“A Fábrica, verdade seja dita, sempre esteve em risco de fechar. Tem dois anos e sempre sobreviveu de ‘crowdfunding’. Nunca conseguimos, até hoje, nenhum apoio financeiro institucional, governamental ou privado. Sobrevivemos através de empresas que nos ajudam pontualmente, mas acima de tudo, pela vontade das pessoas”, disse à Lusa a coordenadora do ATL e da associação Cova do Mar.

Alexandra Leal, além de fundadora, é a única voluntária do ATL, que conta com 46 inscrições neste ano letivo, mas nunca conseguiu financiamento para ajudar nas despesas diárias, como água, luz e a alimentação.

“Com o novo executivo da Câmara de Almada tivemos recentemente uma reunião e em janeiro tivemos a esperança que desse, mas alertaram-nos que o financiamento de apoio ao movimento associativo não apoia despesas correntes. Só que é nas despesas do dia-a-dia que precisamos de ajuda, para poder abrir a porta todos os dias, mas não há respostas públicas ou privadas”, indicou.

Outra condicionante, segundo a coordenadora, é o ATL localizar-se dentro do bairro clandestino Segundo Torrão.

“Nós fazemos questão de estar à porta das crianças, mas há muitos financiamentos que não apoiam nada que esteja em território ilegal, ou seja, a fábrica teria que sair do bairro e ir para a periferia para receber apoios. Isso não faz sentido, nem é uma opção para nós, daí que, até agora, o nosso apoio seja o crowdfunding”, explicou.

É através do grupo no Facebook “Cova do Mar – Voluntários”, que Alexandra Leal angaria financiamento ou alguns dos bens necessários no momento, como comida, roupa ou material escolar.

“Por exemplo, em janeiro pedimos gorros, cachecóis e luvas e conseguimos atingir para todos. Foi engraçado porque chegaram a vir da Assembleia da República, de uma voluntária que lá trabalha”, avançou.

A brincadeira e a possibilidade de terem algumas atividades extra de forma gratuita, como aulas de dança ou de karaté, são importantes, contudo, esta associação dá todos os dias lanche às crianças e tem uma forte componente educativa.

“Tentei que sejam eles a gerir a fábrica, numa perspetiva de responsabilidade e que daqui a uns anos sejam eles os monitores. Há uma hora definida para o lanche, todos os dias elegemos um capitão e sub-capitão para cuidar da fábrica, há equipas para cuidar dos animais, das roupas e do material escolar. Eles gostam muito e quando chegam perguntam: Xana, há tarefas?”, contou.

Segundo Alexandra Leal, se as famílias tivessem que pagar por estas atividades, “muitas das crianças não podiam vir”.

No ano passado, a Fábrica dos Sonhos entregou uma petição com cerca de 1.300 assinaturas para que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visite o bairro, mas ainda não receberam resposta.

O Segundo Torrão, situado perto da praia de São João, na freguesia da Trafaria, é um bairro clandestino onde vivem mais de três mil pessoas em habitações precárias.