O selénio é um oligoelemento essencial que contribui para a manutenção da saúde cardiovascular, para um sistema imunitário saudável e uma boa função reprodutora. Além disso, protege as células contra moléculas nocivas, conhecidas por radicais livres. Apesar do seu papel no nosso bem-estar, não o consumimos na dose diária recomendada, pois os próprios solos carecem dele.
Catarina Galinha, que dedicou a sua tese de doutoramento, «Selenium Supplementation of Cereal Crops - Different Approaches to Enhancing Selenium Levels in Wheat Cultivars», a este tema, defende que as «estratégias de biofortificação poderão ser uma opção para o aumento dos teores de selénio nas culturas agrícolas e, consequentemente, para o aumento da sua ingestão diária».
Em entrevista, a engenheira biológica explica a sua importância e o porquê da sua escassez nos solos portugueses. «A deficiência em selénio afeta o sistema imunitário e ficamos, por isso, mais predispostos a doenças», adverte. Veja também a galeria de imagens com 5 alimentos que são fonte de selénio.
O que a levou a realizar um estudo sobre a presença de selénio nos solos portugueses nos cereais cultivados nesses solos?
A situação portuguesa não é muito fácil de avaliar devido à informação escassa e à falta de uma investigação consistente sobre o assunto. No entanto, supomos que não deve ser muito diferente de grande parte da Europa, onde a ingestão de selénio tem vindo a reduzir, o que tem sido uma preocupação generalizada já há bastante tempo.
Por isso, considerando a sua essencialidade para a saúde humana e os baixos níveis dele encontrados nos solos portugueses, este trabalho foi desenvolvido para avaliar diferentes metodologias agronómicas a fim de se melhorar os teores de selénio no trigo. Uma vez que o pão e os derivados do trigo representam uma parte considerável das dietas portuguesas, é provável que um aumento do teor de selénio no trigo contribua para um aumento do estado de selénio na população.
O que concluiu nesse estudo?
Que os nossos solos contêm uma quantidade insuficiente de selénio e que é possível o incremento do teor deste nos grãos maduros de trigo através da suplementação, quer ao solo quer foliar. De um modo geral, considera-se que um solo pode ser deficiente para o cultivo de plantas, que satisfaçam as necessidades de selénio de animais e humanos, se contiver menos de 600 microgramas de selénio por cada quilograma de solo (600 μg kg-1). O nosso estudo mostrou que todos os solos agrícolas estudados estavam abaixo deste valor de referência.
Que fatores influenciam o teor de selénio no solo?
São vários. Por exemplo, o material de base a partir do qual os solos são formados, a composição e geoquímica do solo, condições climáticas da região, se é ou não um solo utilizado para o cultivo de culturas agrícolas, o tipo de culturas agrícolas utilizado ou o tipo de práticas agronómicas utilizado.
Em que zona de Portugal os solos apresentam maioes níveis de selénio?
Os solos agrícolas estudados foram os das regiões de Trás-os-Montes, da Beira Alta e do Alto Alentejo. Os que apresentaram teor mais elevado foram os solos da região de Valpaços (225 μg kg-1), seguidos dos da região de Elvas (118 μg kg-1), e, por último, os da região da Guarda (97 μg kg-1).
Veja na página seguinte: Os produtos de agricultura biológica contêm mais selénio?
Qual a diferença entre a percentagem de selénio presente nos solos portugueses e nos do resto do mundo?
Os teores de selénio nos solos são altamente variáveis. A nível mundial, varia entre 100 e 2000 μg kg-1 para a maioria dos solos, mas é mais frequente entre 200 e 400 μg kg-1. Por isso, apenas o solo da região de Trás-os-Montes se encontra dentro desta secção dos mais frequentes. De um modo geral, praticamente toda a Europa apresenta solos com baixos teores de selénio (< 200 μg kg-1).
A agricultura biológica de os produtos provenientes dela contêm mais selénio?
Não necessariamente. Os teores de selénio das culturas agrícolas são diretamente influenciados pelo seu teor nos respetivos solos. Por isso, se o solo for deficiente em selénio, e se nada for adicionado, as culturas agrícolas produzidas serão também elas deficientes em selénio.
Quais os primeiros sinais que tendem a surgir numa pessoa que tem défice de selénio?
A existência de um défice em selénio não causa necessariamente sintomas que sejam óbvios de imediato. A não ser nos casos crónicos de deficiência deste micronutriente, o que é raro e apenas ocorre em regiões muito específicas do planeta, como a China.
Mas, de um modo geral, a deficiência em selénio afeta o sistema imunitário, e ficamos, por isso, mais predispostos a doenças. Alguns sinais desta deficiência poderão ser fadiga, fraqueza muscular, perda de massa muscular, queda de cabelo, descoloração das unhas, infertilidade e/ou problemas cardíacos.
Existem grupos com risco de deficiência de selénio?
Sendo o peixe e a carne algumas das fontes de selénio, as pessoas que não incluam na sua dieta estes alimentos são potencialmente mais predispostas à deficiência deste micronutriente. Mas não significa que tenham necessariamente problemas.
Como podem estas pessoas encontrar alternativas para que tenham um consumo necessário de selénio?
O ideal será consultarem um nutricionista. Mas, por exemplo, a inclusão das castanhas-do-brasil, que são ricas em selénio (em média, duas castanhas-do-brasil fornecem 53 microgramas deste micronutriente) ou de um suplemento alimentar poderá também ser uma opção para complementar as suas dietas.
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Como escolher o suplemento de selénio ideal
«Dada a importância que o selénio tem na saúde, um suplemento alimentar ajuda-nos a atingir a dose diária recomendada de selénio», refere Catarina Galinha. Uma vez que a biodisponibilidade (fração realmente absorvida pelo organismo) do selénio depende fortemente da sua forma química, na hora de escolher o suplemento, a engenheira biológica deixa um conselho.
Prefira as fórmulas com selénio orgânico, como a «levedura enriquecida em selénio, selenometionina ou selenocisteína», recomenda. O selénio na «forma inorgânica (selenito ou selenato) não é tão facilmente assimilável pelo organismo», acrescenta ainda a especialista.
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