Uma investigação internacional, liderada por Henrique Girão, da Faculdade de Medicina de Coimbra, “permitiu descobrir como induzir a formação de novos vasos sanguíneos no coração, usando exossomas produzidos por células em cultura”, anunciou a Universidade de Coimbra (UC), numa nota enviada esta segunda-feira à agência Lusa.
A descoberta poderá abrir caminho para “abordagens terapêuticas inovadoras no tratamento de doenças cardiovasculares”, sublinha a UC.
Os exossomas – “pequenas vesículas sinalizadoras que permitem a comunicação e partilha de informação entre células, órgãos e tecidos” – podem ser encontrados na “maioria dos fluidos biológicos, incluindo sangue, urina e saliva”, circunstância que tem merecido grande atenção por parte dos cientistas, dado o seu “enorme potencial terapêutico e de diagnóstico”.
No estudo, os investigadores demonstraram que “o ‘conteúdo’ destas pequenas vesículas varia com as condições a que o coração é sujeito”, isto é, “a informação veiculada pelos exossomas é determinada pelos estímulos, ou danos, induzidos no coração, como é o caso da isquemia, que leva ao enfarte do miocárdio”, explica a UC.
A partir desta informação, a equipa de especialistas “descobriu que exossomas libertados por células do músculo cardíaco sujeitas a isquemia têm a capacidade de libertar sinais que promovem o crescimento de novos vasos sanguíneos no coração”.
As células do músculo cardíaco “quando deixam de ser devidamente alimentadas, por privação de nutrientes e oxigénio, devido à obstrução de um vaso sanguíneo, emitem pedidos de ajuda com o objetivo de estimular o crescimento de novos vasos sanguíneos que possam compensar os que se encontram bloqueados ou disfuncionais, permitindo restabelecer a circulação sanguínea e a função cardíaca”, adianta Henrique Girão, citado pela UC.
Os especialistas começaram, assim, por “identificar o tipo de mensagem que é emitido pelas células do músculo cardíaco, quando expostas a condições adversas”.
Depois, acrescenta o investigador da Faculdade de Medicina da UC, foi demonstrado que são “exossomas ricos em determinadas moléculas reguladoras, denominadas miRNA, os responsáveis por induzir os mecanismos que levam ao crescimento de novos vasos sanguíneos, num processo designado como angiogénese”.
Ensaios realizados, no âmbito do mesmo estudo, com ratinhos de laboratório, aos quais foram aplicados, através de uma injeção intracardíaca, exossomas libertados pelas células danificadas, permitiram verificar que, ao fim de um mês, os corações dos animais sujeitos ao tratamento apresentavam mais vasos sanguíneos e registavam uma melhoria da função cardíaca.
A descoberta, já publicada na revista científica Cardiovascular Research, pode “abrir portas a abordagens terapêuticas inovadoras para tratar doenças do coração provocadas por disfunção vascular como, por exemplo, no caso do enfarte do miocárdio, a principal causa de morbilidade e mortalidade em todo o mundo”, salienta Henrique Girão.
“Para além de doenças cardíacas, esta abordagem poderá ser útil em outras patologias em que a terapia passe pela promoção do crescimento de novos vasos”, observa o investigador.
Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e por fundos europeus, o estudo teve a participação de investigadores do Centro de Estudos de Doenças Crónicas (CEDOC) da Universidade de Nova de Lisboa, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), do Imperial College London e da Faculty of Medicine - University of Geneva.
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