e novas terapias nos serviços de medicina interna como foi a oxigenioterapia de alto fluxo. Foi também necessário reabilitar, descobrindo como reabilitar estes doentes e quais as intervenções mais adequadas.
A pandemia mostrou a importância dos enfermeiros de reabilitação em lidar com doentes atípicos em condições altamente adversas, revelando as capacidades dinâmicas e resiliência que possuíam.
Os enfermeiros de reabilitação nos serviços de medicina promovem a obtenção de ganhos em saúde, contribuindo para a diminuição das morbilidades, promovendo a autonomia do doente e da família, evitando ou reduzindo o número de episódios de internamento. Contribuem para a diminuição da demora média de internamento com intervenções terapêuticas e adjuvantes da terapêutica, mantendo e melhorando o nível de independência funcional e o nível de independência na realização das atividades de vida diária, promovendo o autocuidado durante o internamento e preparando atempadamente a alta para otimização da reintegração da pessoa no ambiente social e familiar.
Permanece a necessidade de serviços de internamento abrangentes e de profissionais de saúde que dentro da sua especialização, mantenham a visão integrada e integradora da pessoa. O enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação tem esse perfil e os serviços de medicina interna são o local ideal para a aplicação plena das suas competências.
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