De acordo com as previsões do Eurostat (2019), o número de pessoas com 65 anos ou mais anos na União Europeia amentará 37% entre 2022 e 2050; passando de 21,2% em 2022 para 29,5% em 2050 em percentagem da população total.

Os sistemas de saúde europeus (e não só) terão, portanto, de antecipar as necessidades.

Serão certamente desafios no futuro dos cuidados de saúde:

– formação e retenção de profissionais em quantidade suficiente, incluindo a necessidade de compensar a renovação geracional;

– garantia de profissionais com competências ajustadas à população servida;

– cuidados de qualidade, que sejam sustentáveis e correspondam às exigências de uma sociedade cada vez mais envelhecida.

Apesar do aumento per capita de profissionais na última década (médicos 13,5% e enfermeiros 8,2%), muitos países enfrentam desafios na formação, contratação e retenção de profissionais de saúde, sobretudo de enfermeiros (o maior grupo profissional da saúde).

A pressão gerada nos sistemas pelo envelhecimento da população (com ênfase na cronicidade das doenças e complexidade dos estados de saúde-doença), altos níveis de stress, burnout e insatisfação com as condições de trabalho são algumas das razões apontadas para o abandono das profissões de saúde.

Muitos enfermeiros revelam-se ainda sobrecarregados e desvalorizados, levando a uma baixa satisfação no trabalho e ao desejo de deixar a profissão ou emigrar em busca de melhores condições de trabalho, maior valorização profissional e melhor equilíbrio vida social-vida profissional.

As greves no setor da saúde, o abandono de profissionais para outras carreiras não relacionadas com a saúde, a reforma antecipada e a emigração para países fora da Europa devem ser consideradas bandeiras vermelhas num fenómeno que parece ter vindo para ficar e que pode trazer constrangimentos vários com baixa oferta para uma procura aumentada de cuidados de saúde.

Para enfrentar estes desafios, muitos países europeus estão já a implementar políticas e programas destinados a melhorar a retenção de enfermeiros como: incentivos financeiros e bónus para permanência na profissão por um determinado período de tempo, enquanto outros estão a investir em formação contínua e oportunidades de desenvolvimento profissional visando uma maior realização profissional.

Contando como estratégias para reter profissionais, surgem também a redução da carga de trabalho, a preocupação com o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a promoção da saúde mental e o bem-estar dos enfermeiros.

Chegados aqui, e contando que Portugal não estará isento do agravamento destes mesmos riscos e fenómenos, que já são uma realidade preocupante em muitos dos seus congéneres europeus, é agora o momento de adotar uma política profiláctica para a valorização profissional e social dos enfermeiros – o profissional que cuida da pessoa desde o nascimento até após a declaração da morte.

Assim deixo abaixo os meus desejos para o presente e futuro:

Que sejamos todos uma voz de alerta para a urgência da valorização de uma profissão central nos cuidados de saúde, e que nos próximos anos terá desafios ainda maiores para cuidar de todos.

Que sejamos eficazes a valorizar um recurso que leva anos a construir e é oneroso para os próprios e para as sociedades.

Que consigamos continuar a motivar os jovens a escolherem ser e crescer como enfermeiros.

Que sejamos capazes de garantir que temos quem cuida e quem cuidará de nós.

Que continuemos a ser capazes de ser enfermeiros.